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Terrorismo: Especialista questiona acesso do governo em Whatsapp de suspeitos

Ministro da Justiça disse que serviço de inteligência teve acesso a troca de mensagens

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Nesta quinta-feira (21), a Polícia Federal cumpriu dez mandados de prisão na Operação Hashtag, contra um grupo de brasileiros que estava planejando ações terroristas durante a realização dos Jogos Olímpicos, no Rio. De acordo com as informações do ministro da Justiça, Alexandre Moraes, o serviço de inteligência teve acesso a conversas em aplicativos de troca de mensagens instantâneas como o Whatsapp e o Telegram. Porém, o Jornal do Brasil conversou com a especialista em mídias sociais, Patrícia Andrade Ladeira, que questionou a declaração do ministro, alegando ser impossível ter acesso às conversas devido a medida de segurança existente no Whatsapp, conhecida como criptografia.

“Na última terça-feira (19), a Justiça pediu o bloqueio do whatsapp alegando que eles se negaram a quebrar o sigilo de pessoas suspeitas, porém, não existe uma maneira do aplicativo fazer isso, pois nem eles próprios conseguem acessar as conversas. Existe uma forma de segurança chamada criptografia, usada no Whatsapp. O que a criptografia faz, é basicamente embaralhar nossas conversas e criar códigos para que outras pessoas não consigam entender sobre o que se trata a conversa. Não existe uma maneira de burlar essa medida de segurança”, comentou Patrícia.

A especialista comenta também que, nem mesmo seria possível grampear as conversas realizadas através do serviço de ligação do Whatsapp, feita através de uma tecnologia chamada VoIP.

“É muito diferente, por exemplo, do telefone normal, onde você pode instalar um grampo e ter acesso às conversas da pessoa grampeada. No caso desse tipo de mensagem chamada VOIP, não existe uma maneira de grampear as conversas”, explicou.

Durante entrevista coletiva, o ministro informou que os indivíduos estavam sendo monitorados desde abril pela Polícia Federal, e que, apenas dois deles tinham contato pessoal, e ambos já haviam sido condenados há seis anos de prisão por homicídio.

"Eu venho reiterando que nós estamos monitorando vários indivíduos, vários que somente têm acesso ao site do Estado Islâmico... A partir do momento que isso transborda, que isso passa para atos preparatórios, é necessário uma ação mais pontual, mais drástica." Disse Moraes.

Segundo a esposa de um dos presos, ele não possuía o aplicativo Telegram instalado em seu celular, apenas o Whatsapp, e, que os únicos grupos com relação com o islã que ele participava eram os grupos de estudos da língua árabe. Idioma que era lecionado pelo suspeito através de vídeos no youtube, e que ele usava os grupos para tirar dúvidas dos alunos.

Patrícia lembrou que, antigamente, quando as conversas eram feitas através do MSN era possível quebrar o sigilo das mensagens pois havia uma maneira de salvar o histórico de conversas e ter acesso através de outros computadores, o que não é possível com os celulares.

“Antigamente, quando as pessoas usavam o MSN, essa situação até poderia acontecer pois era possível salvar um histórico de mensagens entre computadores, e através de outro computador era possível rastrear a troca de mensagens. Mas a comunicação realizada por smartphones ainda não tem como fazer isso”. Encerrou a especialista.

Questionado sobre a possibilidade de investigar os suspeitos por meio das conversas criptografadas do WhatsApp e do Telegram, o ministro não quis responder. "Pelo amor de Deus", ele se limitou a comentar.