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'El País': Lava Jato faz denúncia ousada e acusa Lula de chefe da “propinocracia”

Jornal  afirma que procuradores se irritaram quando questionados se ação era política

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O jornal espanhol El país publicou uma matéria nesta quinta-feira 915) sobre a denuncia da procuradoria contra Lula, o ex-presidente do Brasil pertencente ao Partido dos Trabalhadores, sucessor de Dilma Rousseff. Durante quase três horas de entrevista coletiva com demonstração de slides e organogramas que colocavam Lula no centro de todos os desvios da Petrobras, os procuradores fizeram uma perspectiva histórica do caso “petrolão” e tentaram reescrever a história do “mensalão”.

Segundo a reportagem do El País a tese da “propinocracia” visava explicar todo o esquema de corrupção na Petrobras, onde estimativas apontam que foram desviados 6 bilhões de reais desde 2003. Nesta linha, boa parte da diretoria da estatal responsabilizada pelos desvios só estava nos cargos porque obtiveram apoio do PT, PMDB e PP, desde que desviassem recursos para essas legendas e seus dirigentes. Tudo sob as bênçãos do então presidente Lula. Essas mesmas irregularidades, segundo os procuradores, se espalharam para outros órgãos estatais como a Eletrobrás, a Caixa Econômica Federal e para os ministérios da Saúde e do Planejamento. 

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El País conta que a todo momento, o procurador Deltan Dallagnol ressaltou que o poder de decisão era de Lula e que não havia como ele negar desconhecimento dos crimes ocorridos na estatal petroleira. Para corroborar suas acusações, o procurador disse se basear em afirmações dadas por acusados que firmaram acordos de colaboração com a Justiça, como o ex-senador Delcídio do Amaral e o ex-diretor da Petrobras Néstor Cerveró. O chefe da força-tarefa, apontou 12 pessoas que eram próximas a Lula na época do “mensalão” e acabaram sendo investigadas também pela Lava Jato. 

O jornal espanhol afirma que na midiática apresentação aos jornalistas, os procuradores se irritaram quando questionados se a ação deles era política. Afirmaram que essa tese é uma teoria da conspiração que teria de envolver mais de 300 agentes de órgãos como Polícia Federal, Receita Federal, Controladoria Geral da União e o Ministério Público. Disseram também que não denunciaram Lula por integrar uma organização criminosa porque este caso ainda estaria sob análise do Supremo Tribunal Federal. Uma das razões para essa apuração específica estar na maior esfera judicial brasileira seria a presença de políticos que ainda tem prerrogativa de foro, como deputados federais, senadores, governadores e ministros. O ex-presidente, sem cargo público, não tem esse privilégio.

El País acrescenta que a denúncia foi mais um duro golpe para Lula e o PT, em meio à campanha pelas eleições municipais e após o impeachment de Dilma Rousseff. A defesa de Lula já anunciou que irá à ONU para denunciar o que considera parcialidade dos procuradores e do juiz Sérgio Moro. 

“A denúncia em si perdeu-se em meio ao deplorável espetáculo de verborragia da manifestação da Força Tarefa da Lava Jato. O MPF elegeu Lula como “maestro de uma organização criminosa”, mas “esqueceu” do principal: a apresentação de provas dos crimes imputados. “Quem tinha poder?” Resposta: Lula. Logo, era o “comandante máximo” da “propinocracia” brasileira. Um novo país nasceu hoje sob a batuta de Deltan Dallagnol e, neste país, ser amigo e ter aliados políticos é crime”, diz trecho da nota dos advogados.

Os defensores afirmaram ainda que o casal Lula não é proprietário do apartamento do Guarujá alvo da denúncia. Explicaram que, quando o prédio estava sendo construído, Marisa Letícia chegou a adquirir cotas de um dos apartamentos do edifício, mas jamais exerceram o direito efetivo de compra dele. Para se defender, diz que a mulher do ex-presidente entrou com uma ação judicial para ser ressarcida dos mais de 200.000 reais que gastou neste bem.

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