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André Monteiro: 'UPP foi projeto eleitoreiro'

Candidato do PRTB quer reformular polícia pacificadora e comandar apoio das Forças Armadas

José Peres -
André Monteiro, PRTB
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Há 22 anos, o candidato ao governo do Rio de Janeiro André Monteiro (PRTB) faz parte do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Ele participou da primeira equipe que adentrou o Complexo do Alemão na icônica retomada daquele território, há oito anos. Monteiro é co-autor do livro “A retomada do Complexo do Alemão”. Segundo ele, há negociações para que a obra vire uma série de TV internacional. Essa é a 3ª eleição de que Monteiro participa. Ele já tentou ser vereador (2012) e deputado estadual (2016). A entrevista para o JB foi feita na sede do jornal, no Centro do Rio, a pedido do candidato. Sua sugestão de passeio pela cidade: Quinta da Boa Vista. “É o bairro onde moro. Eu saía da escola e ia, aos sábados, ao zoológico, ao museu e, depois, ia comer um cachorro-quente. Agora, não tem mais o museu por falta de atenção dos nossos governos”, lamentou.

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André Monteiro, PRTB (Foto: José Peres)

O senhor é policial militar e integra o Bope há 23 anos. O que o levou a ser candidato?

Não sou político. Fui convidado pelo partido a ingressar na política para ser candidato a governador. Confesso que, no primeiro momento, não quis muito.

Mas essa é sua terceira eleição...

Sim, mas eu não queria mais me envolver com política. Quando me fizeram o convite, acabei aceitando por conta desse momento que estamos vivendo, por conta dessa corrupção desenfreada que se instalou em todas as áreas do governo. Foi essa corrupção que levou o estado para essa situação em que se encontra atualmente.

Eleito, qual sua primeira ação?

Vou auditar todas as secretarias, todos os contratos. Quero saber para onde foi o dinheiro do Rio de Janeiro. O estado tem mais de R$ 50 bilhões em ativos para receber. Temos altos impostos e não conseguimos dar uma vida digna para a população. O que falta é política de estado. Cada governo chega e impõe uma política de acordo com a sua conveniência. É uma política que pensa nas próximas eleições e não nas próximas gerações.

Quais seus planos para a segurança pública?

Precisamos ter policiais nas ruas para dar garantia de ir e vir à população. O déficit hoje de efetivo nas policias Civil e Militar é em torno de 40%. Tivemos governos que não contrataram um policial.

E o dinheiro para contratar esses policiais?

Com o estado administrado de forma séria, o dinheiro aparece porque o problema é corrupção. Por exemplo, o Detran é uma máfia. Está dentro da Casa Civil. É um cofre que o governo coloca debaixo do braço e usa como quer. Pega o Detran e coloca na Secretaria de Segurança Pública que vai ter dinheiro para a segurança. O Rio tem dinheiro, mas é claro que vamos precisar do governo federal. Vamos ter que renegociar a nossa dívida porque o plano de recuperação fiscal não trouxe muitos benefícios para o Rio, inclusive com a Cedae sendo dada como garantia de empréstimo.

Quais seus planos para a Cedae?

Não pode ser vendida, é superavitária, é patrimônio do estado.

A retomada do complexo do Alemão foi um marco com a implantação das UPPs. De repente, não funciona mais. O que houve?

Participei da primeira equipe que adentrou o Complexo do Alemão para a retomada daquele território. De fato, recuperar esse território com as UPPs foi um marco, mas acabamos vendo que foi um projeto eleitoreiro. Somente a polícia ficou no projeto. Nós fizemos a nossa parte que foi fazer a pacificação, mas o governo não entrou com as outras coisas que seriam os serviços essenciais, esporte, lazer, cultura.

Uma vez governador, o senhor acaba com as UPPs?

Algumas, pode se pensar em reformular, como a Tuiuti, onde moro. Ali, a gente conseguiu manter uma relação com a comunidade. Tem policial, por exemplo, que dá aula de futebol para as crianças. Entendo que se não investir nas comunidades, não tratar essas pessoas com carinho e atenção, dar o que é necessário para que se formem cidadãos de bem, o problema vai persistir.

Eleito, vai pedir a permanência da intervenção militar?

Não. Vamos pedir o apoio das Forças Armadas, mas sob o comando do governador. Precisamos de todo apoio. Nosso objetivo é não permitir que os fuzis entrem no Rio. Para isso, temos que montar um cinturão de policiamento em torno das fronteiras do estado. Pergunto: por que ao longo dos anos a segurança foi deixada de lado? Será que os governos anteriores tinham mesmo a intenção de controlar a criminalidade? Vamos combater o roubo de carga, mas quem recebe essa carga? Vamos combater o tráfico de drogas, mas o que fazer com os usuários eventuais, que não são os dependentes químicos? Vamos tratá-los como coitadinhos? Eles sabem o que fazem, estão comprando drogas, financiando o tráfico, as armas. Cada um que consome droga é responsável pelas mortes no Rio de Janeiro com as amas compradas com o dinheiro dele. Temos que parar com hipocrisia. Foi pego comprando droga? Vai responder. Temos que mexer na lei, mexer no código. Se continuarmos hipócritas, continuamos no mar de lama, e aí, só nos restará ir embora.