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Malu Gaspar questiona papel do judiciário nos esquemas de corrupção

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“Apesar do volume e da crueza das revelações dos delatores da Odebrecht, persiste uma enorme lacuna nas centenas de horas de depoimentos judiciais replicados pela imprensa ao longo dos últimos dias”, inicia o artigo publicado na revista piauí desta terça-feira (18), por Malu Gaspar. A jornalista questiona o papel do Judiciário no maior esquema de corrupção do país, no qual ela desdobra: “não faz sentido imaginar que os juízes brasileiros eram exceção”. 

No segundo parágrafo, Malu Gaspar destaca um episodio, em meio a tantos outros delatados: o de que a presidente Dilma Roussef nomeou o desembargador Marcelo Navarro para o Superior Tribunal da Justiça em troca de seu voto em favor da soltura de Marcelo Odebrecht e de Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, que na época também foi preso em Curitiba. A história foi contada em detalhes pelo ex-senador Delcídio do Amaral em delação ao Ministério Público. “Navarro foi nomeado e realmente votou pela libertação. Mas, segundo Delcídio, os outros membros da turma do STJ teriam ficado sabendo do acerto e se rebelado, votando contra”, pontuou o artigo. 

A jornalista afirma que os executivos da empreiteira deveriam ao menos esclarecer se o relato é verdadeiro ou falso. “Proteger os membros do Judiciário é a estratégia óbvia para uma empresa que tem um futuro repleto de pendências a resolver com a Justiça e contempla o sério risco de entrar em recuperação judicial”, acrescentou Malu, que fez, porém, uma ressalva: “Não é razoável, porém, que uma operação com a envergadura e a ambição da Lava Jato aceite esse tipo de omissão”.

Malu ressalta também que os procuradores exigiram que todos os documentos relativos a contratos com escritórios de advocacia feitos pela Odebrecht enquanto durou o esquema de corrupção deveriam se entregues ao MP, algo que incomodou os empresários da empreiteira. “Os investigadores esperam poder identificar, nesses pagamentos, evidências de propinas pagas a juízes por meio de parentes e prepostos. Sabem que, uma vez fechado um acordo, todos estão sujeitos a serem chamados para complementar suas confissões”, explicou o artigo. 

Até então, a jornalista afirma que os procuradores perceberam o jogo da construtora e deixaram rolar. Cita ainda que Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa já estão na fila dos documentos entregues ao MP, “esta dificilmente escapará de revelar como conseguiu sepultar, na Justiça, a Operação Castelo de Areia, que apurava um esquema de corrupção semelhante ao descoberto agora”. E finaliza a cobrança: “Espera-se que a Odebrecht não seja exceção, e que a caixa-preta do Judiciário venha a ser aberta em breve. Mas essa, a Lava Jato ainda está devendo”.