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Xerife de Paquetá é exonerado do cargo

Militar reformado que mandou retirar placas com poesias perde função como administrador, mas não se arrepende

Reprodução Facebook -
Edson Moreira Brígido disse ao JB que também escreve poesias: "Fiz o que é certo"
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A exoneração do administrador da Ilha de Paquetá, o militar reformado Edson Moreira Brígido, foi publicada ontem no Diário Oficial do Município. Aos 57 anos, divorciado e pai de uma filha, Brígido diz que também escreve poesias e é professor de história. Eleitor de Marcelo Crivella, Wilson Witzel e Jair Bolsonaro, ele parece não entender muito bem o que aconteceu. “As árvores são tombadas e fixar placas com arames acabaria por deteriorá-las. Alguém acha que pode pregar uma placa com poesias, daqui a pouco vem outro com o time do coração, ia virar uma bagunça descontrolada e acabou naquela choradeira”, lamenta.

Ele diz frequentar a ilha desde jovem e que é amigo de moradores, que o indicaram ao cargo à prefeitura, “justamente pela isenção por não ser morador, para botar ordem”, acrescentou. Brígido assumiu a administração em 19 de outubro e passou o fim de semana seguinte “tomando pé da situação e vendo o que havia de errado”. Diz que já havia recebido mensagens reclamando pelo número “exagerado” de placas instaladas no local e achou no início que elas fossem de uma feira artesanal.

“Por uma lei de 1989, Paquetá se tornou uma Área de Proteção do Ambiente Cultural (APAC), que tomba das pedras às árvores. Tudo tem de ser mantido como era no século 19. E tem a lei federal de 2008, que condena a destruição ou deterioração dos bens protegidos por lei. Então orientei um funcionário da Comlurb a cumprir as leis e mandei fotos das plaquinhas. Pedi que ele as retirasse com cuidado, levasse para a administração e explicasse às pessoas que as placas poderiam ser instaladas dentro de seus terrenos, mas não em áreas públicas”, diz.

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Edson Moreira Brígido disse ao JB que também escreve poesias: "Fiz o que é certo" (Foto: Reprodução Facebook)

O que Brígido não esperava era pela reação dos moradores. “Foi horrível, passei a sofrer muitas ameaças e agressões pela Internet. Inventaram até que arrumei problemas com o pároco, só que eu nem o conheço. Disseram que eu estava implicando com os autores das placas por eles serem de esquerda, só que sei que pelo menos 70% dos moradores da ilha são eleitores de Bolsonaro”, alega. Ele admite, porém, que possa ter agido com “inabilidade política”. Mas não se arrepende: “Fiz o que é certo”.

O sentimento da aposentada e artesã Tânia Maria de Andrade, 65 anos, há 12 moradora da ilha que frequenta há mais de três décadas, autora das 108 plaquinhas removidas por ordens de Brígido, é de “indiferença”, diante de sua exoneração: “Não devo nada a ele e nem ele a mim. Só lamento porque ele poderia fazer uma boa gestão se tivesse chegado com outra postura”. Ela acredita que a reação do administrador teria origem em crenças políticas e avisa: “Não sou filiada ao PT ou qualquer partido. Vi esse tipo de iniciativa em outras cidades que conheci e fiz as plaquinhas pela beleza, pela poesia”, justifica. “Tudo o que queremos é paz”, afirma.