Se você acha que Natal é comer panetone e comprar presentes, não pode perder a quarta edição da Exposição de Presépios no Mosteiro de Santo Antônio, no Largo da Carioca, Centro da cidade. Com 35 presépios dos mais variados estilos e origens – do Brasil e do mundo -, cada um deles traz uma mensagem particular que tem em comum, porém, a ideia cristã do incondicional amor do Deus menino. É Natal na veia.
Uma das maiores surpresas é o presépio confeccionado em 2015 em papel reciclado por Maria Santos, com as crianças das obras sociais de Nossa Senhora Achiropita, na Bixiga, em São Paulo. O foco central é um burro sem rabo (carroça usada pela população de rua para transportar suas quinquilharias) cheio de papelão, com um mendigo dormindo no chão ao lado, representação do Cristo adulto. Uma mini manjedoura com o menino Jesus, José e Maria compõe o conjunto, realçado pela cor dourada. Ao redor, anônimos em papel negro observam a cena com alguma indiferença, e uma placa de sinalização de rua indica o endereço, na confluência das ruas Belém com Esperança. “É uma atualização da gruta com a grande sacada de que Deus veio ao mundo criança, para permitir que a humanidade consiga fazer o encontro com o sagrado, com valores como a dignidade, a paz, respeito e solidariedade”, ensina o frei capixapa Roger Brunorio, 45 anos, da Ordem Franciscana.
Protegidos em caixas envidraçadas, além de reproduzir a imagem da manjedoura com o menino, cercado pelos pais, pelos reis ou pelos animais, os presépios retratam as tradições artísticas dos locais onde foram criados, como o presépio barroco de 1930 de barro cozido e pigmento, da Coleção Franciscana de Presépios, com 1.100 unidades, das quais foram selecionadas algumas das mais expressivas para a exposição. Ou ainda a capela confeccionada também em barro cozido pelo artista Nenê, de Alagoas. Uma das maiores surpresa que, por sinal, ilustra o cartaz da mostra, são os delicados personagens criados com palitos de fósforo pelo artista pernambucano Albino Júnior, que trabalha com bisturi e gilete. E tem até pequenos presépios com personagens de traços japoneses.
Origem histórica
A tradição franciscana com presépios foi iniciada por São Francisco de Assis em 1223 no povoado de Greccio, na Vale da Umbria, na Itália. “São Francisco queria sentir na pele como o menino Deus havia nascido em uma noite fria, entre animais e pastores, a marginalidade da época”, relata frei Roger, que é também museólogo. Os frades deram continuação à primeira manifestação plástica do menino Deus com o nascimento de Jesus. “A igreja se forma a partir do ano 315, com o Edito de Milão, e a partir daí têm início as manifestações plásticas. As primeiras cenas de natividade foram feitas em baixo e alto relevo, com pedra ou estuque, da Virgem com o menino, depois também aparecem o boi e o burro e, às vezes, José”, acrescenta o religioso. Segundo ele, a cena do nascimento foi descrita pelos profetas Matheus e Lucas.
A partir do século XVIII começam a proliferar na cidade de Nápoles, na Itália, as imagens dos presépios como conhecemos hoje. “Foi lá, naquele época, que os artistas locais perceberam a força da cena para celebrizá-la”, conclui Frei Roger.