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Temer refaz agenda, preocupado com depoimento da filha Maristela à PF

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O depoimento de Maristela Temer, marcado para a próxima quinta-feira (3), foi um dos motivos que levou o seu pai, o presidente Michel Temer, a cancelar a viagem de dez dias que faria à Ásia, a partir de sábado. Embora oficialmente o Palácio do Planalto afirme que o cancelamento tenha sido motivado unicamente pela pauta de votações, o presidente estaria preocupado com a repercussão do depoimento aqui no Brasil, por isso, precisaria não se ausentar por tanto tempo. 

“O que podemos dizer é que uma conjunção de fatores impede o presidente de se ausentar. É evidente que o depoimento da filha preocupa. Ainda que não envolvesse o seu próprio nome (do presidente), já preocuparia”, diz um assessor que prefere não se identificar. 

A nota oficial, divulgada ontem pela secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto diz que “o adiamento da viagem do presidente Michel Temer à Ásia se deu unicamente porque, tendo em vista o calendário eleitoral, a ausência do chefe de governo do país, neste momento, obrigaria os presidentes da Câmara e do Senado a também deixarem o território nacional simultaneamente, prejudicando votações importantes ao País”. 

Segundo a Constituição, na ausência do presidente da República, e do vice, os substitutos são, pela ordem, o presidente da Câmara e do Senado. Como tanto o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) quanto o senador Eunicio Oliveira (MDB-CE) pretendem se candidatar em outubro, teriam que também se ausentar do país, pois, segundo a legislação eleitoral, caso eles assumissem a Presidência, estariam impedidos de concorrer nas próximas eleições. 

Segundo a nota do Planalto, a principal preocupação do governo é com o Projeto de Lei do Congresso Nacional (PLN 8/2018) que abre crédito suplementar de R$ 1,16 bilhão para o Fundo de Garantia à Exportação (FGE) para evitar o “default” da Venezuela e Moçambique por garantias oferecidas a exportações nos governos Lula e Dilma. “O inquérito que inclui acusações contra o presidente tem 150 dias e pedido de prorrogação de mais 60, não sendo causa urgente que justifique mudança de agenda. Somente pessoas desinformadas sobre tal circunstância espalhariam versão tão inverossímil”, aponta ainda a nota.

Com toda a preocupação e urgência do governo em aprovar a verba suplementar, somente ontem o PLN, enviado pelo governo na sexta-feira (27) foi incluído na pauta da próxima sessão do Congresso, agendada para esta quarta-feira. 

Será a primeira vez na história do Brasil que a filha de um presidente em exercício de mandato prestará depoimento à Polícia Federal.  Maristela foi convocada por suspeita de ter tido a sua casa reformada com dinheiro de propina paga pela empresa JBS.  Segundo as investigações, os repasses teriam sido feitos pelo coronel João Baptista de Lima, amigo de Temer. 

O alvo da investigação é, na verdade, o próprio presidente Temer, acusado de irregularidades na edição do Decreto dos Portos. A suspeita é de que Temer tenha lavado dinheiro de propina com reformas e compras de imóveis para familiares. 

O presidente também é investigado no inquérito da Lava Jato que apura o pagamento de propina pela Odebrecht aos ministros Eliseu Padilha, da Casa Civil e Moreira Franco, da Secretaria Geral da Presidência. 

Na última sexta-feira, falando à imprensa, Temer chamou de “perseguição criminosa disfarçada de investigação” os vazamentos das investigações.  “Qualquer contador, qualquer pessoa de bem, qualquer professor de matemática consegue concluir que, ao longo do tempo, eu obtive recursos suficientes para comprar os imóveis que comprei e reformar os imóveis que reformei. Só um irresponsável, mal intencionado, ousaria tentar me incriminar, a minha família, minha filha, meu filho, de nove anos de idade, como lavadores de dinheiro”, disse ele aos jornalistas.