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Prefeito Marcelo Crivella e chefe da Casa Civil, Paulo Messina, disputam poder no Centro Administrativo

Divulgação -
O prefeito Marcelo Crivella e o secretário da Casa Civil, Paulo Messina, em reunião com representantes do setor da indústria hoteleira e de aviação, em agosto: relação azedou
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Recuperar o poder de secretarias e empresas públicas estratégicas e esvaziar a poderosa tríade formada pelo secretário da Casa Civil, Paulo Messina, os vereadores Jairinho (MDB) — por enquanto líder do governo na Câmara —, e o presidente da Casa, Jorge Felippe (MDB), são os principais objetivos do prefeito Marcelo Crivella para 2019. O grupo ligado ao prefeito, liderado pelo filho Marcelo Hodge Crivella, o Marcelinho, sabe que é preciso retomar as rédeas políticas da administração para assegurar a reeleição para o cargo em 2020. “Para essa costura, é preciso ter nas mãos de aliados, principalmente religiosos, cargos fundamentais como as secretarias de Conservação, Meio Ambiente, Ordem Pública — que hoje têm R$ 80 milhões, por ano, graças ao Fundo Especial da Ordem Pública —, além de empresas como a Comlurb, Rioluz e Riotur”, asseguram fontes ligadas ao gabinete do bispo.

O esvaziamento de Messina está na ordem do dia do prefeito. As más-línguas na Cidade Nova não escondem que existem duas prefeituras funcionando no Centro Administrativo São Sebastião (CASS): a de Crivella e a de Messina. É por essas e outras que o prefeito se mostra disposto a interferir e mudar o esquema de negociação feito com os vereadores. O secretário da Casa Civil atua em conversas individuais, no varejo. Crivella quer mudar essa lógica e passar, sem abandonar orientação franciscana do “é dando que se recebe”, a atuar institucionalmente por partidos, por bancadas.

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O prefeito Marcelo Crivella e o secretário da Casa Civil, Paulo Messina, em reunião com representantes do setor da indústria hoteleira e de aviação, em agosto: relação azedou (Foto: Divulgação)

O todo-poderoso Messina ensaia ser uma reedição do antecessor no cargo, o deputado federal Pedro Paulo (DEM), aliado do ex-prefeito Eduardo Paes, mas pretensão e água benta cada qual toma como quer. Em detrimento da caça aos apoiadores de Paes na prefeitura, Messina trouxe de volta à cena importantes nomes que atuaram junto a Eduardo e Pedro Paulo. Funcionária de carreira, Rosemary Carvalho, poderosa ex-presidente da Codesp, virou subsecretária-executiva da Casa Civil, gestora das organizações sociais que atuam no município, entre elas as que cuidam das UPAs. Mary, como é chamada, tem cortado tudo que pode para dar fôlego ao orçamento. É conhecida como a Margaret Thatcher do Piranhão, como é chamado o CASS. Mas a realidade aponta que a estratégia está longe de dar certo. A Saúde vive hoje um dos piores cenários dos últimos anos.

Alexandre Goldfeld Caderman, servidor que esteve por oito anos atuando em cargos de confiança na gestão capitaneada por Eduardo Paes e Pedro Paulo, está de volta ao Centro de Operações Rio (COR). Na gestão Crivella, estava na Comlurb, mas foi içado por Messina para comandar o Big Brother carioca. O mesmo aconteceu com o fiscal de atividades econômicas da prefeitura, Gustavo Miranda, que se mantém na chefia do serviço 1746, criado com pompa e circunstância pelo ex-prefeito. Messina, porém, não colhe os mesmos frutos. Os serviços prestados pela prefeitura estão mergulhados no caos, inclusive os prestados pelo COR e pelo 1746.

O objetivo de Messina é o de se credenciar para disputar as eleições para prefeito no lugar de Crivella. A ideia é ser a alternativa, caso o cenário político eleitoral confirme a inviabilidade, principalmente junto ao eleitorado, da candidatura do ex-prefeito. Para angariar apoio interno, não se intimida em capitalizar o suado trabalho de Cesar Barbiero, secretário de Fazenda do município, que deu nó em pingo d’água para pagar o 13º salário aos servidores. Por outro lado, o grupo de Crivella quer, aos poucos, esvaziar o poder de Messina.

“O primeiro passo a ser dado é afastar Jairinho da liderança do governo na Câmara”, afirmam assessores próximos a Crivella. O vereador está muito abatido após a prisão do pai, coronel Jairo, pela operação Furna da Onça, desdobramento da Lava Jato no Rio. O segundo passo é conter Jorge Felippe, que muitos dentro e fora da Câmara apostam estar com a liberdade contada pela Lava Jato. A reforma do secretariado, fazendo andar a dança das cadeiras, é uma oportunidade para alinhar a administração do bispo aos aliados evangélicos, principalmente do PRTB do vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão, e do ex-vereador Jimmy Pereira, herdeiro do lendário Jorge Pereira, que transformou a Ilha do Governador em um feudo eleitoral familiar. Os Pereira também são conhecidos por explorar publicidade irregular há décadas. Antes outdoors, hoje painéis de led soltos na cidade.

Crivella não reza na mesma bíblia do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Avesso às declarações bombásticas, o prefeito prefere o estilo assistencialista missionário. Crivella sabe que vai precisar do apoio de todos os evangélicos, não somente os da Universal, para derrubar a possível e provável pretensão do vereador Carlos Bolsonaro (PSL) de disputar as eleições contra ele e abocanhar a Prefeitura do Rio. Esse seria, hoje, o pior pesadelo para o grupo de Crivella e da Universal. O ex-prefeito costura ainda nessa reestruturação do secretariado a volta do fiel escudeiro Rubens Teixeira. Denunciado pelo Ministério Público estadual por fraudes na Transpetro, subsidiária da Petrobras, foi derrotado nas urnas na tentativa de se eleger deputado federal pelo PRB. Com passagem polêmica na presidência da Comlurb e nos Transportes, costura sua volta aos quadros da prefeitura carioca, desta vez através da pasta do Meio Ambiente, que sairia da Secretaria de Conservação. A estratégica Seconserva, chefiada por Roberto Nascimento, um ex-gerente da área de Bangu, indicado por Jorge Felippe, atua sob as ordens de Messina. A alternância de poder em nível federal e a renovação política registrada em todo o país, nos legislativos e executivos estaduais, vão dar as cartas políticas em 2019, mas o jogo municipal mesmo só em 2020.