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"Essa chama que o ódio não apaga": 50 anos de Heróis da liberdade

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Na sexta-feira (4/10), foram lembrados os 103 anos de nascimento do compositor Silas de Oliveira, o maior ganhador de samba-enredo, até hoje, na ala dos compositores do Império Serrano. A escola cantou na Avenida nada menos do que 14 sambas-de-enredo do grande sambista.

O samba-enredo Heróis da liberdade foi composto por Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola e Manuel Ferreira, para ser cantado no carnaval de 1969. Não deu o campeonato ao Império Serrano, classificado naquele ano em um modesto quarto lugar. No entanto, com o passar dos anos, conquistou a importância merecida, sendo hoje considerado o hino dos sambistas brasileiros, entoado com reverência e emoção no sepultamento dos grandes vultos do samba carioca. Nas listas de melhores sambas de todos os tempos, é presença obrigatória, quase sempre na primeira colocação, como o mais lembrado pelos entrevistados.

O samba se tornou um marco também por ser o último de autoria desses compositores a ser cantado na Avenida. Juntos, em parceria, ou individualmente, Silas e Mano Décio não voltariam a ganhar samba-enredo nas disputas internas do Império Serrano. Tal fato marca um ponto de inflexão na história do gênero: a substituição dos sambas-enredo longos, conhecidos como “lençóis”, por outros mais curtos, de fácil absorção pela plateia, quase sempre motivada pela presença de um refrão forte.

Outra questão que fez desse samba-enredo um marco foi ter sido alvo de censura por parte da ditadura militar então instaurada no país. Os versos libertários e poéticos pareceram aos censores referência aos movimentos de protesto no Brasil e às revoltas estudantis na França. Seus autores foram intimados a dar explicações sobre a letra e a fazer pequena alteração.

Recordar Silas de Oliveira e sua obra-prima Heróis da Liberdade exatamente na ASA - Associação Scholem Aleichem tem especial significado, porque foi ali, quando participava do Samba na Intimidade, roda de samba organizada por Mauro Duarte durante anos na instituição, que Silas nos deixou para sempre, em 19/5/1972.

Dada a atualidade dessas questões, quando o samba-enredo parece encontrar-se, tal como no fim da década de 1960, num momento de impasse e de busca de novos horizontes, a discussão é bastante pertinente, da mesma forma que o debate sobre a censura à criação. Olhar para trás em busca de inspiração para a escolha de caminhos é uma prática salutar, sobretudo se for mesclada ao fazer criativo em rodas de samba inspiradoras.

E é por isso que a ASA, o Samba na Serrinha e a Casa do Jongo se unem não só para reverenciar a memória de Silas de Oliveira, mas também para uma reflexão em torno de questões que mantêm sua atualidade .

Serviço

Debate O contexto do carnaval de 1969 / Samba-enredo: resistindo

Debatedores: Careca do Império, Fabio Fabato, Jorge Renato Ramos, Jorginho do Império. Mediação: Rachel Valença

Data: 23/10/2019

Horário: 18h30

Local: ASA - Associação Scholem Aleichem

Endereço: R. São Clemente, 155 / fundos - auditório - Botafogo

Samba na Serrinha (edição especial)

Data: 27/10/2019

Horário: 18h30

Local: Casa do Jongo da Serrinha

Endereço: R. Compositor Silas de Oliveira, 101 - Madureira