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'El País': A ironia bumerangue de Gilmar Mendes sobre o trabalho escravo

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A sociedade já estava indignada com anúncio do governo de Michel Temer em relação à fiscalização e combate ao trabalho escravo, e o ministro do STF e presidente do TSE, Gilmar Mendes, ainda teve a "ideia de tratar do assunto com uma ironia barata", frisa Juan Arias em sua coluna no jornal El País, publicada na noite desta segunda-feira (23). "O que o juiz não entendeu é que a ironia e a sátira compõem um dos gêneros literários mais difíceis e perigosos de se usar. É preciso uma inteligência aguçada para adotá-lo. Caso contrário, ele se transforma, como neste caso, em um bumerangue", frisa o jornalista. 

A declaração de Gilmar Mendes sobre o assunto acabou gerando grandes críticas de todos os lados contra ele. "Eu me submeto a um trabalho exaustivo, mas com prazer, e não considero que isso seja trabalho escravo", disse o ministro, questionando se poderíamos considerar também como trabalho escravo as atividades "dos motoristas dos juízes do Supremo que ficam esperando no subsolo da garagem".

"Gilmar Mendes não entendeu que, desde os gregos até os nossos dias, passando pelos romanos, a sátira deve ser dirigida contra os carrascos e não contra as vítimas. Por isso ela é libertadora", reforça Juan Arias. "Com sua ironia, o magistrado mostrou não entender — ou será que entendeu, sim? — que o que ele estava fazendo era apoiar a flexibilização da legislação contra o trabalho escravo."

Arias continua sua crítica: "Mendes não entendeu que o que ele fez foi ofender não só os milhões de trabalhadores que ainda hoje vivem em situações degradantes, mas também os milhões de trabalhadores comuns, como são aqueles que não têm a sorte, como ele, de trabalhar com algo que 'lhe dá prazer' e, além disso, com uma remuneração elevada, quando se sabe que o trabalho é muitas vezes alienante, burocrático, mal remunerado, que as pessoas aceitam não por gosto ou por prazer, mas porque precisam viver e sustentar uma família. E esse é o caso da grande maioria".

"Muito sangue dos antigos escravos ainda corre nas veias do Brasil, assim como corre muita dor, a dor dos milhões de trabalhadores que, por culpa de gigantesca desigualdade social que castiga o país, se veem obrigados, tantas vezes, a realizar um trabalho que traz consigo as marcas da velha escravidão. Faz sentido fazer humor com eles?", questiona Arias.

>> La ironía bumerán de Gilmar Mendes sobre el trabajo esclavo