Mario Hugo Monken, JB Online
RIO - A violência acabou com um centro de lazer na Zona Norte que era mantido por uma das empresas mais conhecidas do ramo hoteleiro no país.
Trata-se da sede campestre do Nevada Clube Hotéis, que fica na Rua Engenheiro Oscar Costa, em cima da Favela Camarista Méier, no Engenho de Dentro.
O local está fechado há mais de um ano. O motivo: violentas guerras entre traficantes de drogas e milicianos, que espalham terror pela região desde o final de 2006.
Sempre mantivemos uma convivência pacífica com a comunidade até que o clube foi invadido pela milícia, que o transformou em quartel-general. O tráfico retaliou e metralhou o clube. Por medida de segurança dos próprios sócios, tivemos que fechar declarou Lincoln Abrahão Azaro, vice-presidente da empresa.
Conhecido como Pedra Negra e localizado em uma área verde, o clube era formado por um campo de futebol, um bar com um longo pátio para cadeiras e mesas, salões de jogos, além de uma grande piscina. Ficava lotado aos finais de semana, principalmente no verão e tinha uma bela vista da cidade. O Nevada é proprietário da área desde os anos 80. Hoje, pouca coisa restou. Em 2008, segundo Lincoln, em uma nova invasão, foram roubados o telhado, freezers, cabos elétricos, cadeiras, entre outros materiais. As paredes têm marcas de tiros.
Relatos de antigos frequentadores, moradores e policiais confirmam que o clube foi ocupado diversas vezes por bandidos, sejam eles traficantes e milicianos. Disseram que o tráfico se instala no clube durante a noite e o utilizaria como depósito de drogas e armas. Até granadas teriam atirado contra o centro de lazer.
Em 2007, por exemplo, um agente da 26ª DP (Todos os Santos) foi baleado dentro do clube durante uma operação após receberem informes de que traficantes de várias favelas estavam reunidos no local.
Tive informações de que o tráfico ocupava o clube também mas sempre no fim da tarde e a noite. Durante o expediente e com sócios lá, nunca houve problema disse o dirigente do Nevada.
Segundo agentes da 26ª DP, a situação na região se agravou no final de 2006 quando a milícia tentou invadir a Camarista Méier. De acordo com um policial, o grupo paramilitar usou o clube como base mas foi diversas vezes rechaçado a tiros pelos traficantes.
O clima de tensão ainda não acabou. Isto porque os milicianos dominam o vizinho Morro do Outeiro, de onde planejam atacar a qualquer momento o Morro do 18, no bairro próximo de Quintino, recentemente tomado pelo tráfico.
A Polícia Militar informou que esteve no clube na semana passada mas não encontrou vestígios da presença de bandidos. O titular da 26ª DP, delegado Roberto Gomes disse que já recebeu informações de que bandidos ocupam o clube, mas que já há tempo que não tem notícias sobre o assunto.
Mesmo com a guerra, o clube
ainda resistiu durante um tempo mas o número de frequentadores foi definhando. Um grupo que jogava pelada no campo há mais de 20 anos todas as manhãs de sábado, por exemplo, abandonou o local há três anos depois de ver traficantes rondando a área.
A violência aumentou tremendamente ali no em torno. Incêndio de carros de milicianos por parte dos traficantes, mortes de ambos os lados, investidas frequentes da polícia. Tudo isso afastou o público - disse um morador da região. Segundo Lincoln, nos bons tempos, mais de 400 pessoas iam ao clube aos finais de semana.
Um representante da Associação de Moradores no Méier disse que o clube era referência a região, frequentado por muitas famílias, mas há muito tempo não vai ao local.
Nos últimos tempos, sempre que a gente subia lá, pessoas ficavam te olhando. Até político que foi lá recebeu recado do tráfico.
Alguns saudosistas lembram dos campeonatos que eram disputados no clube, bem como as porções de moela e batata-frita que eram consumidas com cerveja, totó, sinuca, azaração.
Centro Social
Lincoln afirmou não ter desistido do clube. Embora considere difícil por causa da segurança, ele disse que ainda vai tentar retomar as atividades e pede o apoio da Prefeitura e do governo estadual.
Disse que já teve a idéia de criar um centro social no local e ofereceu também o espaço para a PM montar um posto de cavalaria. Atualmente, um funcionário do Nevada toma conta do espaço. Fundado em 1962, o Nevada Clube Hotéis conta hoje com apart-hotéis e hotéis na Barra da Tijuca, e nas cidades de Angra dos Reis, Mangaratiba, Guarapari (ES) e Ubatuba (SP).
Segundo Lincoln, o clube vive grave crise e só possui 250 sócios pagantes já chegou a ter 33 mil.
Todas as empresas deste ramo estão com os pires na mão.