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ISP: LGBTIs são vítimas de conhecidos

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Mais de 430 pessoas registraram crimes motivados por LGBTfobia nas delegacias do estado do Rio de Janeiro, no ano passado. Mais da metade dessas vítimas conhecia os autores da violência (55%), além de ter sofrido ameaças e ofensas morais. É o que indica o 1º Dossiê LGBT+ do Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ), divulgado ontem.

O servidor público aposentado Eduardo Michel, de 63 anos, viveu na pele, com seu companheiro, o que a estatística significa. O casal foi agredido por vizinhos, em abril do ano passado, em uma vila, na Tijuca.

“Foram muitos chutes na região pubiana e gritavam que lugar de v....do não era ali”, relembra ele, que desmaiou durante as agressões. “Pior foi quando chegamos na delegacia. Os servidores nos acusaram de termos provocado os agressores. E ainda disseram que não podíamos pronunciar a palavra ‘homofobia’ ali, porque isso prejudicaria as investigações”, conta.

O documento aponta ainda que 43,4% dos 431 crimes ocorreram dentro da casa das vítimas. Jovens de 18 a 29 anos somam mais de 40% das vítimas de LGBTfobia. Entre as violências sofridas, a violência moral correspondeu a mais da metade (51,4%), seguida da violência física e psicológica, ambas com 22,7%. A maior parte das vítimas era do sexo masculino (59,6%) e da cor branca (54,8%).

Segundo explicou o organizador do dossiê, Victor Chagas, foram necessários quatro meses de análise dos registros da Polícia Civil para identificar os casos em que a motivação para os crimes era o fato da vítima ser LGBT.

“Nem todas as vítimas dizem isso claramente e nem todos os policiais atentavam para a questão de gênero na hora do registro”, explicou.

Para Claudio Nascimento, coordenador executivo do Grupo Arco Íris e criador do programa Rio Sem Homofobia, a iniciativa do dossiê deve ser elogiada. Mas os dados estão muito aquém da realidade.

“Muita gente não registra e quando o faz, omite sua orientação sexual, com medo de sofrer novo preconceito”, diz ele, que denuncia o sucateamento do Programa Rio Sem Homofobia, o principal do país criado para combater a discriminação e a violência contra a população LGBTI. “Faltam psicólogos, assistentes sociais e os funcionários estão com salários atrasados”, afirma Claudio Nascimento.