
O ano mal começou e a Praça Seca, em Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade, já registra uma média de dois tiroteios por dia. O bairro é o que mais registrou confrontos este ano. Segundo o aplicativo “Onde Tem Tiroteio”, foram 18 ocorrências só nos primeiros nove dias do ano. Moradores de favelas como Chacrinha e Bateau Mouche convivem com ameaças diárias de invasões de quadrilhas de traficantes e milicianos, que são rivais.
Desde a semana passada, moradores do Morro do Chacrinha, uma das maiores favelas da região, vivem momentos de pânico. No último domingo, uma nova quadrilha iniciou uma tentativa de invadir o local, hoje dominado por um grupo que cobra taxas de “segurança” e de água. Com a chegada de policiais militares, houve intenso confronto entre agentes e criminosos.

No domingo, um adolescente de 15 anos, identificado como Allan dos Santos Gomes, foi morto por policiais e, na terça-feira, uma mulher identificada como Tamiris Queiróz, de 27 anos, ficou ferida por bala perdida quando passava pela estação de BRT Ipase, na Rua Cândido Benício.
Enquanto a Polícia Militar diz que Allan foi identificado como suspeito de participação no tráfico e estaria no grupo que trocou tiros com a polícia, familiares do adolescente, sepultado ontem, negam seu envolvimento com o crime.
Em vídeo postado nas redes sociais, Rayssa Santos, diz que o garoto era autista. “Meu irmão desceu o morro, por desobediência, no meio do confronto. Na televisão, não estão dizendo que teve guerra na Chacrinha, mas o caveirão subiu lá mandando tiro em todo mundo e matou meu irmão. Estão dizendo que ele era bandido. Ele não era bandido. Sem contar que meu irmão ainda era autista e tinha problemas. Era uma criança. Um bobo”, declarou.

Em nota divulgada na tarde de ontem, a Polícia Militar alegou que houve confronto e que o caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DH/Capital). Ainda de acordo com a nota, a Secretaria de Polícia Militar instaurou procedimento para apurar as circunstâncias da morte. Com Allan, outros dois homens foram levados, já mortos, para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra.
Levantamento do laboratório de dados “Fogo Cruzado” indica que, durante o período da intervenção militar, o bairro da Praça Seca registrou 224 tiroteios em 318 dias, sendo a terceira localidade no Rio a registrar o maior número de confrontos no período. Os registros indicam uma média de 1,4 tiroteios por dia. Neste início de ano, no entanto, a situação ficou ainda mais grave.
“A gente não pode sair de casa nem para trabalhar, porque essas invasões acontecem em qualquer horário. Antes, convivíamos com a milícia, que já cobrava taxa de segurança e de água. Depois de muitas tentativas, outros bandidos conseguiram invadir e continuam cobrando as mesmas taxas. Batem na nossa porta armados”, denuncia uma dona de casa, que vive há oito anos no Morro do Chacrinha.

Ainda segundo relatos de moradores, as sucessivas invasões, como a do último domingo e a de terça-feira, contam com o apoio de traficantes que já controlam o Morro do Jordão, na Taquara, e o Bateau Mouche, também na Praça Seca.
Imagens divulgadas pela TV Globo, ontem, mostraram homens fortemente armados com fuzis dentro de uma casa no Morro do Chacrinha. Todos vestiam uniformes camuflados semelhantes aos do Exército.
Atingida por uma bala perdida, na tarde de terça-feira, enquanto caminhava pela Rua Cândido Benício, Tamires Queiróz, continua internada no Hospital Municipal Lourenço Jorge. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, seu estado de saúde é estável. No momento do disparo, equipes do 18º BPM (Jacarepaguá) realizavam uma operação na comunidade do Chacrinha para tentar conter um tiroteio entre criminosos da região.