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Socorro só depois da tragédia

Ministro da Educação anuncia liberação imediata de R$ 15 milhões, mas orçamento de R$ 550 mil só dava para pagar custeio do museu

Marcos Tristão -
Vista aérea do Museu Nacional após o incêndio de domingo: verbas que poderiam ter evitado a tragédia tiveram que ser usadas para manter a instituição aberta
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Foi preciso o Museu Nacional do Rio de Janeiro pegar fogo para a instituição conseguir a promessa de obter, de imediato, uma verba que vem pleiteando há dois anos. E um pouco mais. Responsável pela captação de recursos, a Associação de Amigos do Museu Nacional do Rio de Janeiro, trabalha, desde 2016, em um edital do BNDEs para que a instituição consiga um aporte de R$ 21,7 milhões. O primeiro desembolso, no valor de R$ 3 milhões, estava previsto para chegar ao museu no mês que vem. Por conta do incêndio, que destruiu o prédio histórico, na Quinta da Boa Vista, o ministro da Educação, Rossieli Soares, afirmou, ontem, em uma entrevista no Rio de Janeiro, que vai liber ar R$ 10 milhoes “de imediato” para o museu realizar obras de segurança, “inclusive estrutural”. Prometeu também que outros R$ 5 milhões seriam destinados para a implantação de um “projeto executivo” voltado para a recuperação do Museu.

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Vista aérea do Museu Nacional após o incêndio de domingo: verbas que poderiam ter evitado a tragédia tiveram que ser usadas para manter a instituição aberta (Foto: Marcos Tristão)

Em nota, o BNDEs informou que “diante do ocorrido”, o banco se colocava à disposição da direção do Museu Nacional e da Universidade Federal do Rio de Janeiro “para redirecionar os recursos já aprovados aos esforços de reconstrução do prédio e, no que for possível de restauração do acervo”.

A UFRJ é a responsável pela gestão do museu, que deveria receber um repasse anual de R$ 550 mil da universidade. Há três anos, porém, recebe cerca de 60% desse valor. Em 2013, o orçamento do museu era de R$ 987,9 mil. Em 2017, foi de R$ 643,5 mil. Recorrer ao BNDES foi a forma que a UFRJ encontrou para buscar fontes suplementares de recursos para o museu. Essa situação é um reflexo da queda do orçamento da própria UFRJ. De acordo com a reitoria, a universidade sofreu uma perda de R$ 140 milhões, nos últimos quatro anos. A secretária-executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, disse, no entanto, que o orçamento federal destinado à universidade aumentou 15% entre 2015 a 2017, em termos nominais.

O incêndio de domingo foi o quinto do tipo em um prédio ligado à UFRJ. O próprio prédio onde funciona a reitoria, na Ilha do Fundão, ainda sofre as consequências de um incêndio, ocorrido há dois anos. Até hoje, os andares do quinto ao nono estão interditados. Somente há duas semanas, o elevador voltou a funcionar, e os escombros do incêndio que destruiu o oitavo andar foram retirados. No prédio funcionam as faculdades de Arquitetura e Urbanismo e Belas Artes.

Em agosto do ano passado, o alojamento da universidade também foi incendiado, deixando quatro feridos. O prédio, com mais de 50 anos, nunca passou por uma reforma de infraestrutura, segundo a própria UFRJ informou.

Há três meses, o nono andar do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho também pegou fogo. Em 2011, outro edifício da UFRJ incendiado foi o Palácio Universitário, na Praia Vermelha, Zona Sul do Rio. Com o fogo e a queda de parte da estrutura, foi destruída a capela São Pedro de Alcântara, datada de 1850 e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

“Nosso recurso de custeio não tem margem para fazermos manutenções de prédios tombados. A verba é dividida entre as unidades para limpeza e segurança. Temos a convicção que a UFRJ faz a distribuição do custeio de forma equilibrada, mas, desde 2014, há perdas no nosso orçamento”, afirmou o reitor da UFRJ, Roberto Leher.Leher admitiu que o Museu Nacional não tinha brigada de incêndio. Segundo ele, não há recursos para “manter pessoal durante 24 horas na edificação”.

Parte da verba que chegaria ao museu via BNDES seria usada para prevenção de incêndio. O restante, estava destinado para a recuperação de duas salas históricas (dos Embaixadores e do Trono), do Jardim das Princesas, da escada interna de madeira e salas do terceiro andar, reservada para funções administrativas que sofriam, principalmente, com avarias no telhado do prédio.

Ontem, o presidente Michel Temer articulou a criação de uma rede de apoio econômico para viabilizar a reconstrução do museu. Formado inicialmente pela Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil, Caixa, BNDES, Vale e Petrobras, o grupo deve se empenhar nesse objetivo “no tempo mais breve possível”, segundo nota divulgada pelo Palácio do Planalto.

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