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Trilho curto para o Bonde de Santa

Governo promete concluir uma das linhas do bondinho até dezembro, entretanto, moradores cobram trecho da Paula Mattos

Marcos Tristão -
A linha Dois Irmãos será concluída até o fim do ano, segundo a Secretaria de Transportes, enquanto a linha Paula Mattos continua sendo apenas um projeto
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Mais de sete anos se passaram desde que um acidente envolvendo o bondinho de Santa Teresa deixou cinco mortos e 57 feridos. Por cinco anos, os moradores perderam seu principal patrimônio: o transporte que integrava todo o bairro e os permitia chegar ao Centro. Desde 2016, o bonde voltou a funcionar, mas só no trecho de cerca de três quilômetros entre o Largo da Carioca e o Largo do Guimarães. Passados mais de dois anos de obras, moradores aguardam a conclusão de uma das duas linhas do bonde, que fazia o percurso do Largo da Carioca até a estação Dois Irmãos, num total de quase seis quilômetros. Segundo a Secretaria estadual de Transportes (Setrans), o trajeto será completamente restabelecido até dezembro.

No dia 1º, foi iniciada a operação entre a Praça Odylo Costa Neto e a Travessa Vista Alegre. Na semana passada, foi concluída outra etapa da obra, da Travessa Vista Alegre até o Largo do França. As ampliações restituíram aos usuários um quilômetro e meio do trajeto original. No entanto, moradores da região questionam a ausência de obras para restabelecer um segundo percurso, o da linha Paula Mattos, que ligava o Largo da Carioca ao Largo das Neves, uma região do bairro hoje maltratada pelo abandono.

Questionada, a Setrans alega que, até dezembro, o bairro terá os mesmos seis quilômetros de linha anterior ao acidente de 2011, no qual foram investidos R$ 9 milhões em obras de recuperação. Para a linha Paula Mattos, no entanto, ficará só um “um planejamento da ampliação”, para o próximo governo. A revitalização deste trajeto não foi sequer orçada pelo governo.

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A linha Dois Irmãos será concluída até o fim do ano, segundo a Secretaria de Transportes, enquanto a linha Paula Mattos continua sendo apenas um projeto (Foto: Marcos Tristão)

“Quando houve o acidente, em 2011, o sucateamento do serviço de bondes já estava tão grande que a linha Paula Mattos só tinha os bondes passando uma vez ou outra. Isso era um absurdo e já naquela época prejudicava muito a população”, relembra Álvaro Braga, vice-presidente da Associação de Moradores de Santa Teresa (Amast). “Mas não podemos abrir mão desta linha depois deste grande período de obras, porque se trata de um trajeto fundamental para a população. É esta linha que atende os moradores do Morro da Coroa e da Rua Monte Alegre , além de visitantes que queiram conhecer o Largo das Neves”, explica.

A linha abandonada atendia os moradores das ruas Paschoal Carlos Magno, Monte Alegre, Oriente e Progresso, chegando ao Largo das Neves, onde está localizada a histórica capela de Nossa Senhora das Neves. O larguinho, rodeado de casarões com mais de 150 anos, era ponto de encontro dos moradores e visitantes do Brasil e do mundo. Ali, grupos costumavam se reunir no fim do dia para admirar o pôr do sol. Nos últimos anos, contudo, a região sofre com o esvaziamento, sentido pelo comércio local. “Muitos turistas param no Largo do Guimarães, porque é só até lá que vai o bonde. Os comerciantes mais próximos ao Largo das Neves tiveram que baixar as portas, por falta de movimento”, queixa-se o comerciante Ricardo Pose Garcia, de 58 anos, que mantém dois estabelecimentos entre as ruas Monte Alegre e Áurea — um deles, o tradicional Bar do Gomes.

Morador da Rua Almirante Alexandrino, na altura do Largo do França, para onde a obra da linha Dois Irmãos está se expandindo, o arquiteto Marcos Campos, de 66 anos, cobra agilidade. “Todo dia venho dar uma olhadinha na hora do teste, que acontece uma vez por dia. Sofremos durante muito tempo com a deficiência de transportes. Sem o bonde, nossa oferta se limita aos ônibus, que param muito mais e fazem o trajeto até o Centro ficar mais longo”, reclama.

Morador do bairro há 33 anos, o artesão Getúlio Damado, 63 anos, reclama do valor do bilhete para turistas e do horário de funcionamento atual. “O valor de R$ 20 por passageiro é alto. Nem todo mundo é estrangeiro e vem de fora. Tem gente que é de outros lugares do Brasil ou do Rio”, critica. “Além disso, esse horário só até as 17h e precisa ser ampliado. É muito cedo para os bondinhos encerrarem suas atividades. É necessário pensar no morador e não apenas nos turistas”.