RIO
Médicos foram executados por engano, aponta principal linha de investigação
Por Gabriel Mansur
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Publicado em 05/10/2023 às 20:51
Alterado em 06/10/2023 às 15:25
À esquerda, Taillon; à direita, o médico Perseu Ribeiro Almeida Foto: Reprodução
A Polícia Civil do Rio de Janeiro suspeita que os três médicos assassinados em emboscada na orla da Barra da Tijuca, na madrugada desta quinta-feira (5), foram executados 'por engano'.
Inicialmente, levantou-se a suspeita de que o alvo poderia ser o irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP), o ortopedista Diego Ralf Bomfim, como uma forma de atingi-la. No entanto, um áudio interceptado pela PCERJ sugere que os suspeitos do crime, na verdade, foram alertados sobre a presença de Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, filho de um líder da milícia, no quiosque onde tudo aconteceu.
Segundo essa linha de investigação, um dos três ortopedistas mortos, Perseu Ribeiro Almeida, foi confundido com o miliciano Taillon por conta de algumas características físicas, como o sobrepeso, a barba grande e a careca. Perseu é quem se deixa fotografar com a camisa do Bahia. Ele morreu na hora.
Taiilon integra uma milícia que está há meses em guerra com traficantes pelo controle de regiões da Zona Oeste. Além disso, trata-se da mesma avenida onde Taillon tem um imóvel, a menos de um quilômetro do quiosque.
Na gravação telefônica, interceptada pela força-tarefa da Polícia Civil que investiga a guerra na região, um homem diz: "Acho que é Posto 2, viado"., seguido de uma resposta que não é possível compreender. Os investigadores afirmam que a voz seria do traficante Juan Breno Malta, o BMW, braço-direito de Philip Motta, o Lesk.
Conforme apuração de Leslie Leitão e Felipe Freire, Lesk era um miliciano da Gardênia Azul que migrou para o Comando Vermelho durante a tomada da região pelo tráfico de drogas. BMW teria recebido a informação de que Taillon estava no Quiosque do Naná, onde ocorreram os homicídios, e, na gravação, estava tentando indicar ao comparsa em que altura da Avenida Lúcio Costa fica o bar.
Além da confusão física, os assassinos teriam ido ao "quiosque errado" para executar as vítimas. Isso porque, segundo fontes da polícia do Rio, há outro local com o mesmo nome, Naná, na orla da Barra da Tijuca, que costuma ser frequentado pelo grupo de Barbosa. O informante disse aos assassinos que o quiosque ficava no Posto 2.
Mas o Quiosque do Naná, onde os médicos foram assassinados, fica entre o Posto 3 e o Posto 4, em frente ao Hotel Windsor, onde os médicos estavam hospedados para um congresso internacional de ortopedia.
O carro utilizado no crime, um Fiat Pulse da cor branca, também já foi rastreado e os policiais descobriram que ele foi parar na Cidade de Deus, uma comunidade dominada pelo tráfico do Comando Vermelho, na Zona Oeste, a mesma onde Taillon e seu pai têm domínio, o que dá mais um forte indício de que a tragédia foi fruto de um equívoco.
Improviso
Os investigadores também acreditam que o crime não teve um planejamento prévio, e que os criminosos receberam uma informação dando a localização da suposta vítima, e decidiram partir para a empreitada na mesma hora.
Isso explicaria, segundo fontes ouvidas pela TV Globo, um dos assassinos estar vestindo bermuda, traje incomum em casos de execuções feitas com planejamento. Os outros criminosos estavam com camisas e calças escuras, mas não cobriram os rostos.
Por Diego Ralf Bomfim, irmão da deputada Sâmia Bomfim, estar entre as vítimas, o ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou que a Polícia Federal acompanhe a investigação. Dino, no entanto, diz que não vê motivos para federalizar o caso.
Quem é Taillon?
Taillon é filho de Dalmir Pereira Barbosa, apontado como um dos principais chefes de uma milícia que atua na Zona Oeste e que vive em guerra com a quadrilha de Lesk. Ele foi preso em dezembro de 2020, em uma operação comandada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público fluminense. Em março deste ano, ele progrediu para prisão domiciliar e, em setembro, obteve liberdade condicional.
Segundo fontes ligadas à investigação, Taillon já vem tomando mais cuidado por onde anda, inclusive usando escolta, pois tem conhecimento de que querem pegá-lo. Os investigadores dizem que ele sabe que está jurado de morte por rivais do crime organizado.
Em 8 de dezembro de 2020, o MPRJ deflagrou a Operação Sturm, a fim de cumprir nove mandados de prisão e 14 de busca e apreensão contra milicianos que atuavam na região de Rio das Pedras e Muzema. O líder do grupo criminoso era exatamente Taillon, filho de Dalmir Pereira Barbosa, uma das principais lideranças da organização e denunciado anteriormente na Operação Intocáveis II.
Dalmir Barbosa foi citado na CPI das Milícias, em 2008, e expulso da polícia naquele ano. Ele já estava preso no dia da Operação Sturm – foi justamente devido à sua prisão que Taillon assumiu o comando do grupo.
Em junho de 2022, Taillon foi condenado a oito anos e quatro meses de prisão. Conforme a decisão que concedeu liberdade condicional ao miliciano, no mês passado, ele tem de comparecer ao juízo a cada três meses e deve voltar para casa no máximo às 23h, sem autorização para sair durante a madrugada.
A Operação Intocáveis, da qual o pai de Taillon foi um dos alvos, mirou principalmente o ex-policial militar Adriano da Nóbrega, que morreu em confronto com policiais na Bahia, no início de 2020.