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'The New Yorker': O Brasil após Dilma Rousseff

Reportagem fala que impeachment levanta dúvidas sobre sua legalidade até na oposição

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Nesta sexta-feira (2) a revista The New Yorker publicou uma matéria sobre “o Brasil após Dilma Rousseff". Desde a última quarta-feira (31) Dilma Rousseff não é mais presidente do Brasil. Seu processo de impeachment vem causando protestos nas maiores capitais do país, enquanto Michel Temer agora assume a faixa presidencial e tenta dar uma guinada à direita na política nacional. 

Segundo a reportagem a maioria dos brasileiros queria Dilma Rousseff fora, mas poucos no país parecem compreender totalmente os fundamentos técnicos para o seu impeachment: ela foi condenada por violar as leis orçamentais, decretando gastos menores sem a aprovação do Congresso e atrasando os pagamentos aos bancos estatais. Na prática, o processo de impeachment serviu como um voto de desconfiança a uma presidente que liderou o país na sua maior recessão em décadas. 

> > The New Yorker

The New Yorker diz que o Partido dos Trabalhadores, de esquerda, também havia sido implicado em um esquema de corrupção envolvendo bilhões de dólares em campanhas políticas e contas bancárias offshore durante os seus treze anos no poder. A ironia aqui é que muitos dos legisladores que votaram a favor do impeachment de Dilma são também suspeitos no esquema.

O jornal norte-americano fala sobre a defesa apresentada por Dilma no Senado nesta semana. Se descrevendo como uma trágica heroína que lutava pelos pobres, Dilma Rousseff escancarou pragmaticamente que seu próprio partido estabeleceu esquemas corruptos no Brasil. Ela também subestimou a gravidade de suas manobras orçamentais, que cobriam-se um déficit escancarado, enquanto tentava a reeleição em 2014, em uma campanha supostamente financiada com o dinheiro do suborno.

The New Yorker acrescenta que mesmo assim, de acordo com uma pesquisa, apenas quarenta e nove por cento dos brasileiros acreditam que o processo de impeachment obedeceu as normas constitucionais. Isso contrasta fortemente com o amplo consenso por trás do último impeachment, em 1992, quando Fernando Collor de Mello foi retirado do cargo em meio a alegações de enriquecimento pessoal. Mais tarde, ele retornou à vida política, como senador, e esta semana ele votou pelo impeachment - um toque típico de Dilma na política brasileira.

The New Yorker destaca que a própria Dilma Rousseff não foi acusada de enriquecimento pessoal durante seu mandato, e até mesmo alguns de seus adversários têm levantado dúvidas sobre a base jurídica para a sua remoção. Logo após o julgamento, Acir Gurgacz, um senador que tinha acabado de votar pelo impeachment Rousseff, admitiu que ele não acreditava que seus truques orçamentais pudessem ser considerados 'crimes de responsabilidade'. Ao invés disso, justificou sua decisão citando sua incapacidade para governar o país, o que não é tecnicamente um delito passível de impeachment. As coisas ainda ficaram mais confusas. 

Os senadores votaram separadamente na quarta-feira por não proibir Dilma de disputar qualquer cargo público por oito anos, como o artigo da Constituição sobre impeachment parece exigir, e como aconteceu com Collor, finaliza o The New Yorker