ASSINE
search button

Após um ano de obras, trens da Linha 3 do VLT começam a circular em caráter experimental

José Peres -
Trem do VLT circula sem passageiros na Marechal Floriano, em frente à Matriz de Santa Rita: Linha 3 ligará a Central do Brasil ao Aeroporto Santos Dumont e deverá entrar em operação até o fim do ano, com intervalos de sete minutos e dez paradas no trajeto
Compartilhar

Os operários ainda estão a todo vapor no acabamento das calçadas, porém, alguma coisa mudou na Avenida Marechal Floriano, no Centro: as composições do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) da Linha 3, que vai ligar o Aeroporto Santos Dumont à Central do Brasil, já começaram a circular em caráter experimental. “É um indício de que as obras estão terminando”, comemora Luiz César Martins, 50 anos, sócio da tradicional Casa Paladino, desde 1905 no local. Os dias de intensa poeira e calçadas esburacadas, iniciados em janeiro, estão contados, e a expectativa continua sem resposta: “Espero que seja bom”, especulou, apoiado em um caixote de bacalhaus, usados na confecção dos tradicionais bolinhos da casa.

Desde a última quarta-feira os moradores e comerciantes da avenida passaram a conviver com o ir e vir dos trens, ainda vazios, no trecho de 1km entre o Palácio do Itamaraty e a Igreja de Santa Rita de Cássia, ainda sem transportar passageiros por conta das conexões com as linhas 1 e 2. A entrada em operação da nova e última linha do sistema está prevista para o fim de dezembro. Serão dez paradas ao longo dos 4km entre a Central e o aeroporto, com intervalos de sete minutos. A expectativa da operadora é a de que, com a Linha 3, haja um aumento de 20% a 30% no volume de passageiros já nos primeiros meses de operação.

Macaque in the trees
Trem do VLT circula sem passageiros na Marechal Floriano, em frente à Matriz de Santa Rita: Linha 3 ligará a Central do Brasil ao Aeroporto Santos Dumont e deverá entrar em operação até o fim do ano, com intervalos de sete minutos e dez paradas no trajeto (Foto: José Peres)

Apesar do provável alívio à vista, o comerciante Michel Mekler, de 53 anos, há cinco estabelecido na Marechal Floriano com seu restaurante Dona Vegana, especula que tipo de clientes poderia trazer à sua casa uma linha que liga espaços hoje tão distintos, quanto um aeroporto e uma estação de trens que atende a bairros do subúrbio da capital de um estado em crise. “Não dá para saber se vai ser bom. O que adorei foi acompanhar o parque arqueológico, que, infelizmente, foi coberto, e as peças encontradas seguiram para a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj)”, lamentou.

Macaque in the trees
Mekler ainda está desconfiado da obra (Foto: José Peres)

Para ele, o maior problema foi a total falta de informação que precedeu o início das obras. “Só soube que ia começar depois que começou. Tive de providenciar correndo uma porta de vidro para o restaurante, que era aberto para a rua”, lembra Mekler, que recebeu muitos clientes que foram à Marechal Floriano só para conhecer o sítio arqueológico.

O sítio, por sinal, chegou a interromper as obras por três meses, quando foram encontrados vestígios de locais usados para a venda de africanos escravizados no século 19. A descoberta exigiu a contratação de equipes de arqueologia do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para acompanhar as escavações. A mais importante descoberta ficava na altura da Rua Miguel Couto: os alicerces de um imóvel construído em uma antiga área de chácaras. Inicialmente, o espaço seria usado para “venda de secos e molhados”, espécie de mercearia da época, depois substituída por um estabelecimento de comércio de escravos, de 1860 a 1874, segundo anúncios da época publicados no “Jornal do Commercio”, disponíveis na Biblioteca Nacional.

Mapas do período permitiram a comparação da área com a configuração atual da região na Marechal Floriano. Também foi resgatada ali uma estrutura circular com blocos de rochas, semelhante a um poço colonial. Entre os objetos identificados havia uma bola de ferro, provavelmente usada para prender os escravos e dificultar sua fuga.

Agora, este passado remoto voltou a mergulhar no esquecimento. De olho no futuro, o fim das obras representa a consolidação do projeto do VLT, segundo a assessoria de imprensa: “A concessionária vai deixar de ter dois objetivos, de implantar e operar, e passará a ser ainda mais focada no serviço de passageiros, que conecta os principais pontos do Centro e Região Portuária com segurança e pontualidade”. Hoje, o VLT transporta cerca de 70 mil pessoas por dia nas linhas 1 e 2, com picos acima de 80 mil em dias de maior movimento. A tarifa é de R$ 3,80.

Macaque in the trees
Martins comemorou o início dos testes (Foto: José Peres)

As etapas

A construção do VLT carioca foi parte de um antigo programa de revitalização do Centro do Rio, turbinado quando a cidade foi escolhida como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. O projeto fazia parte da substituição do Elevado da Perimetral, que degradava a região. Até agora, funcionavam duas linhas, com 26 paradas, inauguradas entre 2016 e 2017. A frota é composta por 32 trens Alstom Citadis, com 44 metros de comprimento e capacidade para 420 passageiros

Primeira a ser inaugurada, em 5 de junho de 2016, a Linha 1 faz o percurso do Aeroporto Santos Dumont à Rodoviária Novo Rio, trajeto de 6,4 km, com 20 paradas — entre elas, o Museu de Arte Moderna, a Cinelândia, o Teatro Municipal, as praças Mauá e da Harmonia. Com operação iniciada em 6 de fevereiro de 2017, a Linha 2 percorre 5,2 km, com 12 paradas, da Praça XV à Rodoviária Novo Rio, por vias como a Sete de Setembro, o Paço Imperial, a Praça da República e o terminal das barcas. O horário de funcionamento varia conforme o trajeto: Linha 1, das 6h à 0h; Linha 2, das 6h às 22h (Pça XV – Central) e das 6h às 20h (Central – Praia Formosa).

A implantação do VLT teve custo avaliado em R$ 1,157 bilhão, sendo R$ 525 milhões financiados por recursos federais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Mobilidade, e R$ 632 milhões viabilizados por parceria público privada. A licitação, realizada em 30 de abril de 2013, foi vencida por um consórcio formado pela Investimentos e Participações em Infraestrutura (Invepar), Odebrecht TransPort, Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), Benito Roggio Transporte e pela empresa de trens francesa RATP.

José Peres - Mekler ainda está desconfiado da obra
José Peres - Martins comemorou o início dos testes
Tags:

linha 3 | locomoção | obra | rio | tren | vlt