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"Império dos sentidos", destaca crítica sobre "Esplendor"

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Vetores políticos e morais muito distintos separam, no tempo, na forma e na ironia (embora não no espaço: um Japão de convenções sociais), o cinema pontiagudo de Nagisa Oshima (1932-2013), realizador de “Furyo – Em nome da honra” (1983) e a estética da delicadeza inerente aos lmes de Naomi Kawase, diretora do aclamado “A oresta dos lamentos” (2007). Mas, diante do novo longa-metragem da cineasta, “Esplendor”, laureado em Cannes em 2017 pelo Júri Ecumênico, por sua celebração da caridade e da doação a necessitados, é difícil não lembrar da lição deixada por Oshima a seus conterrâneos e ao mundo: um toque pode ser uma revolução num contexto de esvaziamento das subjetividades. “Hikari” (nome original deste drama de amor) é a potencialização do toque, do afago, do carinho como um idioma de reconguração, de recomeços.

Se em “Império dos sentidos” (1976), Oshima reinventa (e poetiza) a penetração numa mirada revolucionária, politizada, aqui, Naomi conduz a carícia a um grau de transcendência capaz de desaar até os interditos da matéria. É este o aprendizado pelo qual sua protagonista, Misako (Ayame Misaki), uma diretora especializada em produzir versões cinematográcas destinadas a decientes visuais, vai passar diante de uma nova paixão. Numa projeção, ela esbarra com Nakamori (Masatoshi Nagase), fotógrafo fadado a car cego. Às vésperas da cegueira, ele tem um acervo de fotograas raro, que erotiza Misako. Porém, a erotização maior aqui é a chance de construir uma linguagem nova pelo corpo, pelo abraço. 

Apoiada na montagem anada de Tina Baz (de “Olmo e a gaivota”), Naomi esgarça o tempo ao máximo, no enamoramento de Misako pelos olhos de seu amado, gerando sequências de beleza e humanismo. (R.F.)