O bacharel em Direito e lutador de jiu-jítsu Vinícius Batista Serra, de 27 anos, acusado de agredir a empresária e paisagista Elaine Perez Caparroz, no Rio de Janeiro, centralizou a sessão de quatro horas de espancamento no tórax e no rosto. A informação foi dada, ontem, pelo coordenador da clínica médica da Casa de Portugal, Hélio Primo, instantes antes de a paciente receber alta do hospital, onde deu entrada no último dia 16 com um quadro de trauma grave.
"A paciente entrou no hospital em estado crítico com muitos traumas, perda de dentes, fraturas generalizadas e não definidas na face e com muitos hematomas, principalmente no rosto e no tórax, onde o agressor concentrou o espancamento, mas também com algumas manchas e mordidas no braço", disse.
O médico contou que Elaine foi inicialmente levada para o Centro de Tratamento Intensivo (CTI), onde permaneceu dois dias, mas diante da "excelente" evolução do quadro clínico, foi, dois dias depois, transferida para um quarto. Durante a internação, além dos cuidados clínicos diários, passou por avaliações constantes das equipes de cirurgia facial, odontologia, oftalmologia e neurocirurgia.
"Ela foi tratada inicialmente no CTI, teve excelente evolução, estabilidade clínica, e teve a função renal [afetada pelas pancadas] resgatada. A partir de então, apresentou excelente evolução clínica e laboratorial, respondeu bem aos medicamentos", disse.
Descolamento de retina
O médico disse que os hematomas concentrados no tórax e no rosto da vítima deverão levar de três a seis meses para desaparecer, mas que ela não terá que se submeter a cirurgias reparadoras porque muitas fraturas estão alinhadas.
"No futuro, talvez ela tenha que passar por uma pequena correção [na face] de caráter estético, mas não houve nenhuma fratura desalinhada. As fraturas estão todas alinhadas e ela teve uma resposta clínica muito boa", afirmou Hélio Primo.
Ressaltou que Elaine sofreu descolamento de retina no olho esquerdo, o que terá que ser acompanhado mais de perto, porque a visão está prejudicada.
"Ela já abre um pouco os olhos, mas com dificuldade porque o rosto ainda se encontra bastante inchado e cheio de hematomas. Ela ainda enxerga um pouco embaçado, mas vai se recuperar totalmente deste problema", afirmou o médico.
A avaliação dele é que, do ponto de vista emocional, será preciso um maior cuidado. "A parte emocional é que ainda demandará um longo caminho pela frente. Haverá uma lenta e demorada recuperação disso tudo", disse, em referência ao trauma provocado pelo espancamento. "Mas, infelizmente, a gente vê isso todos os dias. Agressões a mulheres e a crianças, isso ainda é muito comum, infelizmente", lamentou.
Elaine Caparroz foi agredida brutalmente por Vinícius, a quem conheceu pela internet, na madrugada do dia 16, ficando totalmente desfigurada. O crime ocorreu no apartamento em que ela mora na Barra da Tijuca. A empresária, de 55 anos, é ex-cunhada da lutadora Kyra Gracie.
Agressor em hospital psiquiátrico
A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) divulgou nota informando que Vinícius Batista Serra, acusado de agredir Elaine, que está detido em prisão preventiva por tentativa de feminicídio, foi transferido para o Hospital Penal Psiquiátrico Roberto Medeiros, no Complexo Penitenciário de Gericinó (Bangu), para avaliação psiquiátrica. A nota da Seap informa ainda que ele está em "período de observação na unidade, sendo acompanhado por uma equipe médica".
Ao ser detido, Vinicius alegou que tinha problemas psicológicos e que, na noite do crime, ele adormeceu e despertou no meio de um surto psicótico. Segundo o jornal "O Glovo", durante a audiência de custódia na Cadeia Pública José Frederico Marques, realizada no dia 18 de fevereiro, a defesa do bacharel apresentou documentos com declarações médicas datadas de 2016 que supostamente atestariam os problemas psiquiátricos de Vinícius.
De acordo com o jornal, o juiz Alex Quaresma Ravache considerou, entretanto, que a documentação apresentada pela defesa de Vinicius não era "suficiente para atestar a inimputabilidade ou semi-imputabilidade do custodiado". Na ocasião, além de decidir recomendar a prisão preventiva do agressor, o magistrado determinou que o acusado fosse submetido a uma avaliação psiquiátrica.
Noite de terror
A paisagista conheceu Vinícius há oito meses, numa rede social. Na última sexta-feira retrasada, tiveram seu primeiro encontro, um jantar na casa de Elaine. De madrugada, Elaine acordou sendo agredida violentamente. A sessão de tortura durou cerca de quatro horas, segundo o irmão da vítima, Rogério Peres Caparróz. Os gritos de Elaine acabaram chamando a atenção de vizinhos e dos porteiros. Quando conseguiram entrar no apartamento, encontraram a mulher desacordada. O porteiro Juciley Souza Andrade disse à polícia que se demorasse mais dez ou quinze minutos para socorrer Elaine, "ela não sobreviveria". Vinícius ainda tentou escapar, mas foi detido na portaria. A polícia chegou em seguida e o prendeu em flagrante. (Com Agência Brasil)