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Novo administrador de Paquetá retira placas com poemas afixadas em árvores e corre o risco de ser exonerado

Reprodução -
Uma das placas retiradas traz versos do poeta Manoel de Barros: reação da Casa Civil foi rápida secretário disse que se administrador não recolocá-las, será exonerado
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Poesia numa hora dessas? Pois é, querem acabar com a poesia logo no mais lírico dos bairros da cidade. O novo e polêmico administrador regional de Paquetá, o militar aposentado Edson Moreira Brígido, de 57 anos, determinou ontem a retirada de 104 placas de madeira com poemas que os moradores da ilha, por iniciativa própria, haviam pendurado em árvores da orla. Brígido alegou que a medida faz parte de uma ação de ordenamento urbano da cidade.

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Uma das placas retiradas traz versos do poeta Manoel de Barros: reação da Casa Civil foi rápida secretário disse que se administrador não recolocá-las, será exonerado (Foto: Reprodução)

Não foi esta a primeira polêmica do novo administrador. Ao tomar posse, Brígido divulgou um vídeo em suas redes sociais avisando aos moradores que tinha “poder de polícia” para pôr ordem na ilha e que havia colocado uma equipe monitorando as redes sociais para processar quem ousasse criticá-lo.

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Banco na Praça do Imbuca recuperado por artista plastica: administrador proibiu intervenção (Foto: Reprodução)

“Não é assim que ninguém chega em lugar algum”, comentou o padre Nixon Bezerra, pároco da Igreja do Bom Jesus do Monte, em Paquetá: “A pessoa não pode assumir um cargo e criar problemas desse tamanho. Espera-se de um administrador a capacidade de construir pontes”. Segundo Bezerra, a tradição de se afixar placas em árvores nas praias de Paquetá é antiga, e teria começado ainda nos tempos do prefeito Pereira Passos, que certa vez colocou uma placa em uma árvore no jardim da igreja.

A medida do administrador regional revoltou os moradores. Muitos deles pediram as placas aos garis que as estavam recolhendo. A ideia é reunir todas elas, no domingo, às 10h, em um protesto contra Edson Brígido na frente da estação das barcas. Um abaixo-assinado começou a correr entre os moradores e, até o fechamento desta edição, quase mil dos 4.500 habitantes já haviam assinado o documento que pede a exoneração de Brígido.

Além das plaquinhas, Brígido notificou também a artista plástica Jhale Jamal, informando que ela não poderia mais reformar os bancos de concreto da Praça do Imbuca. Jhale recuperava banquinhos de concreto quebrados e os pintava com motivos floridos. Em seu perfil no Facebook, Jhale protestou contra as medidas. “Nada fazem por Paquetá e não deixam que ninguém faça algo para revitalizar o bairro. O maior inimigo de Paquetá é o poder público municipal”, afirmou a artista.

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Brígido fez campanha para Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução)

“A gente compara Paquetá com a Sucupira do Dias Gomes, temos até as nossas irmãs Cajazeiras, que são um grupo de senhoras do movimento Endireita Paquetá”, conta Ricky Goodwin, editor do jornal local “A Ilha”. Segundo ele, o movimento estaria tentando implantar uma agenda conservadora no bairro, que passa pela proibição das festas nas ruas e o desfile de blocos no Carnaval. “São medidas que não fazem nenhum sentido, afinal Paquetá sempre foi considerada um endereço de músicos e artistas”, diz Ricky.

No fim da tarde de ontem, o secretário da Casa Civil, Paulo Messina, determinou que o administrador regional de Paquetá, Edson Moreira Brígido, recoloque as placas feitas pelos moradores com poesias e que foram retiradas das árvores na região. Caso contrário o administrador será exonerado.

Reprodução - Banco na Praça do Imbuca recuperado por artista plastica: administrador proibiu intervenção
Reprodução - Brígido fez campanha para Jair Bolsonaro