POLÍTICA
'Timing': A explicação do Planalto para a fala de Lula sobre 'armação' de Moro após operação da PF
Por POLÍTICA JB com Revista Forum
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Publicado em 24/03/2023 às 05:15
Alterado em 24/03/2023 às 06:51
Ivan Longo - O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), Paulo Pimenta, afirmou em conversa com jornalistas no Palácio do Planalto, nesta quinta-feira (23), que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não questionou a operação da Polícia Federal deflagrada na quarta-feira (22) que desbaratou um planejamento do Primeiro Comando da Capital (PCC) para matar autoridades, entre elas o senador Sergio Moro (UB-PR).
Mais cedo, Lula deu uma declaração considerada polêmica ao comentar a repercussão da operação da PF, que está sendo utilizada politicamente pela extrema direita com ilações que tentam o associar ao crime organizado, como se ele tivesse envolvimento nos planos de atentado contra Moro. De acordo com o presidente, isso se trataria de uma "armação" do ex-juiz.
“Olha, eu não vou falar por que... Eu acho que é mais uma armação do Moro... Mas eu vou ser cauteloso, eu vou descobrir o que aconteceu... É visível que é uma armação do Moro... Mas eu vou pesquisar, eu saber o porquê da sentença, até porque a juíza nem estava em atividade quando deu o parecer pra ele... Mas isso a gente vai esperar, eu não vou ficar atacando ninguém sem ter provas... Eu acho que é mais uma armação e se for uma armação, ele vai ficar mais desmascarado ainda, sabe? E eu não sei o que ele vai fazer da vida se ele continuar mentindo do jeito que tá mentindo”, havia disparado o presidente.
De acordo com Pimenta, com tal declaração, Lula não questionou as investigações da PF sobre o caso, mas sim o "conjunto de "coincidências" e o "timing" com a qual a operação foi deflagrada. Isso porque a juíza citada por Lula em sua fala é Gabriela Hardt, que já assinou sentença contra ele quando substituiu Moro na operação Lava Jato e, desta vez, foi a responsável por autorizar os mandados de busca e apreensão cumpridos na operação que desbaratou os planos do PCC e que levaram 9 membros da organização criminosa à prisão.
“A fala do presidente em nenhum momento questiona a investigação, até porque foi conduziada pela PF [Polícia Federal] e pelo MJ [Ministério da Justiça]. Mas acho que o objeto do questionamento foi o conjunto de coincidências, fatos que acabam trazendo de volta toda uma memória sobre o método que foi utilizado contra ele, muitas vezes; mesmos personagens”, declarou o ministro.
"Muito mais do que como presidente, mas como ser humano, é natural o sentimento de indignação. Mas em nenhum momento ele questiona o trabalho da Polícia Federal e do Ministério da Justiça. Muito pelo contrário, o presidente tem consciência do trabalho da Polícia Federal”, emendou Pimenta.
Timing
A partir do anúncio, que veio à tona com a operação da PF, de que Moro seria um dos visados pelo PCC, a extrema direita e outros setores políticos próximos do senador paranaense passaram a fazer uma ilação amalucada que de que Lula estaria tramando a morte de Moro, tentando reavivar uma fantasiosa teoria de conexão entre o PT e facções do tráfico de drogas.
O timing, de fato, foi perfeito para tal narrativa. Para dar mais consistência ao argumento foi usada uma declaração de Lula, dada um dia antes, de que na época em que esteve preso ele só queria “foder o Moro”. Na mesma data, e portanto um dia antes da operação da PF contra o PCC, o ex-juiz reagiu dizendo que sua vida estaria ameaçada.
A principal razão pela qual Lula suspeita que a operação tenha sido uma armação, dizem interlocutores, jaz no transcorrer dos acontecimentos. No dia seguinte à troca de farpas pública, quando Moro afirmou que estaria em risco, uma magistrada que mantém ligações com o ex-juiz autorizou a operação.