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Moradores de Mauá promovem ato neste domingo para alertar sobre a situação crítica da RJ-163

Divulgação -
Um dos trechos críticos da estrada parque, na altura do Km 19,5; à esquerda, soluções precárias que deixaram a pista em mão única
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Amanhã, os moradores de Visconde Mauá, no Sul fluminense, fazem uma manifestação lúdica para chamar a atenção sobre o estado crítico da RJ-163, que liga a região serrana, a 1.200m de altitude, à Via Dutra, na altura de Resende, a 205km do Rio de Janeiro. Vai ter feira com o coletivo rural, roda de samba, apresentação de dança e doação de mudas no Parque Estadual da Pedra Selada. Tudo para chamar a atenção do governador Luiz Fernando Pezão e do governador eleito, Wilson Witzel, sobre o risco de nova interdição com a chegada da temporada de chuvas. O DER-RJ (Fundação Departamento Estadual de Estradas de Rodagem) chegou a contar cem quedas de barreira nos 28km de estrada.

As fortes chuvas que caíram no início de março interditaram a estrada e, na época, a previsão era a de que o isolamento perdurasse por, ao menos, seis meses. Nada disso, porém, aconteceu. Em apenas 28 dias, a estrada foi reaberta, durante a Semana Santa, por pressão do setor hoteleiro, que depende dela para sobreviver, sem que até hoje fossem feitas as necessárias obras de recuperação. “Nossa agonia começa a aumentar agora que as chuvas se aproximam e resolvemos fazer alguma coisa. Criamos o grupo ‘Queremos a RJ-163 de volta, segura e sustentável’, de moradores e comerciantes, que organizou a manifestação e já reuniu 500 assinaturas em um abaixo- assinado”, diz o administrador Odilon de Barros, frequentador de Mauá há 40 anos e há dois dono de uma pequena pousada no Vale da Santa Clara.

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Um dos trechos críticos da estrada parque, na altura do Km 19,5; à esquerda, soluções precárias que deixaram a pista em mão única (Foto: Divulgação)

Primeira estrada-parque do estado, inaugurada em dezembro de 2011, a RJ-163, batizada de Vereador Quirino, resultou de uma queda de braço entre ambientalistas, moradores e comerciantes. Os primeiros temiam a destruição da bucólica região — marcada por morros emoldurados por fileiras de araucárias e rios cristalinos — e os últimos não viam a hora de o asfalto chegar para turbinar os negócios. No final das contas, todos acabaram satisfeitos com o conforto proporcionado pelo asfalto, embora fosse mantida uma preocupação comum: que o estado falido deixasse de lado a manutenção da estrada que, até então, nunca fora interditada. Infelizmente o temor se tornou realidade.

A obra da estrada-parque, que acabou sendo vista com bons olhos também pelos ambientalistas, em função de cuidados como passagens subterrâneas para animais silvestres e a construção de elevatórias de esgoto para compensar o adensamento populacional, caiu no descrédito geral. Durante a interdição, a alternativa de acesso era a Serra do Eme (RJ-161), de terra, precária e que também inspira cuidados. “O sucesso dessa manifestação pode ser o embrião de novas lutas, como o cuidado com os rios, galinha dos ovos de ouro da região, e o lixo, que também poderá afastar o turismo a longo prazo”, especula Barros.

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Para os moradores, a chegada da temporada de chuvas pode voltar a provocar a interdição da via: DER-RJ chegou a contar cem quedas de barreira nos 28km de estrada (Foto: Divulgação)

Segundo o deputado estadual Carlos Minc (PSB), que capitaneou a obra da RJ-163, a estrada-parque foi concebida em um conjunto que envolveu a construção de três Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) biológicas em Maringá, Mauá e Maromba e a criação do Parque Estadual da Pedra Selada. “Quem fez a estrada foi o DER. Estamos há cinco anos fora do governo. E há três cobramos a manutenção da estrada, que nunca houve. Há dias, eu e o deputado Doutor Julianelli (PSB) voltamos a oficiar o DER sobre esta grave omissão. Também já informei duas vezes ao Ministério Público”, contabiliza Minc.

O DER-RJ respondeu ao JORNAL DO BRASIL que “está atuando com os serviços de conservação da rodovia, ou seja, tapa-buracos, roçada e limpeza do sistema de drenagem. Os projetos estão concluídos para recuperação dos quilômetros 19,5 e 15,8, os mais afetados. O processo para marcar a licitação está no fim”.

Origens remetem a carvão vegetal

A história da região começou com o pedido ao Império por Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá, para explorar carvão vegetal naquele trecho da Serra da Mantiqueira, que incluía o que hoje é Mauá e ainda Itatiaia, que se tornou o primeiro parque nacional do país, em 1937. A experiência do visconde não trouxe os resultados esperados, entretanto, acabou por batizar a região. De 1889 a 1892, nos primórdios da República, o governo ensaiou a criação de núcleos coloniais, e foi o filho de Irineu, o comendador Henrique Irineu de Souza, quem protagonizou a tentativa. O máximo que conseguiu atrair ao local, porém, foram 185 colonos, de origem austríaca e italiana.

A partir de 1907, o governo fez uma nova tentativa e, dessa vez, predominaram os alemães entre a nova geração de colonos. Os novos ocupantes priorizaram o cultivo de frutas europeias e cereais. Começaram a subir a serra também famílias de brasileiros, que investiram sobretudo na agropecuária leiteira, que fomentou a economia local até a década de 1980. Nesse meio tempo chegaram os hippies, que se identificaram com aquela natureza praticamente intocada e vieram em massa, na década de 1970. A partir de 1980, então, passa a predominar a atividade hoteleira, cuja largada foi dada pelos Bühler e pelos Büttner.

Divulgação - Para os moradores, a chegada da temporada de chuvas pode voltar a provocar a interdição da via: DER-RJ chegou a contar cem quedas de barreira nos 28km de estrada