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Obras da Linha Dois Irmãos do tradicional bondinho que atende à Santa Teresa seguem em ritmo imprevisível

Marcos Tristão -
Monica Cleophas, síndica do Rapozão, à frente do buraco abandonado que virou um lago fétido com um vazamento de esgoto
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Desde o trágico acidente com o bonde de Santa Teresa em 27 de agosto de 2011, com cinco mortes e mais de 50 feridos, a volta do mais tradicional meio de transportes da cidade ainda passa por percalços, com um ritmo de obras algo esquizofrênico. O trecho da Linha Dois (4,53 km), próximo ao Morro dos Prazeres, deu uma radical acelerada nos últimos meses, a tal ponto que os trabalhos entravam noite a dentro. Depois das eleições, porém, houve uma redução gradual que deixou um enorme buraco em frente ao edifício Rapozo Lopes, o Rapozão, no nº 3226 da Rua Almirante Alexandrino. “Um funcionário me confidenciou que tudo parou pela espera de uma peça que vem de São Paulo. Outro dia, houve um vazamento de esgoto que transformou o buraco num lago fétido e foco de mosquitos”, denuncia a síndica do edifício, Monica Cleophas.

Um pouco adiante, após a Rua Júlio Ottoni, o ritmo frenético foi retomado na pista da Rua Almirante Alexandrino, no sentido Santa Teresa — a direção inversa já está concluída —, para a reinstalação dos trilhos e da linha elétrica que conduz os veículos. Na última semana, entretanto, este mesmo ritmo frenético podia ser observado no trecho de pouco mais de 100 metros da Rua Paschoal Carlos Magno, na altura de onde fica o tradicional Bar do Mineiro.

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Monica Cleophas, síndica do Rapozão, à frente do buraco abandonado que virou um lago fétido com um vazamento de esgoto (Foto: Marcos Tristão)

Tudo indica que as equipes que atuavam ali passaram à Almirante Alexandrino para cumprir os prazos do cronograma da Linha Dois Irmãos ainda na gestão Cabral/Pezão — ambos presidiários. Só que esse trecho não leva nada a lugar nenhum, já que pertence à Linha Paula Mattos (3,26 km), de acesso ao bucólico Largo das Neves, cuja volta terá de aguardar pela boa vontade do próximo governo e está entre as principais reivindicações dos moradores.

“Falta critério da empreiteira pelos moradores. Já foi até pior, porque eles nem tinham terminado as obras na Rua Joaquim Murtinho, quando começaram a quebrar mais à frente”, faz coro o vice-presidente da Associação de Moradores de Santa Teresa, Álvaro Braga.

No trecho da Almirante Alexandrino que corta o Silvestre, na direção do Cristo Redentor, o non sense persiste. Nos anos 1980, os motoristas e passageiros de ônibus que passavam por ali tinham de se munir de paciência para percorrer a agradável rua cercada de floresta, com vista de perder o fôlego para a Baía de Guanabara e para o Pão de Açúcar em alguns trechos. Tudo pela instalação dos trilhos do bonde até a Ladeira do Ascurra — ligação do Silvestre à Rua Cosme Velho —, para integrar o turismo de Santa Teresa ao Cristo Redentor. Passados mais de 20 anos, o que se vê é uma rua esburacada e abandonada, por onde o bonde só passou até 2004.

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As obras na Rua Paschoal Carlos Magno (Foto: Marcos Tristão)

Segundo a assessoria da secretaria municipal de Transportes, na próxima segunda-feira será instalado um Aparelho de Mudança de Via (AMV) no lugar da obra na Rua Paschoal Carlos Magno, “para possibilitar a manobra dos bondes e permitir a redução do intervalo entre eles, como parte das obras de expansão do sistema rumo ao Dois Irmãos. A intervenção na rua foi planejada para minimizar seu prazo de execução e não prejudicar o comércio no trecho”.

Ainda segundo a assessoria, os trilhos chegarão à parada Dois Irmãos, representando um acréscimo de um quilômetro no trajeto, até a primeira quinzena de dezembro. “Com isso, o sistema ficará com cerca de seis quilômetros, mesma extensão da operação em 2011. Foi preparado um planejamento detalhado de intervenções a ser apresentado à equipe de transição, para permitir que a íntegra do sistema possa ser restabelecida, incluindo Silvestre e Paula Mattos, ainda em 2019”.

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O bondinho de madeira amarela, tombado pelo estado (Foto: Marcos Tristão)

Tração animal

Se hoje as linhas de bonde conjugam meio de transporte e atração turística — a passagem custa R$ 20 no trajeto de ida e volta da Linha Dois Irmãos, moradores que comprovem residência andam de graça — e passam por tantos problemas, talvez não fosse assim quando tudo começou, em 1896, na República Velha, quando os bondes ainda eram puxados por tração animal. O desenvolvimento da energia elétrica trouxe a eletrificação aos bondes. Na época, eles eram um meio de transporte muito usado nas cidades brasileiras. Em 1975, porém, apenas 18 dos 28 bondes funcionavam no percurso de Santa Teresa ao Centro. Tombados pelo governo do estado em 1983, mantêm a original estrutura de madeira amarela.

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Um dos buracos no trecho abandonado do Silvestre, na Rua Almirante Alexandrino (Foto: Marcos Tristão)

Aos poucos, o meio de transporte foi abandonado nas metrópoles e substituído por carros, ônibus e metrô. O ano de 2011 foi negativamente marcante não apenas pelo grave acidente, precedido por outra tragédia: a morte de um turista francês que seguia em pé pelo estribo e se desequilibrou ao tentar fotografar do alto dos Arcos da Lapa. Após agosto, os bondinhos foram proibidos de circular, pela falta de segurança. Quatro anos depois foram feitos os primeiros testes de funcionamento, em abril de 2015. A reinauguração, de apenas um trecho da linha Dois Irmãos, aconteceu em julho. Hoje, a linha funciona com seis bondes só até o Largo do França, porém, ganhará mais duas composições até a inauguração do trecho, no fim de dezembro.

Marcos Tristão - As obras na Rua Paschoal Carlos Magno
Marcos Tristão - O bondinho de madeira amarela, tombado pelo estado
Marcos Tristão - Um dos buracos no trecho abandonado do Silvestre, na Rua Almirante Alexandrino