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Crítica Teatro: Judy Garland - O fim do arco-íris

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Judy Garland, uma das estrelas mais queridas da época de ouro do cinema americano, foi personagem que inspirou diversos trabalhos de ficção sobre sua carreira e biografia. Alguns deles longos e densos, como minisséries especiais produzidas para os canais pagos norte-americanos,que exploravam o surgimento de Judy nas telas, o cotidiano do trabalho nos estúdios de cinema e sua decadência como artista devido à depressão, ao alcoolismo e ao vício em drogas. O espetáculo produzido pela Aventura Entretenimento, atualmente em cartaz no Teatro Fashion Mall, se concentra nos últimos meses da trajetória de Judy Garland, passados em Londres, onde fazia shows para tentar resolver parte dos graves problemas financeiros decorrentes da má administração de seus bens, carreira e vida pessoal. O subtítulo 'O fim do arco-íris'  ilustra bem o contexto da peça, pois aponta para a perda da cor e do brilho da artista em seus momentos finais.

Apesar de trabalhar com um tema explosivo, o texto de Peter Quilter fica aquém das possibilidades que a situação dramática apresentada poderia engendrar, pois, como opta pelo puro entretenimento e pelo riso da platéia, a apreciação dos conflitos fica mais superficial e prejudicada. Assim, as personagens brigam em quase todas as cenas, mas tais disputas se repetem muito (sempre giram em torno do vício de Judy em remédios e bebidas) e terminam, na maior parte dos casos, de maneira cômica. O espectador, simplesmente convidado a se divertir, ainda que dentro de um arcabouço no qual se demanda alguma inteligência, acaba por abdicar de uma reflexão mais aprofundada a respeito do contraponto fundamental do artista do chamado show business : a total doação a seu público, que chega a implicar na perda de uma identidade pessoal em prol da construção da persona artística, e o egocentrismo absoluto, que o impede de irmanar-se ao outro, de sentir com ele fora da experiência da arte.

Alguns diriam que musicais não são feitos para provocar maiores reflexões, mas Judy Garland – O fim do arco-íris não é um musical no  sentido mais estrito, é um espetáculo do qual fazem parte algumas canções cantadas pela personagem principal no show que realiza dentro da peça. Não há nenhuma preocupação em dar àquela trilha sonora um sentido dramático maior no conjunto, a não ser o de mostrar, pela interpretação, a decadência física e psicológica da personagem.

O trabalho do elenco, dentro do já conhecido padrão de qualidade da assinatura Moeller-Botelho, é de bom nível, com destaque para Cláudia Netto, que apresenta bela voz, apesar de possuir um timbre vocal diferente do de Garland. Sua Judy é um tanto energética em demasia, opção que garante efeito cômico diante da personagem de Gracindo Júnior, o pianista amigo de longa data, de postura fria e comedida. Igor Rickli, no papel do último marido, tem o físico perfeito para o personagem e consegue marcar presença no palco.

A cenografia de Rogério Falcão não é especialmente criativa, preocupa-se apenas em apresentar soluções para o desenvolvimento da ação. Os figurinos de Marcelo Pies são adequados à proposta da direção e contribuem com alguma beleza para o resultado final. A iluminação de Paulo César Medeiros modula o clima dos acontecimentos de maneira competente, e a direção musical de Cláudio Botelho logra dar vida às canções, levando o público a acompanhar com a própria voz melodias e letras.

Judy Garland – O fim do arco-íris é um espetáculo ao qual se assiste com certo interesse, ainda que não resulte numa contribuição realmente memorável para a produção teatral carioca.