O dono do bar Bip Bip, tradicional reduto boêmio em Copacabana, na Zona Sul do Rio, o comerciante Alfredo Jacinto Melo, o Alfredinho, de 75 anos, morreu na tarde de ontem em sua casa, no mesmo bairro. Solteiro e sem filhos, Alfredinho transformou o Bip Bip em um ponto de encontro do choro e samba, além de debates políticos, lançamentos de livros e resenhas de futebol.
Fundado no dia 13 de dezembro de 1968, no mesmo dia em que o Brasil sofreu o duro golpe do AI-5, durante o governo do general Costa e Silva, o boteco é reduto de memoráveis rodas musicais. Alfredinho assumiu o comando do bar em 1984. Com seu estilo despojado, que dispensa garçons, o bar não vende comida.
Alfredo nasceu em Santa Cruz e passou a infância e adolescência em Bangu e Cosmos. O comerciante também era mangueirense e botafoguense. Conhecido pela solidariedade e pela fama de ranzinza, Alfredinho chegou a receber da Câmara dos Vereadores uma Comenda por sua militância em favor da cultura popular.
A morte de Alfredinho foi confirmada ao jornal "O Globo" pelo violonista Tiago Prata, frequentador assíduo do estabelecimento há mais de duas décadas: "O legado dele é de solidariedade. O Alfredinho ajudava os músicos, as famílias pobres do Rio. Ele fazia uma ceia de Natal todo ano, falava de amor aos necessitados, era um comunista católico que acreditava em Deus, ia à missa sempre. Era ranzinza para quem não o conhecia, mas tinha um coração enorme. O bar dele é uma casa, você pega cerveja na geladeira, anota você mesmo. Ele foi uma das pessoas mais importantes da cultura carioca ", disse Prata ao jornal.
No ano passado, Alfredinho celebrou os 50 anos do estabelecimento. A comemoração contou com um um show que teve a participação de Teresa Cristina na Sala Baden Powell, em Copacabana. Também em 2018, foi lançada a terceira edição do livro "Bip Bip um bar a serviço da alegria", de Francisco Genu, Luís Pimentel e Marceu Vieira.