Eduardo Tavares e Ana Paula Verly, JB Online
RIO - O início da operação Choque de Ordem, deflagrada pela prefeitura, às 7h da manhã desta segunda-feira, atingiu em cheio os invasores na Zona Oeste. Uma ação no Recreio terminou com 34 imóveis demolidos, na Avenida Gilka Machado, com Estrada do Pontal.
Uma cobertura com piscina, uma igreja evangélica, um depósito de bebidas, um salão de festas, 18 apartamentos e 12 lojas, entre elas salões de beleza, chaveiros e lanchonetes, foram demolidos.
O maior restaurante da favela Terreirão, o Point do Pontal, um prédio construído clandestinamente, no número 7.667, da Avenida Gilka Machado, com quatro andares, também foi colocado abaixo por tratores. A cobertura do prédio, contava com piscina, churrasqueira e hidromassagem. O restaurante pertencia a Marco Aurélio França Moreira, conhecido como Marcão, acusado de envolvimento com milícias e que atuava como líder comunitário em Nova Gardênia, Jacarepaguá. Segundo os locatários que perderam seu negócio na demolição de ontem, outro suposto proprietário é conhecido como Carlinhos do gelo. Os alugueis dos apartamentos custavam cerca de R$ 300, o das lojas variavam de R$ 600 a R$ 2.500. Marcão negou o envolvimento com milícias e afirmou ter feito campanha para o prefeito Eduardo Paes.
Durante a campanha eleitoral, ele veio pedir voto no Recreio. Conversou com os comerciantes e disse que depois de eleito, tentaria legalizar as construções que já estavam prontas. Agora que tomou posse derrubou o prédio disse Marco Aurélio. Fui acordado pelo meus funcionários do restaurante que me informaram sobre a demolição. Há três anos e meio, sou proprietário do imóvel. Comprei uma posse fiz meu restaurante com muito trabalho. Não tive informação sobre a ação e não deram tempo para retirarmos as coisas de dentro.
Segundo o subsecretário de Controle Urbano, Alex da Costa, que acompanhou toda a ação no Recreio, a prefeitura agiu dentro da lei.
Marcão junto com outro suposto proprietário do terreno fez uma sociedade para construir em espaço público, a estrutura que foi demolida. Ali, não havia respeito ao gabarito municipal, que determina somente prédios de três andares, não existia alvará para funcionamento do restaurante, não havia licença sanitária, entre outras ilegalidades detalhou o subsecretário.
Segundo revelou Alex da Costa, no mínimo 15 dias serão necessários para a retirada do entulho. O subsecretário confirmou que o choque urbano continuará por tempo indeterminado na Barra.
Com certeza existem outras áreas na mesma situação dos imóveis derrubados. A prefeitura está levantado os dados para executar demolições como estas que ocorreram na Avenida Gilka Machado acrescentou o subsecretário.
Participaram da ação, cerca de 300 agentes de vários órgãos estaduais e municipais, entre eles, Polícia Civil, Polícia Militar, Guarda Municipal, Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), Defesa Civil, Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio), Secretaria Municipal de Obras e da Secretaria Especial de Ordem Pública, que coordenou a operação.
Funcionários surpreendidos
O choque de ordem urbana pegou de surpresa locatários que alugavam os imóveis demolidos pela prefeitura. Garantindo que não tinham o conhecimento de que pagavam por áreas invadidas, eles começaram a trabalhar, não como de costume, mas correndo pela Avenida Gilka Machado para retirar seus pertences de dentro das lojas e empilhá-los do outro lado da calçada.
A funcionária responsável pela limpeza me ligou avisando sobre a demolição. Eu pagava um aluguel de R$ 2.500 para manter meu salão de beleza. Os aparelhos estão jogados na rua. Não tenho noção do que vou fazer, o proprietário do prédio sumiu. Eu não sabia que o imóvel era irregular. Ele se chama Carlos e quando decidi alugar o salão, ele me apresentou uma documentação de usucapião lamentou Michelle Castro, 21 anos, dona do Salão Lion, que funcionava há um ano e foi demolido.
Outros tiveram ainda menos sorte e não conseguiram retirar todos os pertences do estabelecimento que tocavam.
Minhas duas motos foram apreendidas dentro da loja. Elas estavam paradas com o documento atrasado e não estavam rodando. Colocaram elas em cima de um caminhão e levaram-nas para um depósito não revelado. Existe alguma coisa ilegal em se manter estacionado um veículo no meu nome mas com documentação atrasada? questionou Hélio Leite, 38 anos, dono do Chaveiro Pontal, que também foi derrubado pela prefeitura.
Ele pagava, há três anos, R$ 600 de aluguel para manter seu negócio.
Era um ótimo ponto, próximo da praia e de um hotel. Tinha dois funcionários que agora estão desempregados. Vou procurar outro local para montar meu chaveiro e ganhar dinheiro para sustentar minha família explicou Hélio.
Prefeito pede colaboração
Além do Recreio, a ação foi realizada em Copacabana, Ipanema, Maracanã, Vila Isabel e Tijuca. O prazo para 'reeducar' o carioca e devolver a legalidade ao espaço público foi anunciado pelo secretário municipal de Ordem Pública, Rodrigo Bethlem. Do estádio do Maracanã, partiram equipes com cerca de 500 homens no total. Ao passar a Guarda Municipal em revista, o prefeito Eduardo Paes endossou a meta com um discurso de educador.
É um conjunto de ações que vai devolver a legalidade à cidade. As pessoa têm de aprender que não podem fazer o que quiserem no espaço público. E a prefeitura vai ser um agente cumpridor, fazendo com que as pessoas cumpram as regras de convivência da cidade. É uma operação para quatro anos. É uma postura de governo e isso é simplesmente cumprir a lei prometeu.
Bethlem anunciou melhorias estruturais na Guarda e convocou a população a colaborar.
Estamos melhorando a estrutura dos órgãos de fiscalização e vamos reeducar os cariocas no que diz respeito às posturas municipais. Contamos também com a participação da população, para que não jogue mais lixo nas ruas, não dê esmolas e não estacionem nas calçadas pediu o secretário, que acompanhou a operação na Zona Sul.
Barracas de praia apreendidas
Na Praia de Copacabana, em frente à Rua Santa Clara, os fiscais apreenderam a barraca de um escultor de areia. Na Rua Barão da Torre, próximo ao Morro do Cantagalo, em Ipanema, os agentes apreenderam três caminhões que serviam de depósito para material de reciclagem e cadeiras e barracas de praia alugadas por ambulantes. O local vai receber uma estação do Metrô, que se comprometeu a construir um depósito para abrigar o material, de moradores do Cantagalo.
Engarrafamento e discussão
Na Avenida Radial Oeste, sentido Zona Norte, fiscais do Detran montaram uma operação para combater a inadimplência ao IPVA, o que causou engarrafamento entre o Maracanã e o Cefet. O Choque de Ordem também limpou o canteiro central da via, entre o Morro da Mangueira e o Maracanã, onde Cristiane Rosa, 31 anos, e meia dúzia de cães dividiam o espaço entre carros abandonados, peças de desmanche, mato alto, lixo, poças, buracos e dejetos. Quatro carros foram rebocados e a moradora de rua voltou para casa com o burro-sem-rabo de material de reciclagem.
Em frente à Uerj, os agentes recolheram uma barraca colocada na calçada de um ponto de táxi, o que provocou discussão com taxistas. Em frente ao Maracanã, Natália Araújo, 20 anos, foi recolhida para um centro de recepção da prefeitura.