O jornal espanhol El País publicou neste domingo (4) uma matéria onde conta que os brasileiros que se mobilizaram a favor do impeachment de Dilma Rousseff voltaram às ruas de 18 Estados nesta data. Milhares de pessoas, convocadas majoritariamente pelos grupos de direita Vem pra Rua e MBL (Movimento Brasil Livre), se reuniram para protestar contra as mudanças feitas na Câmara no pacote anticorrupção e também para defender as investigações da Operação Lava Jato.
El País relata que o Planalto não foi o alvo dos protestos, mas a volta dos atos de rua daqueles que apoiaram ativamente a chegada de Michel Temer ao poder acende um alerta no Governo Michel Temer. São os aliados cruciais de Temer no Congresso _o presidente do Senado, Renan Calheiros, como vilão da vez, e também o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que estão na mira. O grito de “Fora, Renan” e de "Fora, Maia" foram os mais entoados.
O diário espanhol afirma que a manifestação mais esperada era a de São Paulo, que chegou a abrigar os maiores protestos da democracia brasileira na campanha contra Dilma Rousseff. Dessa vez, a afluência não foi tão expressiva. Cerca de 15 mil pessoas ocuparam a avenida Paulista, segundo a Polícia Militar, não muito diferente dos protestos de movimentos progressistas contra medidas de austeridade do Governo. Vestidos de verde e amarelo, os manifestantes estenderam uma grande com os dizeres “Congresso corrupto”. Dois grandes bonecos, um do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outro de Renan Calheiros, vestidos com roupas de presidiários, foram inflados. Já o boneco do juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, o "Super Moro", era o sucesso de vendas na manifestação na capital paulista. O procurador Deltan Dallagnol, da força-tarefa da operação, também foi uma das figuras homenageadas.
El País acrescenta que no Rio de Janeiro também se concentrou uma das manifestações mais numerosas do país. Compareceram na marcha, em Copacabana, desde ativistas contrários ao aborto até apoiadores de uma intervenção militar, integrados a uma multidão que gritava eufórica o nome de Sergio Moro. “Queremos mais justiça. O maior problema de Brasil é a impunidade. O Congresso tem que aprovar medidas propostas contra a corrupção. As leis nunca são perfeitas, mas é importante que sejam rígidas”, afirmou a comerciante Diniz Tellini, de 46 anos, que foi com a sogra ao protesto no Rio.
Renan Calheiros, o vilão
Em São Paulo, Rogério Chequer, um dos líderes do movimento Vem pra Rua, martelou o discurso anticorrupção, mas fez questão de marcar diferenças. Para ele, as acusações do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, por exemplo, de que Michel Temer o pressionou para que ele favorecesse um negócio imobiliário de interesse direto de outro membro do gabinete, Geddel Vieira Lima, não são motivos suficientes para virar a artilharia para o Planalto e que tudo deveria se concentrar em Renan. Enquanto isso, Kim Kataguiri do MBL (Movimento Brasil livre), confessou que o ato na Av. Paulista foi maior que o imaginado, e que, caso o Senado não vete as modificações das 10 medidas contra a corrupção e a lei de abuso de autoridade, o movimento voltará para as ruas no próximo domingo. O MBL estimou que 200 mil pessoas participaram do protesto deste domingo.
O esclarecimento público de que não era "Fora, Temer" deve ter sido ouvido com alento na cúpula do Governo - uma minoria presente na Av. Paulista carregava placas escritas "Fora Temer", como o caso do consultor de empresas Alonso Soler, que chamou o Governo atual de "golpista"-, mas não dissipa os problemas imediatos de Temer. O presidente, com baixíssima popularidade e em meio a uma arrastada recessão, precisa conciliar alguma resposta à opinião pública sem queimar as pontes com sua base no Congresso. Tanto Temer como Renan e a assessoria da Câmara divulgaram notas protocolares saudando os valores democráticos das manifestações, mas os planos do Senado e Câmara não incluem, por ora, atender os anseios dos que foram às ruas.