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Prisão de André Corrêa (DEM) deixa corrida pela presidência da Assembleia Legislativa do Rio ainda mais indefinida

Julia Passos/Divulgação -
Sessão no plenário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro: cadeira da presidência aguarda um nome para a legislatura que se inicia em janeiro do ano que vem
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Uma reviravolta típica de roteiro de trama policial embaralhou o jogo pela disputa da presidência da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Para essa “partida”, quatro jogadores chegaram a se apresentar. Dois efetivamente entraram em campo, mas, semana passada, um deles levou um cartão vermelho e teve que deixar a disputa – pelo menos momentaneamente. Na Alerj, começou uma movimentação para que o jogo não seja vencido por W.O.

Atual presidente em exercício da Casa, André Ceciliano (PT) ficou sozinho na disputa, semana passada, com a prisão de André Corrêa (DEM) na Operação Furna da Onça, desdobramento da Lava Jato, no Rio.

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Sessão no plenário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro: cadeira da presidência aguarda um nome para a legislatura que se inicia em janeiro do ano que vem (Foto: Julia Passos/Divulgação)

Ceciliano foi o primeiro a se apresentar para o jogo. As conversas iniciais saíram dos bastidores para o “campo” após sua reeleição (46.893 votos). Na atual diretoria da Alerj, ele era o 2º vice-presidente. Ano passado, com a prisão do presidente Jorge Picciani (MDB), o 1º vice-presidente Wagner Montes (PRB) deveria ter assumido. Problemas de saúde, porém, o afastaram da Casa.

O nome de André Corrêa (reeleito com 66.881 votos) também começou a “circular” durante o primeiro turno das eleições, época em que o candidato do seu partido ao governo do estado, Eduardo Paes, liderava as pesquisas de intenção de voto.

O resultado das urnas levou para a beira do campo dois jogadores: Rodrigo Amorim (PSL) e Márcio Pacheco (PSC). O primeiro foi o deputado mais votado do Rio, com 140.666 votos. O segundo (reeleito com 48.317 votos) é o líder do partido que elegeu o governador do estado, Wilson Witzel, com 59,87% dos votos válidos.

As eleições reduziram o poder de fogo do MDB. A bancada passou de 15 para 5 – foi a sigla que mais perdeu cadeiras. Já o PSL, antes com dois representantes, agora exibe 13, com o líder do partido, Flávio Bolsonaro, eleito senador. A força da sigla, em nível nacional, respaldou a pretensão do grupo de disputar a presidência da Alerj. Mas o nome de Rodrigo Amorim já tinha causado “mal-estar” na Casa Legislativa.

Em um comício, ele quebrou uma placa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL). Em seu discurso, chamou de “vagabundos” e “canalhas” os responsáveis pela homenagem. A bancada do PSL, junta, soma 1,2 milhão de votos. O grupo também começou a pleitear a presidência da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Alerj, atualmente presidida pelo líder do PSOL, Marcelo Freixo.

Criada em 1995, a CDH teve como primeira presidente Heloneida Studart, seguida por Chico Alencar e Alessandro Molon.

Nos bastidores, como de costume, a Alerj agiu rápido para apaziguar os ânimos. O resultado foi a desistência do PSL de lançar um candidato à presidência da Casa. O partido resolveu apoiar publicamente a candidatura de Corrêa e negociava fazer parte da chapa, nos cargos de primeiro e segundo vice-presidente. O fato de serem parlamentares em primeiro mandato também pesou na decisão da sigla abrir mão da presidência, uma vez que os novos deputados ainda não dominam as questões regimentais.

A candidatura de Corrêa foi fortalecida também com a declaração de voto de Márcio Pacheco, que desistiu da disputa. Na Alerj, seu único companheiro de bancada é Chiquinho da Mangueira, também preso na Operação Furna da Onça. Com a prisão de Corrêa, o PSL voltou a falar na possibilidade de lançar candidato próprio.

O que se comenta na Casa é que Ceciliano já estaria eleito se não fosse do PT. Ironicamente, o partido já pediu quatro vezes sua expulsão e chegou a suspendê-lo por oito meses (até fevereiro passado). “Tenho muitos defeitos. Porém, quando querem arrumar uma desculpa para não votar em mim, falam que é porque sou do PT. Na eleição, o deputado não vota em um presidente, mas na mesa diretora, que é suprapartidária”, disse Ceciliano em entrevista para o JORNAL DO BRASIL, na véspera das prisões da Operação Furna da Onça. No mesmo dia, seu adversário preferiu não dar entrevistas. Sim, ele votou favorável à soltura do atual presidente Jorge Picciani, além de Paulo Melo e Edson Albertassi, todos do MDB, presos há um ano pela Lava Jato do Rio. Também foi voto favorável a dar a Cedae como garantia de empréstimo na repactuação da dívida do Rio, cujo veto será analisado pela Alerj este mês. “Votei consciente do ônus que carreguei. O estado estava quebrado, e essa foi a possibilidade de salvar o Rio. Votar contra e fazer discurso é mais fácil”, disse ele que, sobre os números do estado, informou que o déficit do Rioprevidência está em R$ 12 bilhões e a dívida total do Rio chegou, em agosto, a R$ 150 bilhões. Para 2019, a previsão de déficit é de R$ 8 bilhões.

Ele disse que ainda não compôs sua chapa. Na primeira quinzena de dezembro, lançará sua “carta de compromisso de transparência”. Ouvir lideranças, cortar custos e dar mais agilidade nos trabalhos do plenário são suas “promessas de campanha”.

Na sua opinião, a nova composição da Alerj, com 36 novos deputados (total de 70), “é bom para oxigenar a casa”. “É bom que tenha disputa de ideias. Aqui é o parlamento, onde é preciso construir consenso”, afirmou.