A busca por produtos mais saudáveis, naturais e feitos sem agredir o ambiente tem saltado do campo alimentar para o de cosméticos, e algumas pessoas já vêm desenvolvendo dentro de casa xampus, hidratantes e sais de banho como alternativas naturais às disponíveis no mercado. Em alguns casos, as formulações inicialmente feitas de modo caseiro, para a própria pele, estão se aprimorando e já passam a ser vendidas em feirinhas artesanais de São Paulo ou pela internet.
Foi o que aconteceu com Ane Rocha, de 31 anos, que até 2013 tinha uma vida acelerada e sentia falta de tempo e espaço para cuidar de si. "Estava me afastando do que eu acreditava. Era hora de parar um pouco e olhar para mim. Comecei a procurar coisas mais naturais, fiz cursos e, na minha primeira oficina de aromaterapia, me apaixonei pelos óleos essenciais. Tinha vários cosméticos e não sabia o que tinha dentro deles."
Das dúvidas ao ler os rótulos dos produtos, ela passou à tentativa de produzir o que usaria para cuidar da pele e dos cabelos. O passo seguinte foi presentear amigos e, desde maio do ano passado, começou a vender os produtos que criou com a marca Notas de uma Busca. As feiras especializadas em produtos artesanais e a internet são os principais pontos para os artigos dela."A gente pode ter mais controle sobre o que está passando na pele, usar ingredientes naturais e do nosso País, que tem uma diversidade botânica que a gente não conhece e não honra."
Mesmo sendo produtos artesanais, ela diz que trabalha para que tenham um controle de qualidade, e a casa dela foi adaptada para o negócio.
A apresentadora Alana Rox, autora do livro Diário de uma Vegana (Editora Globo Estilo), faz desodorante, pasta de dente e sabonete em casa e ensina as versões caseiras. "A natureza não precisa de rótulo. Acabei me aprofundando e fui fazendo a minha própria maquiagem e meus produtos de limpeza. A pessoa pode potencializar os benefícios usando ingredientes anti-inflamatórios e antibacterianos, como o óleo de coco, o óleo de cravo", afirma.
Ela, que é embaixadora da ONG Mercy For Animals no Brasil, conta que tem notado um movimento crescente de pessoas que estão buscando preparar seus cosméticos ou versões artesanais. "As pessoas estão despertando para ler rótulos e estão precisando de coisas mais naturais. Elas estão indo para um caminho mais leve, que não agride os animais nem o ambiente", diz.
Para quem quer se aventurar na produção dos próprios cosméticos, Alana indica três ingredientes essenciais. "Óleo de coco, bicarbonato de sódio e vinagre resolvem a vida."
Um dos criadores da Grön Handmade, Lucas Vasconcellos Czepaniki, de 26 anos, começou a fazer cosméticos em casa com a mulher, Lorena Vasconcellos Czepaniki, de 27 anos, há um ano e meio, quando buscavam produtos veganos.
"As alternativas eram muito caras. Começamos a tentar fazer sabonete, xampu. A Lorena começou a pesquisar formas de fazer em casa, realizamos um teste e trouxemos uma leva de dez sabonetes para o local onde eu trabalhava na época. Vimos que dava para fazer o negócio", relembra Czepaniki.
Cuidados
Produtos naturais também precisam ser testados por quem vai usá-los, e os rótulos devem ser lidos, explica a médica da Sociedade Brasileira de Dermatologia Lilia Guadanhim. "No caso de cosméticos naturais, o grande risco é de alergias."
Mas é mesmo possível fazer os próprios cosméticos em casa? Segundo Lilia, sim. "O óleo de coco parece ter um potencial hidratante bom. A pessoa pode fazer um esfoliante mais levinho", diz.
Produto infantil
No fim de abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concluiu uma consulta pública com o objetivo de estabelecer quais produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes necessitam de registro para comercialização - previsto na Resolução da Diretoria Colegiada 7/2015, que pode ser alterada após conclusão da consulta.
"A principal mudança em consulta pública é a migração dos produtos infantis do processo de registro para o processo de isenção de registro. Restando sujeitos a registro apenas os protetores solares, os repelentes de insetos, os alisantes capilares e os géis antissépticos para as mãos", diz João Tavares Neto, gerente-geral de Produtos de Higiene, Perfumes, Cosméticos e Saneantes da Anvisa.
Tavares Neto diz que a mudança não vai oferecer riscos às crianças. De acordo com ele, esses produtos são considerados de baixo risco e, na maior parte do mundo, o registro não é exigido. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.