ASSINE
search button

'Financial Times': BNDES enfrenta reforma após caso JBS

Jornal fala sobre falhas no sistema de empréstimos governamentais subsidiados

Compartilhar

Quando o banco brasileiro de desenvolvimento, o BNDES, tentou gerenciar o escândalo da JBS, sofreu uma enorme resistência, aponta a matéria publicada pelo Financial Times nesta sexta-feira (1).

Times lembra que Wesley Batista, um dos dois irmãos que dirigem a JBS, maior empresa de proteínas do mundo, admitiu no início deste ano esquema de suborno envolvendo mais de 2.000 políticos. Seu irmão Joesley, entregou gravação incriminando, inclusive, o presidente Michel Temer.

O BNDES, que é o segundo maior acionista da JBS e um dos seus maiores credores, quer processar Batista e removê-lo do conselho, aponta FT.

"Até este momento, não há elementos objetivos, com base em estudos e avaliações profissionais, que concluam que Wesley Batista causou danos à empresa", afirmou a JBS em comunicado.

Para os críticos do BNDES, a disputa destaca as profundas falhas de um sistema enraizado de empréstimos governamentais subsidiados que sustenta a maior economia da América Latina.

O noticiário aponta que o BNDES ajudou a criar a JBS na última década, bombeando R $ 8 bilhões (US $ 2,5 bilhões) em empréstimos e equidade na empresa e ajudando-a a expandir-se para o exterior nos EUA, Austrália e Europa como parte de uma política estadual de criação de campeões nacionais.

Sob diferentes governos do ex-Partido dos Trabalhadores do governo brasileiro, que governou por 13 anos até a ex-presidente Dilma Rousseff ter sido impeachment no ano passado por manipular o orçamento, o BNDES cresceu mais do que o Banco Mundial como o principal fornecedor de financiamento de longo prazo na América Latina Maior economia.

O banco emprestou dinheiro a empresas que vão desde a JBS até as de Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil e um dos acionistas controladores da AB InBev, a maior cervejeira do mundo, com taxas de juros equivalentes a metade da taxa de juros da Selic do banco do banco central. .

"Este grande BNDES que construímos na última década faz parte de uma visão antiga do Brasil que pressupõe que o desenvolvimento requer coordenação governamental, proteção contra a concorrência e subsídios ao investimento privado", disse Marcos Lisboa, diretor-presidente da escola de negócios brasileira Insper.

Financial Times salienta que embora a equipe do banco diga que suas decisões de crédito seguem critérios técnicos rigorosos e se orgulham de suas baixas taxas de inadimplência, os analistas dizem que o BNDES conseguiu escolher os mutuários mais fortes da economia porque estava oferecendo empréstimos baratos. A proporção de empréstimos do BNDES que um grupo recebeu também correspondeu frequentemente ao tamanho de suas doações políticas, segundo estudos.

As pessoas familiarizadas com as práticas do banco dizem que a equipe recebeu generosos bônus anuais de até quatro meses e meio de salário com base no volume de empréstimos que eles puderam fazer. Isso incentivou-os a oferecer mais empréstimos a grandes mutuários, disse um ex-funcionário.

"Alguns deles estavam ganhando R $ 60 mil por emprestar dinheiro na TJLP", disse ele, referindo-se à taxa de empréstimo padrão do BNDES, que atualmente é de 7% em comparação com a taxa Selic de referência de 9,25%. "O salário de um superstar".

Quando Temer assumiu o poder no ano passado, ele nomeou uma gerente respeitada, Maria Silva Bastos Marques, para tentar reformar o BNDES. Mas ela enfrentou resistência de dentro do banco e de lobbies de negócios poderosos por suas tentativas de reprimir o fluxo de crédito barato, disse a pessoa.

"Uma grande quantidade de pressão foi colocada em cima de Maria Silva", disse o ex-funcionário.

Ela foi substituída em maio por Paulo Rabello de Castro, da agência de estatísticas IBGE. Enquanto ele falhou sobre se o banco deveria apertar suas políticas de empréstimos, o governo Temer continuou com tentativas de reformar o banco.

A medida mais importante é mudar a taxa de empréstimos subsidiados padrão do BNDES. Isto é definido aleatoriamente por um órgão essencialmente político, o conselho monetário nacional, liderado pelo ministro das Finanças.

Sob as reformas, a nova taxa de empréstimo, a ser conhecida como o TLP, seria estabelecida com base na taxa de tesouraria de cinco anos, um instrumento baseado no mercado. As mudanças, que devem ser votadas pelo Senado na próxima semana, serão implantadas gradualmente em cinco anos a partir de janeiro.

Isso teria vários benefícios, eliminando o subsídio e permitindo que o setor privado comecesse para oferecer alternativas para financiamento de longo prazo, dizem analistas.

"O banco, provavelmente, se concentrará em infra-estrutura", disse Fabio Giambiagi, superintendente de planejamento e pesquisa do BNDES.

Enquanto o negócio se queixa de que as altas taxas de juros do Brasil tornam os empréstimos do BNDES uma necessidade, os formuladores de políticas dizem que a alta proporção de empréstimos subsidiados pelo Brasil, que compõem metade do sistema bancário, elevam as taxas de mercado. Isso ocorre porque o banco central ao implementar a política monetária para combater a inflação deve compensar o grande fluxo de dinheiro subsidiado barato ao aumentar as taxas de mercado ainda maiores.

"É sempre uma captura 22", disse Ilan Goldfajn, presidente do banco central do Brasil. "Eles dizem que precisamos dos subsídios porque as taxas de juros são altas, mas as taxas de juros são elevadas porque temos todos esses subsídios. Então, precisamos quebrar esse ciclo vicioso ".

> > Financial Times