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Capela de São Pedro de Alcântara já tem telhado, porém ainda não há prazo para a restauração completa

Marcos Tristão -
A capela ainda bem destruída pelo incêndio
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Sete anos se passaram. O telhado já foi recuperado, assim como a fachada, porém, não há estimativas sobre quando a Capela São Pedro de Alcântara, no Palácio Universitário da Praia Vermelha, na Zona Sul, consumida por um incêndio em 28 de março de 2011, será totalmente recuperada. Mal comparando, por sua importância histórica, as chamas chocaram a população em proporções semelhantes às do Museu Nacional: a capela de estilo neoclássico foi construída junto ao Hospício Pedro II, o primeiro do país, fundado em 1852. A atual etapa de restauração, que inclui o palácio, é tocada pela empresa Biapó, está orçada em R$ 21 milhões e tem conclusão prevista para março de 2019.

Conforme o arquiteto do escritório técnico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Bellinha, o projeto em andamento só prevê telhados e fachada, os acabamentos ficarão para uma próxima etapa. “Pelo atual governo, levariam mais cerca de 20 anos. Pelo próximo, pode durar menos tempo ou até muito mais”, tenta contabilizar.

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A capela ainda bem destruída pelo incêndio (Foto: Marcos Tristão)

Por enquanto, o jeito é apreciar o cuidadoso trabalho dos técnicos da Biapó, que recuperam o teto do foyer da capela, onde descobriram acabamentos soterrados por várias camadas de tinta branca, bem como as colunas cujo aspecto original imitava mármore. Por enquanto, a cobertura que existia nas paredes laterais do hall de entrada é exposta em pequenas janelas. “Será possível recuperar tudo isso, no entanto, vai requerer tempo e dinheiro”, avalia Bellinha. A restauradora Luciene Akaboshi é mais otimista: “Se nessa região onde havia mais contato direto com o público a parede estava nesse estado, nas partes mais altas deve estar muito melhor”, acredita. O atual projeto ganhou também sete alçapões-claraboias, aprovados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)-, já que o prédio é tombado -, para afastar os morcegos que costumam vagar pelos telhados.

Ela se entusiasma com a recuperação da fantástica claraboia retangular com vidros belgas verdes, vermelhos, amarelo mostarda, pequenos quadrados azuis nas extremidades e estrutura metálica dourada, pintada com tinta mineral para não oxidar, hoje ainda escondida do campo se visão pelas madeiras que permitem o trabalho dos técnicos no local, entre o foyer e o telhado. Descansam nos corredores laterais da capela as enormes peças de peroba do campo e peroba rosa, doadas pela Casa da Moeda para o assoalho da capela, cujas réguas de 30 cm de largura não existem mais. “Numa próxima etapa, desmontaremos o piso para repaginá-lo. Já existem alguns remendos anteriores, vamos mapear e decidir como fazer”, diz Bellinha.

A visita ao local ainda não é capaz de confortar os que lamentaram a destruição da capela. Palco de casamentos e eventos comemorativos, o telhado já reconstruído, pelo menos, ajuda a preservar das chuvas o que restou do miolo da capela, com 400 m², que somam 750 m² incluindo os corredores laterais no primeiro, segundo pavimentos e escadarias, além de mais 530 m² do coro, correspondente ao terceiro andar. As paredes laterais de pedra e óleo de baleia ainda estão chamuscadas e o que mais impressiona é a escultura de bronze do Cristo suspensa no ar, já que a cruz de madeira ardeu completamente. As imponentes colunas coríntias também mantêm as bases de suas extremidades bastante destruídas.

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A claraboia já restaurada (Foto: Marcos Tristão)

Tanta demora tem explicação. Quando ocorreu o incêndio, a obra já estava em andamento e o fogo foi causado por imperícia da empresa inicialmente contratada, a Terreng, multada e afastada do projeto, cuja licitação foi vencida pelo menor preço - clássico caso do barato que sai caro. Mesmo antes do incêndio, a UFRJ já tentava afastá-la do projeto pelos sucessivos atrasos no cronograma. Só o cancelamento do contrato e a nova licitação consumiram três anos. “Na hora do almoço, subiram ao telhado funcionários dessa empresa com um maçarico para soldar com estanho as chapas de cobre da rotunda. Foi ali que começou o incêndio, que rapidamente se alastrou e fugiu ao controle”, lamenta Bellinha.

A obra começou em 2005 e incluiu a estruturação elétrica até os quadros de luz de todo o palácio, com 14 mil m². A fachada já passou por uma base de cal ocre, diferente do original, porque realça os detalhes arquitetônicos com tons mais claros, diferencial que será mantido após a pintura final, que só virá em uma próxima etapa.

Segundo Bellinha, o projeto de restauração completa do Palácio da Praia Vermelha, - que sucedeu em 1948 o Hospício Pedro II, transferido para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, na Zona Oeste, e para o Engenho de Dentro, na Zona Norte -, atualmente em funcionamento normal, e da Capela de São Pedro de Alcântara, já está aprovado pelo Iphan, bem como o orçamento de R$ 20 milhões para a próxima etapa, que prevê instalações hidráulicas e sistema de prevenção de incêndios para a ala central do palácio. Como sempre, o problema é garantir os recursos necessários .

Marcos Tristão - A claraboia já restaurada