Ana Paula Verly, JB Online
RIO DE JANEIRO - Ironia do destino, a palavra gari nasceu do sobrenome de Aleixo Gary, um francês. Depois de visitar a Europa, cujo asseio envergonhava a sede do Império, Dom Pedro II resolveu trazer o especialista ao Rio com a tarefa de cuidar da limpeza urbana.
Em vez de jogar os dejetos pela janela, diretamente nas vias públicas, com a chegada de Gary o carioca passou a ter, a partir de 1876, coleta e despejo de lixo em local apropriado.
Contada em ilustrações, fotos e objetos da época, a curiosidade faz parte do repertório do guia e historiador ngelo José Serafim, da Casa de Banho Dom João VI ou Museu da Limpeza Urbana, no Caju.
As casas não tinham banheiro, as ruas eram sujas e a cidade cheirava mal. Foi com Dom Pedro II que surgiu a limpeza urbana explicava o guia na última quarta a uma turma do Ensino Fundamental da rede municipal.
Inaugurado em 1996 pela Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), o museu funciona na casa onde Dom João VI tomou o primeiro banho da vida. Tombado em 1938 pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o imóvel abriga peças do início do século 20, como as carruagens pioneiras no transporte de lixo e funcionários de limpeza, o primeiro modelo de carro-pipa e uniformes dos garis do então Departamento de Limpeza Urbana (DLU) vinculado à Prefeitura do Distrito Federal (PDF).
Do acervo também fazem parte fotos da época em que o bairro do Caju tinha o status de balneário, com praia e água limpas, e reproduções de retratos da família real em uma árvore genealógica completa.
A importância do espaço não é só para cidade, mas para o bairro do Caju, que não tem outro ponto cultural a não ser o Museu Casa de Banho de Dom João VI enfatiza a coordenadora, Vera Regina Paiva.
Referência cultural do Caju
Mais que preservar a história da cidade, o museu tem um papel social. Por meio da programação, moradores das comunidades vizinhas têm acesso a teatro, cultura e a Sala de Leitura, um espaço com 4.200 livros.
Temos vasta informação para atender toda a comunidade. Além disso, as atividades chamam atenção para a importância de manter a cidade limpa ressalta a coordenadora.
Como fazia a revista da PDF para ensinar à população hábitos que colaborassem para a limpeza urbana, no início do século passado, o museu expõe de forma didática, em painéis, informações sobre os problemas que o excesso de lixo acarreta. Por dia, a cidade produz 10 mil toneladas de dejetos, despejados nos aterros sanitários de Gericinó e Gramacho, com capacidade saturada.
A maior preocupação da Comlurb é a construção do aterro de Paciência, para evitar um desastre ecológico na Baía de Guanabara alertou o agente administrativo e palestrante da Comlurb, Gilberto Cesar de Alencar, ao fim da visita guiada de ontem.
Como 40% do total de lixo é retirado de logradouros públicos, os guias ensinam hábitos para evitar o consumo desnecessário de materiais como plástico e vidro, que levam 100 e 4 mil anos para se deteriorar.
Em média, cada um de nós produz um quilo de lixo por dia. Quanto mais rico, mas lixo a pessoa produz. Para que embrulhar uma coisa que compramos para nós mesmos? faz pensar.