ARTIGOS
Fome
Por TARCISIO PADILHA JUNIOR
[email protected]
Publicado em 09/03/2023 às 09:59
Alterado em 09/03/2023 às 09:59
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte, a fábula inconclusa, suportar semelhança de coisas ásperas de hoje com as de amanhã?
Carlos Drummond de Andrade
Fome, de 1890, é possivelmente o melhor dos romances de Knut Hamsun, prêmio Nobel de Literatura de 1919.
Presa de singulares tormentos da fome, protagonista se deixar assaltar por miúdas contingências a se insinuarem entre as representações do seu espírito e a dispersarem suas forças ao vento.
Perdido em suas reflexões, sente-se cada vez mais azedo em relação a Deus, que supõe aperfeiçoá-lo via martírio.
A pobreza aguça nele certas faculdades: diz que o pobre, desconfiado, examina cada palavra das pessoas que vai encontrando. Tem ouvido fino, é impressionável, leva queimaduras na alma.
Na linha de Dostoievski, o estilo original do autor expõe processos narrativos audaciosos que empolgam o leitor.
Hoje, o funcionamento da sociedade adquire uma complexidade jamais imaginada com o advento da cibercultura. Mera prática de verter palavras escritas não dá conta do indizível no humano.
Há uma cultura que orienta a percepção do mundo material: ser humano dele se apropria pela lógica dessa cultura.
São incontáveis as situações nas quais percebemos que o sentimento é muito mais importante do que as palavras. Modo de expressão e aparência fundamentalmente se sobrepõem às palavras.
Nos dias que correm, somos tentados a considerar o desenvolvimento da comunicação como processo contínuo,
Engenheiro, é autor de "Por Inteiro" (Multifoco, 2019)