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Dia dos Solteiros: você faz parte deste time? Especialistas falam sobre o tabu desse status na atualidade

A data, oficialmente celebrada em 15 de agosto, não tem o mesmo status do Dia dos Namorados nem para comércio e nem para os restaurantes e casas noturnas

reprodução facebook pessoal -
Psicóloga Cristina Wendt
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Frequentar bares, baladas e festas; beijar muitas bocas, sexo sem compromisso, não dar satisfação e ter muitos 'contatinhos'. Para quem não sabe, hoje, 15 de agosto, é comemorado o Dia dos 'Solteiros' no Brasil. Há poucas informações sobre o surgimento dessa data.

Você sabia que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os solteiros são a maioria no país? E acredite, a tendência é global! Dados do Pew Research Center, uma espécie de laboratório de ideias dos Estados Unidos, mostram que o número de casamentos tem diminuído nos últimos anos, enquanto o de divórcios aumentou.

Por isso, o Jornal do Brasil foi atrás dos solteiros e de especialistas na área de relacionamentos para falar sobre se existe ainda 'tabu' de não ter um companheiro. Afinal, como diz aquele sertanejo da dupla Bruninho e Davi, "Se namorar fosse bom, Isso aqui tava vazio...", ou  aquele funk da Gaiola das Popozudas "Eu vou pro baile, eu vou pro baile, de sainha. Agora eu sou solteira e ninguém vai me segurar...".

Já pensou numa versão axé com "A Fila Andou", do Chiclete Com Banana? E para encerrar, o pagode clássico do Exaltasamba, "Livre Pra Voar": "Eu prometo te dar carinho, mas  gosto de ser sozinho, Livre pra voar..."  São muitas as trilhas sonoras para curtir essa fase! 

No entanto, assumir a 'solteirice'  ainda pode ser considerado um tabu ou muito difícil para muita gente. Apesar de estarmos no século 21, a data não é tão comemorada quanto o Dia dos Namorados ou datas especiais e está longe de ser uma data importante para o comércio. Além de não ser um status passível de celebrações, os solteiros convivem com a pressão da sociedade, que não vê a opção de estar sozinho uma escolha, mas a falta dela.

Macaque in the trees
Carnaval do Rio atrai milhares de solteiros (Foto: divulgação/RioTur)

Para Flávio Cordeiro, psicólogo e psicoterapeuta, a escolha deste status de relacionamento é “perfeita”, desde que faça as pessoas felizes. "Há algum tempo, 'estar solteiro' era considerado um estágio provisório. Você estaria solteiro até encontrar o “par perfeito”. Nos dias de hoje, “estar casado”, cada vez mais, é considerado também um estado provisório."

Mas comemorar ou não o dia? Segundo o psicoterapeuta, uma data comemorativa, não importa se comercial ou não, é o símbolo de algo que quer reconhecimento. "É o caso dos solteiros. Eles não querem mais ser vistos como “provisórios”, mas como pessoas que podem ter muito prazer e envolvimentos afetivos, sem necessariamente um status fixo. E estão muito bem com isso."

As pesquisas no Brasil e no mundo mostram o aumento a cada ano do número de solteiros no país. Cordeiro explica que esse comportamento é determinado por alguns fatores determinantes, tais como: ascensão das mulheres no mercado de trabalho; diminuição da dependência econômica e mais autonomia para decidir seu destino.

"A maior tendência à valorização da individualidade é um dos itens. Isso às vezes é bom, mas muitas vezes implica muita solidão", alerta o especialista. 

E por último, a sociedade vive a era das relações mais voláteis. "As relações estáveis sempre exigem algum grau de renúncia, nos dias de hoje, cada vez menos pessoas estão dispostas à renúncia de um prazer imediato em nome de estabilidade afetiva", analisa ele. 

'Casamento não é garantia de segurança', diz psicóloga 

Se antes o casamento era visto como uma segurança, ou uma obrigação, nos dias de hoje existe uma mudança de paradigma. Cristina Wendt, psicóloga e psicoterapeuta, avalia que esse comportamento é visível e a união passa a ser compreendida pela maioria como uma escolha pessoal.

"Já compreendemos que o relacionamento a dois não é garantia de segurança, segundo o conceito de nossos antepassados, mas sim, a disposição sincera de duas pessoas tomadas por afeto de unirem suas vidas". No entanto, a psicóloga acredita que ainda exista uma pressão familiar. "Pode existir em um nível bem mais moderado".

