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Em posse, Segóvia critica "infeliz e triste disputa" entre PF e Ministério Público

Novo diretor-geral da Polícia Federal pregou o "equilíbrio" e o fim da "vaidade"

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O novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, assumiu o posto nesta segunda-feira (20) afirmando que buscará o “combate incansável à corrupção”. Segóvia enfatizou que a Lava Jato continuará sendo a agenda prioritária da corporação, e criticou a disputa de poder entre a PF e o Ministério Público Federal. “Há uma infeliz e triste situação de disputa institucional de poder entre a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Mas confio muito no espírito de maturidade institucional e profissional dos membros dessas instituições, que neste momento têm a oportunidade de escrever um novo capítulo em sua história, deixando de lado a vaidade e a sede de poder, buscando um equilíbrio e entendimento em nossas ações em prol de toda a nação brasileira, pois o único que se beneficia com essa disputa é o crime organizado”, disse Segóvia.

A cerimônia de transmissão de cargo aconteceu no salão negro do Ministério da Justiça, e contou com as presenças do presidente Michel Temer, do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE),  do ministro da Justiça, Torquato Jardim, e do vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli.

Nos últimos anos, PF e MP protagonizaram episódios de disputa que geraram constrangimentos. Um deles foi na ocasião em que o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot questionou a possibilidade de a PF negociar delações premiadas. Segóvia se referiu a esta queda-de-braço. Para os procuradores, o dispositivo da Lei das Organizações Criminosas (Lei 12.850/2013) que prevê que o delegado possa fazer acordos de delação é inconstitucional.

Durante a cerimônia, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, condenou o que chamou de “ilações especulativas” nas investigações criminais. Ele criticou a convalidação de “imputações sem referências sólidas nos fatos e documentos”.

Evidenciando a divergência com o Ministério Público, Torquato defendeu que é preciso dizer “não à vaidade fruto da ambição ou propósitos ocultos no processo”. “Essas condutas que se desviam da ética agridem mais a sociedade que o próprio indivíduo, porque geram uma dúvida coletiva sobre a isenção da conduta de quem atua em nome do Estado”, completou.

Futuro da PF

Segóvia falou ainda dos questionamentos sobre o futuro da PF: “Nesse vendaval de dúvidas (...), gostaria de reafirmar que a minha postura, como tradição, é de obedecer sempre e estritamente às leis e à Constituição, respeitando os direitos humanos e ao mesmo tempo a independência no cumprimento do meu dever”, discursou, acrescentando: “É nesse espírito de equipe, todos unidos, que buscaremos o combate incansável à corrupção no Brasil, que continuará sendo a agenda prioritária da Polícia Federal, tendo como premissa a continuidade de operações especiais, tais como a Lava Jato, Cui Bono, Cadeia Velha, Lama Asfáltica e tantas outras em andamento nos inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal e nas varas da Justiça.”

O delegado também chamou a atenção para o enfrentamento do crime organizado, especialmente o tráfico de drogas e armas, crimes ambientais e eleitorais. Disse que nas eleições de 2018, a PF terá “papel republicano” e trabalhará com “isenção” na investigação de irregularidades.

O presidente Michel Temer participou da solenidade, mas não fez uso da palavra.

Segóvia recebeu os cumprimentos do ex-diretor-geral, Leandro Daiello, que anunciou sua aposentadoria, publicada na edição de hoje do Diário Oficial da União. Após quase sete anos no comando da PF, Daiello se colocou à disposição de seu sucessor, fez um agradecimento especial aos servidores e destacou o orgulho de ser policial federal.

Troca

Formado em direito pela Universidade de Brasília UnB), Segóvia está há 22 anos na Polícia Federal. Foi superintendente regional no Maranhão e adido policial na África do Sul. Em boa parte de sua carreira, exerceu funções de inteligência nas fronteiras do Brasil.

Leandro Daiello estava no cargo desde 2011, nomeado na gestão do então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e já havia manifestado interesse em deixar o cargo.