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Portela desfila no chão para Clara Nunes

Paraíso do Tuiuti e Ilha do Governador se destacam pela irreverência

Tomaz Silva/Agência Brasil -
Desfile da Portela no Carnaval 2019 no Rio de Janeiro
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Não foi apenas a Mangueira que foi Mangueira na segunda noite de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial. A Portela também fez um desfile à altura de sua tradição, na homenagem a uma de suas grandes estrelas, a cantora Clara Nunes. Em vez de contar a biografia da cantora, a Portela escolheu mostrar como foi o encontro de Clara com Madureira e a azul e branco, explorando sua brasilidade, sua formação religiosa, sua infância no interior e sua transformação no subúrbio do Rio.

A comissão de Frente, coreografada por Carlinhos de Jesus, trouxe as Guerreiras de Iansã. O coreógrafo comemorou que tudo saiu como planejado: "A ideia era homenagear a mulher brasileira por meio da figura da Clara Nunes, que foi uma das pioneiras a bater no peito e assumir uma série de posicionamentos. E isso foi muito importante, porque a Clara tem essa voz".

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Desfile da Portela no Carnaval 2019 no Rio de Janeiro (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

O desfile teve outros elementos de religiões de matriz africana, ao mesmo tempo em que carros sobre a fé católica trouxeram igrejas barrocas e a imagem de Nossa Senhora Aparecida. No abre-alas, a icônica águia da Portela veio neste ano com asas reluzentes, voando sobre outras aves da fauna brasileira.

O desfile também falou da criatividade do povo brasileiro e contou, em um abre-alas, a história de um comerciante de Madureira que mandou decorar um coreto do bairro como se fosse a Torre Eiffel. A pintora Tarsila do Amaral testemunhou a cena e a eternizou no quadro Carnaval em Madureira, considerada uma importante obra do modernismo brasileiro.

Para o presidente do Conselho Deliberativo da escola, Fábio Pavão, a Portela foi iluminada por sua estrela. "A Clara Nunes iluminou a escola, iluminou seus componentes e todos passaram com muita garra. Agora é esperar o resultado", disse. Segundo ele, problemas como a dificuldade de tirar o abre alas da dispersão não afetaram o desfile: "A gente foi no braço. A Portela é isso".

Tuiuti faz crítica

Ao desfilar na Avenida Marquês de Sapucaí com enredo relacionado ao Ceará, a Paraíso do Tuiuti contou a história do bode Ioiô, que foi eleito vereador em Fortaleza, e mostrou o enredo "O salvador da pátria". Como no ano passado, o carnavalesco Jack Vasconcelos fez um enredo crítico, agora à política.

O desfile levantou o público. Tia Sandra, coordenadora da ala de baianas, revelou que foi um ano difícil para as componentes por causa das dificuldades financeiras. "Este ano foi pedreira, muito difícil. Um ano complicado para todo mundo e, claro, para as baianas. Todo mundo sem dinheiro. Mas a gente foi levando, tentando fazer o nosso melhor, é nosso carnaval, estão aí as Mães do Alagadiço", disse Tia Sandra referindo-se ao nome das fantasias das baianas no enredo.

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O casal de mestre-sala e porta-bandeira Marlon Lamar e Lucinha Nobre representou a águia da Portela e Clara Nunes (Foto: Roberto Vazquez/AE)

Com irreverência e alegorias coloridas, a União da Ilha entrou na avenida para fazer uma homenagem a dois autores brasileiros que nasceram no Ceará: Rachel de Queiroz e José de Alencar. O enredo A Peleja Poética entre Rachel e Alencar no Avarandado do Céu, do carnavalesco Severo Luzardo Filho, empolgou o público com um samba leve que ajudou os componentes da evolução da escola.

São Clemente irreverente

Consagrada por suas críticas sociais e bom humor, a São Clemente foi a primeira a desfilar ontem (4). A escola reviveu um samba de 1990 em que criticava os rumos do carnaval carioca, cheio de famosos, ingressos caros e efeitos especiais. "Virou Hollywood", ironiza o samba, que criticava também a falta de espaço para o povo participar da festa.

A comissão de frente da São Clemente trouxe os cartolas do samba definindo o futuro do carnaval em uma virada de mesa, referência que já tinha aparecido no desfile da Grande Rio. O tema foi bem explorado, com fantasias e alegorias compreensíveis, mas, sem luxo e bastante simplória, e ainda afetada por uma certa correria, dificilmente a escola retornará no Desfile das Campeãs, que vai reunir no próximo sábado as seis escolas mais bem colocadas.

A Mocidade Independente de Padre Miguel encerrou os desfiles com o enredo "Eu sou o tempo, tempo é vida, desenvolvido pelo carnavalesco Alexandre Louzada. As características que marcam a escola e o próprio carnavalesco foram mantidas. A Mocidade levou para a avenida alegorias gigantes e cheias de efeitos, usando carros muito coloridos e com detalhes que, aproveitando luz do dia, pudessem refletir o sol. Sem falar na bateria, que como sempre mostrou a cadência que lhe difere de todas as demais. (Com Agência Brasil e Estadão Conteúdo)

Roberto Vazquez/AE - O casal de mestre-sala e porta-bandeira Marlon Lamar e Lucinha Nobre representou a águia da Portela e Clara Nunes