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Psicóloga Cristina Wendt (Foto: reprodução facebook pessoal)

Mulheres solteiras (por opção ou não) são muitas vezes discriminadas por não terem um marido ao lado e por não se encaixarem em um padrão social. Muitas vezes, elas são mais cobradas do que os homens. Na avaliação de Cristina, não é possível determinar até onde a mulher sofre e até onde se impõe essa cobrança. "Cabe a cada mulher seguir sua natureza e não viver em uma realidade idealizada e que traz pouca ou nenhuma realização". Em relação a eles, a especialista afirma que estão estão naturalmente mais acostumados a não contradizer seus instintos. "Só aceitam essa pressão se lhes for conveniente". 

Solteiro (a) no Rio de Janeiro...

No grupo dos estados que têm mais solteiras, a liderança é do Distrito Federal: para cada 100 homens há 109 mulheres. Na sequência estão Piauí, Pernambuco, Roraima, Ceará e Rio de Janeiro.

Quem veste a camisa com orgulho é Michele Peserico, de 38 anos. Após terminar o último relacionamento, há alguns anos, ela quer curtir essa fase e afirma: "Optei por estar bem comigo". Michele avalia que existem algumas pessoas solitárias em seus relacionamentos e nem percebem. "Quase não se falam e não há cumplicidade". Se for para chegar alguém é para somar, dá o recado a canceriana. "Se não, estou bem. Solteira, porém não sozinha ou solitária", diz a consultora em realocação , aos risos. 

Michele acredita que ainda exista um julgamento das mulheres de uma maneira geral - não só as solteiras, mas as casadas, divorciadas e viúvas também. "A mulher perante a sociedade deve estar sempre bela e comportada. Ou acaba sendo taxada de fácil ou pior. Devemos acreditar na igualdade e na capacidade de cada um de se fazer notar da maneira certa", defende. 

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Michele Peserico (Foto: arquivo pessoal )

"Até mesmo para homens, certos comportamentos são considerados inapropriados, mas como são homens são aceitos perante a sociedade.  Se fosse uma mulher com o mesmo comportamento, teria 'nomes', como piranha e etc", cita Michele. E continua: "Quer exemplos? Dar em cima de todas as amigas da sua namorada ou de quem tem um relacionamento, trair a mulher em um local público, ou mesmo falar mal só porque a mulher tem muitos 'flertes'. Acho que o preconceito é mais com relação às mulheres do que os homens. Ainda temos muito para aprender nesse aspecto. Um comportamento feio deve ser feio sem sexo. Mas por ser mulher, solteira e feliz, parece que muitos se ofendem... vai entender". 

Outro solteiro, Henrique Ramos Mendes, de 27 anos, nunca namorou. Decidiu pela solteirice por falta de opção, ou melhor, não achou ninguém que pudesse chamar de "alma gêmea". "Estou solteiro desde sempre, desde que nasci, pois nunca namorei". Gosta da vida de solteiro e sente-se independente para realizar o que quer que seja.

Ele reconhece, no entanto, que o status é mais fácil de ser assumido para um homem que por uma mulher. Para o homem, segundo ele, a escolha ainda é vista como uma opção, mas para a mulher é mais um sinal de fracasso. "Não podemos negar que ainda existe um ranço machista na sociedade brasileira, que considera a mulher solteira como "galinha" e o homem solteiro apenas como solteiro."

Ainda segundo Henrique, as mulheres também acabam absorvendo esse sentimento, de tal sorte que sentem uma necessidade de casar/namorar mais intensa que a do homem. No entanto, esse comportamento está mudando e, a cada dia que passa, mais mulheres se confortam com a ideia de ficar solteiras durante mais tempo.

"Ser solteiro no Rio de Janeiro é muito bom, considerando que esta é uma das cidades do mundo, senão a cidade do mundo, que tem a vida noturna mais agitada. Já fui pra outros lugares e nada, até então, se compara à vida boemia do Rio de Janeiro." Justamente por isso, Henrique acredita que na cidade maravilhosa oportunidades de encontrar um par não faltem, basta apenas querer.

Para largar o status e a vida de 'solteiro', o advogado é bem direto e se considera exigente. "Sob o meu ponto de vista, o namoro é dispendioso, pelo que precisa ser realizado como uma pessoa que se adeque aos meus anseios." Neste quesito, ele não vê diferença para homens e mulheres. 

Para a Gisella Falcão, a vida de solteira tem diversos pontos positivos. "O melhor é a liberdade de poder fazer o que você quer e na hora que você quer. Não precisa dar satisfação, sair com quem quiser, fazer festas e curtir os amigos" diz a moradora de Copacabana, que não sabia da existência do Dia dos Solteiros. Ela já namorou e avalia que a vida a dois também tem suas vantagens: "Tudo é momento. É preciso curtir o bom de cada fase". 

Confira: Dia dos solteiros: veja memes para comemorar a data

divulgação/RioTur - Carnaval do Rio atrai milhares de solteiros
arquivo pessoal - Michele Peserico