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Famílias se juntam à multidão para festejar título do Flamengo no RJ
Por JB RIO
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Publicado em 30/11/2025 às 17:36
Alterado em 30/11/2025 às 22:01
A Rua Primeiro de Março ficou lotada Foto: divulgação/Libertadores
Centenas de milhares de torcedores do Flamengo se reuniram no Centro do Rio, neste domingo (30), para mostrar ao time carioca o tamanho da importância da vitória na Copa Libertadores da América, que aconteceu nesse sábado (29).
Do alto de um caminhão aberto do Corpo de Bombeiros, os jogadores comemoraram com parte da “Nação”, como a torcida do Flamengo se autointitula, o sucesso obtido no Estádio Monumental de Lima, no Peru.
A multidão que enfrentou horas de espera sob o sol e lotou a Rua Primeiro de Março e a Avenida Presidente Antônio Carlos, duas das principais vias do centro da cidade, mostrou o poder de mobilização pelo futebol.
Repórteres da Agência Brasil conversaram com torcedores sobre a motivação e coesão forjadas pelo esporte, que fizeram pessoas acordarem cedo e se deslocarem de longe para acompanhar a celebração a 5,1 mil quilômetros do local da partida.
Deixa o P9?? no comando! #quetorcidaéessa pic.twitter.com/vGb219OCSM
— FL4MENGO (@Flamengo) November 30, 2025
Vitória dupla
O casal Eduardo Ferreira Henrique e Valéria Nunes Domingos contou que a celebração de um título dentro de campo é também uma forma de motivação para enfrentar as dores do cotidiano. No caso deles, que moram no Cosme Velho, bairro da zona sul carioca, o fim de semana é de comemoração dupla. No dia do jogo, veio uma ótima notícia: “Ontem, a gente teve duas vitórias. Minha esposa estava com suspeita de câncer, deu resultado negativo; e a vitória do Mengão. Foi um dia maravilhoso, sensacional! Comemoração dupla”, vibrou Eduardo.
Para Valéria, vitórias como a do Flamengo são motivação para manter um sorriso constante na vida. O casal também exalta a união que o futebol proporciona: “Na hora da euforia, todo mundo se abraça, todo mundo demonstra felicidade. Esse negócio de violência já foi do passado, agora a galera toda se une, todo mundo junto”, acredita Eduardo.
Família
Se Eduardo e Valéria saíram de um bairro das redondezas, teve gente que chegou de bem mais longe. Foi o caso de Andressa Vitória, que mora em São Gonçalo, município na região metropolitana do Rio, a cerca de 30 quilômetros de distância, quase duas horas de deslocamento.
Andressa foi acompanhada da família e chegou por volta das 9h, mais de três horas antes de os atletas passarem pelo local. Ao lado da sogra, Rosane Rodrigues, ela disse à reportagem que a emoção com a vitória da véspera é um alívio para a vida pessoal. “Ainda mais para quem tem uma crise de ansiedade”, revelou.
Ela também enxerga no futebol uma forma de unir as pessoas ao ponto de, para ela, formarem uma família. “Se você estiver vendo um jogo no bar, parece que todo mundo se conhece, começa a trocar assunto sobre isso. Você acaba fazendo uma amizade porque sempre vê um jogo naquele lugar, acaba se tornando uma família”, contou.
Vida mais leve
O torcedor Eusebio Carlos Andre mora em Resende, cidade no sul do estado, a 170 quilômetros do Rio. Otimista, ele tinha se programado para estar na capital fluminense neste fim de semana e participar de uma então eventual comemoração.
Para ele, as alegrias no futebol ajudam a deixar a vida mais leve. “O Flamengo ganhando deixa o pai de família feliz, todo mundo feliz. O cara feliz no trabalho, feliz no amor, feliz com o filho”, disse.
Ele ressalta também o que considera ser o lado democrático do futebol, em todas as torcidas, independentemente de clube. “Todas as torcidas conseguem reunir o pobre com o rico, o cara que ganha R$ 50 mil junto com o que ganha R$ 80 por dia. O futebol une tudo, todas as raças e etnias”, declarou.
Fenômeno de massa
As paixões e a coesão social causadas pelo futebol já foram tema de inúmeros estudos acadêmicos. Um deles é o do professor aposentado Mauricio Murad, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
No artigo "Futebol no Brasil: reflexões sociológicas", o também doutor em sociologia do esporte pela Universidade do Porto, de Portugal, afirma que o futebol é um dos maiores eventos da cultura de massa no Brasil. “Mobiliza paixões coletivas, expressa os fundamentos antropológicos de nossa formação e representa o nosso sistema simbólico, como poucos acontecimentos da estrutura social”, escreveu.
Murad considera que “a materialidade maior do futebol não se restringe ao esporte profissional”. Para ele, o valor simbólico do futebol transborda para toda a vida social.
“O futebol é o mais significativo fenômeno da cultura das multidões no Brasil, estimulando corações e mentes, em regiões diversas, em classes sociais distintas, em diferentes faixas etárias, níveis de escolaridade e relações de gênero”.
O professor ressalta que esse efeito supera até o Carnaval, por se espalhar por todo o país e se manifestar o ano interior. “Costuma se dizer que o reinado do Rei Momo dura quatro dias e que o reinado do Rei Pelé dura o ano todo”.
Paixão como herança
O casal Maurício Braz e Flávia Torres saiu de Magé, município da região metropolitana, para acompanhar a comemoração. Eles levaram para festa um dos rubro-negros mais novos por lá: João Vicente, de apenas 9 meses.
Com o bebê do colo, o pai explicou com orgulho como a tradição de torcer para o clube passa de geração em geração. “É algo que passa de pai para filho. Igual aqui, essa camisa eu guardo desde novembro de 1995”, diz ele enquanto aponta para a blusa vermelha e preta no corpo do bebê flamenguista. “Estou passando para ele aqui hoje com o tetra da Libertadores”, disse.
O célebre sambista João Nogueira já dizia: “quando o Mengo perde eu não quero almoçar, eu não quero jantar”.
Mas neste fim de semana, a "Nação" almoçou, jantou e dormiu feliz.
(com Bruno de Freitas Moura e Marcelo Brandão - Agência Brasil)