“Um desejo de mudança”, essa é a bandeira que a pré-candidata Marina Silva levanta para a disputa eleitoral de outubro. A ex-ministra do Meio Ambiente afirmou ao JB que “a eleição de 2014 foi uma fraude”, e que “a sociedade, desta vez, não vai ser enganada por marqueteiros”. Marina também disse que não há “nenhuma hipótese” de não haver pleito este ano.
Fundadora da Rede em 2015, a pré-candidata defende um plano voltado para “sustentabilidade social, econômica, cultural, e política”. Ela também concorreu ao cargo de Presidente da República em 2010, pelo PV, e em 2014, pelo PSB, mas ficou em terceiro lugar no primeiro turno. Agora, Marina confia que vai ao segundo turno e será vitoriosa.
A senhora acha que há algum risco de não ter eleições este ano?
Em hipótese nenhuma. Nós temos uma democracia que foi conquistada a duras penas. Não podemos permitir que qualquer tipo de saudosismo autoritário possa ter espaço nesse debate, apesar daqueles que sabotam a República. Todos os democratas, independentemente de partido e ideologia, devem rechaçar com veemência esse discurso. As Forças Armadas têm o seu papel na Constituição, em combinação com um governo democraticamente eleito.
A senhora está ocupando uma posição de destaque nas pesquisas. Está jogando com a expectativa de ir para o segundo turno?
A sociedade brasileira tem a expectativa de que, desta vez, não vai ser enganada pelos marqueteiros, pelo dinheiro roubado da Petrobras, dos fundos de pensão da Caixa Econômica, e do Banco do Brasil. A Lava Jato trouxe a verdade do envolvimento dos grandes partidos, PT, PSDB, e PMDB, com suas principais lideranças juntas com o DEM, nos graves casos de corrupção do Brasil. A sociedade quer recuperar uma governança que não seja na base do toma lá dá cá. Nós temos que fazer a mudança.
As intenções de voto na senhora são fruto do recall, como alguns especialistas dizem, ou do desejo de mudança?
Em 2010 e 2014, a sociedade sinalizou que queria mudança de verdade. Só não aconteceu, porque a eleição foi fraudada pelo abuso do poder econômico, do poder político, e pela corrupção e caixa dois. A eleição de 2014 foi uma fraude, um verdadeiro golpe na democracia brasileira.
A senhora tem convicção de que, desta vez, será eleita?
Estou com muita convicção de que, desta vez, a sociedade não vai ser enganada de novo. Vai prevalecer a sua postura de querer mudar o Brasil.
Há reuniões que tem sido feitas no campo da esquerda pelo PSOL, PT, PCdoB, PDT, e que não contam com a presença da Rede. Como a senhora explica a ausência do seu partido nessas discussões?
A Rede é um partido independente. Quando eu fui para o Partido Verde, já vinha de um processo longo de amadurecimento, de que é possível buscar novas sínteses. Há um movimento no mundo que não fica preso a essa visão simplista de esquerda e de direita. Isso no Brasil já não diz muita coisa. Se a esquerda se juntou com [Paulo] Maluf, Renan [Calheiros], [Fernando] Collor, Jáder Barbalho, [José] Sarney, eu não sei mais o que é esquerda.
Não há a possibilidade, mesmo no segundo turno, de apoiar ou ?rmar aliança com candidato da esquerda?
Eu tenho respeito pelos partidos. Com relação ao segundo turno, a gente discute no segundo turno. Em cima de programa, princípios e valores, a gente pode até fazer alianças pontuais.
A senhora defende o direito de Lula disputar as eleições este ano?
A lei de Ficha Limpa estabelece que ninguém que tenha sido condenado pode participar de eleição. E a lei deve ser aplicada igualmente por todos. Nós não podemos ter uma lei que se adapte a quem está sendo julgado e condenado. É lamentável o que aconteceu no Brasil com figuras importantes de diferentes partidos. Temos que trabalhar para que outras lideranças políticas possam pagar pelos seus erros. O próprio senador Aécio tem que responder à Justiça.
Como a senhora vê as ações do governo com relação a crise dos combustíveis?
O governo dispõe de mecanismo para se antecipar de uma situação como essa. E se eles tiveram que agir depois da situação instalada, por que não tiveram a mesma atitude antes? E mais, o governo não tem credibilidade e legitimidade para negociar com qualquer setor. Além das medidas emergenciais, tem que adotar medidas estruturantes. Nós precisamos de um governo com credibilidade para fazer uma Reforma Tributária.
A senhora já tem um nome para conduzir a economia caso seja eleita?
O André Lara Resende e o Eduardo Giannetti [um dos pais] do Plano Real.
O André toparia voltar a um cargo executivo?
Não. O André fará a elaboração do plano. Nenhum presidente deve divulgar sua equipe antes de ganhar as eleições. Aqueles que fazem isso são tão fracos, que precisam se esconder atrás de uma forte equipe econômica para poder passar alguma credibilidade. Ter um governo que é governado pela equipe econômica dá no que deu: a do Temer é de enfeite. Nós não vamos inventar rótulos. O plano real vai ser mantido.