João Pequeno, JB Online
RIO - As obras do projeto Ecolimites, que preveem um muro de 3.200 metros em torno da Rocinha, começaram nesta quinta-feira em meio a polêmica entre a associação local de moradores, que tenta convencer o governador Sérgio Cabral a modificar o plano, e as outras dos bairro vizinhos São Conrado e Alto da Gávea, favoráveis à manutenção da obra.
A criação de um parque ecológico foi elogiada pelo presidente da UPPMR (União Pró-Melhoramentos da Rocinha), Antonio Ferreira de Mello, o Xaolim, da mesma forma que a realocação de 415 famílias que moram em áreas de risco próximas a áreas verdes 115 serão transferidas a outras casas na própria favela e 300, indenizadas.
O muro, entretanto, voltou a ser criticado e tachado de apartheid pelo presidente da associação que, há duas semanas, realizou um plebiscito simbólico entre os moradores da favela. O resultado foi amplamente desfavorável ao projeto, com 1.056 votos contrários, apenas 50 a favor e cinco nulos.
Já a Amasco (Associação de Amigos e Moradores de São Conrado), que há cinco anos começou a promover iniciativas pela urbanização da Rocinha, mostrou-se otimista com o projeto e cética com o resultado do plebiscito, comparado a uma eleição em Cuba por seu presidente, José Britz.
Com ou sem consenso, a construtora Midas Engenharia começou ontem um dia após vencer a licitação da Emop (Empresa de Obras Públicas) a instalar os conteineres que servirão de base para o canteiro das obras, no valor total de R$ 21.128.089,95.
Além do parque ecológico e do muro, a empresa vai construir as casas para onde serão removidas 115 famílias, o que foi elogiado pelo presidente da UPPMR.
Eles passarão de barracos de madeira, sem saneamento e sem água encanada, só a que vem da mata, para pequenos apartamentos de 40 metros quadrados; é claro que isso é bom comemora Xaolim, que continua querendo derrubar o muro, e para isso, tenta audiência com o governador Sérgio Cabral.
Ainda não marcamos a data, mas será em breve afirmou.
Xaolim disse que a UPPMR vai apresentar um projeto alternativo ao governo do estado, com um anel viário em torno da Rocinha que delimitaria sua área sem segregá-la , com um plano inclinado nos pontos mais íngremes, como a Macega e a Roupa Suja, sobre o Túnel Zuzu Angel.
Os muros separam as pessoas; além disso, o pobre tem direito de acesso à mata defendeu Xaolim, que ainda cita o turismo como fator contra a barreira de contenção.
A Rocinha recebe mais de 500 turistas todos os dias. Em vez de um muro que barraria sua passagem, queremos ecotrilhas , que poderiam ser usadas inclusive pela classe média alta desde o Alto da Gávea até São Conrado acrescentou, sem se posicionar sobre a questão da presença de traficantes.
Ele elogiou, no entanto, barreiras que sejam construídas sobre áreas com risco de desabamento porque acabam servindo como contenção .
José Britz, presidente da Amasco, nega que o plebiscito realizado pela UPPMR tenha legitimidade, mesmo simbólica, como representação da vontade dos moradores.
A Rocinha tem estimados 80 mil moradores. Uma votação com pouco mais de mil não serve como amostragem. Além disso, pareceu uma eleição em Cuba, onde todo o mundo vota a favor ironizou.
Segundo Luiz Fernando Penna, presidente da Associação dos Moradores do Alto da Gávea, estão transformando em política uma questão política.
Elementos do MST estão assessorando as pessoas da Rocinha para transformar isso numa polêmica e num confronto entre ricos e pobres. Aliás, é muito difícil você distinguir rico de pobre, uma vez que há pessoas de alto poder aquisitivo lá dentro, capazes de erguer prédios de dez andares.
Além disso, Britz ressaltou que existem 'mil' associações de moradores na Rocinha, a do Xaolim (UPPMR) é só uma delas . Xaolim nega que tenha havido pressão sobre os moradores na votação.
A Amasco argumenta ainda que qualquer consulta a avanços sobre a mata deveria ouvir os moradores de São Conrado, com base em um decreto municipal.
As áreas verdes no entorno da Rocinha, que não fazem parte do Parque Nacional da Floresta da Tijuca, pertencem oficialmente ao bairro de São Conrado, segundo o Decreto nº6011/86.
Estamos lutando, então, contra o desmatamento de São Conrado. E, pela urbanização da Rocinha, já que a licitação partiu de um projeto do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil) elaborado com participação comunidade, a partir de reivindicações nossas.
Penna, do Alto da Gávea, também declara que o muro não traria nenhuma vantagem em termos de segurança para seu bairro. A premissa é ambiental.
O que se quer é separar um bairro ilegal de uma floresta que é propriedade da União e tombada pelo patrimônio municipal, estadual e federal. Se não houver limite, eles vão invadindo eternamente.