ASSINE
search button

Motorista contesta Siciliano

Preso nas investigações do caso Marielle, Renatinho Problema diz à polícia que levava miliciano para encontros com vereador

Reprodução da TV Globo -
Renatinho Problema em 18 de dezembro passado, quando foi preso: ele é suspeito de ser o braço-direito de Orlando Curicica
Compartilhar

Depoimento de Renato Nascimento dos Santos, o Renatinho Problema, prestado à Delegacia de Homicídios da Capital, contesta testemunhos do vereador Marcello Siciliano (PHS) e do miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, investigados pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março do ano passado, no Estácio. Segundo o motorista, ao contrário do que declararam Siciliano e Curicica, que disseram se conhecer apenas “de vista”, os dois se encontraram pelo menos quatro vezes, antes de a vereadora ser executada. Renatinho seria o braço direito de Orlando Curicica. As informações foram publicadas, ontem, pelo jornal “O Globo”.

De acordo com a reportagem, Renatinho Problema afirmou aos investigadores que foi motorista de Orlando Curicica e costumava levar o miliciano ao apartamento de Siciliano e a uma empresa, também no Recreio, chamada Martinelli Imóveis, que funciona no mesmo endereço da La Mia Vita Empreendimento Imobiliários, de propriedade do vereador Marcello Siciliano, segundo a Junta Comercial.

Macaque in the trees
Renatinho Problema em 18 de dezembro passado, quando foi preso: ele é suspeito de ser o braço-direito de Orlando Curicica (Foto: Reprodução da TV Globo)

Renatinho foi preso em 18 de dezembro do ano passado e responde com Curicica a quatro inquéritos de homicídios. Num deles, os dois são acusados de matar o presidente da escola de samba Parque da Curicica, Wagner Raphael de Souza, o Dádi, em 2015. Ele também é suspeito de assassinar Rafael Freitas Pacheco da Silva, o Leão, que segundo a reportagem, era sócio da uma pessoa considerada testemunha-chave do caso Marielle.

Siciliano reafirmou na terça-feira que nunca estabeleceu qualquer relação pessoal com Curicica e destacou em nota ao “O Globo” que, se cumprimentou o miliciano em alguma ocasião, deve ter sido por sua atividade política, já que tem o hábito de falar com muita gente. O vereador voltou a se manifestar irritado com as acusações e disse estar “revoltado com tamanha exposição” de seu nome “sem qualquer prova”.

Uma das linhas investigadas pela Delegacia de Homicídios da Capital liga o assassinato de Marielle e Anderson a uma briga por regularização fundiária na Baixada de Jacarepaguá, nas redondezas das Vargens (Grande e Pequena) e de Guaratiba, redutos eleitorais de Siciliano, que atua no setor imobiliário.

Uma das evidências seria reunião que duas assessoras de Marielle tiveram, em março de 2017, na favela Novo Palmares, em Vargem Grande, sobre uma campanha por reconhecimento de propriedade de terras. Segundo a polícia, o encontro teria levado empresários ligados à milícia, que hoje explora a construção, a venda e o aluguel de imóveis na região, a se irritar com Marielle, intuindo que ela pudesse apoiar os moradores na luta pelos terrenos. De acordo com o jornal, a Delegacia de Homicídios da Capital teria descoberto que uma líder comunitária da Novo Palmares — cujo identidade é mantida em segredo por questão de segurança — teria avisado Siciliano por telefone sobre o evento.

Renatinho Problema não é considerado pela polícia suspeito de participar da emboscada a Marielle e Anderson. Mas até então, o elo entre Siciliano e Curicica teria sido descoberto por delação revelada pelo “O Globo” de um ex-integrante da quadrilha do miliciano, que teria ouvido uma conversa do vereador com Curicica, em junho de 2017, em que Siciliano teria reclamado de Marielle e pedido ao miliciano para “resolver o problema”.