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Cachoeira e Cavendish: velhos personagens, novas acusações

Operação Saqueador, deflagrada nesta quinta, aponta desvio de R$ 370 milhões dos cofres públicos

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A operação da Polícia Federal deflagrada nesta quinta-feira (30), contra o desvio de verbas públicas e lavagem de dinheiro no valor de R$ 370 milhões em esquemas de contratos com empresas de fachada, traz à tona personagens que já protagonizaram escândalos de corrupção num passado recente: Carlinhos Cachoeira e Fernando Cavendish novamente estão nas manchetes em acusações de irregularidades. 

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As investigações da Operação Saqueador destacam que entre 2007 e 2012, nada menos que 96% do faturamento da então empreiteira de Fernando Cavendish, a Delta, veio de verba pública - R$ 11 bilhões. Neste período, Sérgio Cabral, amigo de Cavendish, governava o Rio de Janeiro. Os dois aparecem também em outros supostos casos que apontariam favorecimento à Delta em obras públicas. As ligações entre Cabral e Cavendish vieram à tona no episódio do acidente de helicóptero em 2011, na Praia de Trancoso. Na aeronave estava a namorada do filho de Cabral, a estudante Mariana Fernandes Noleto, de 22 anos, além da mulher do empresário Fernando Cavendish.

O grupo de amigos do governador Sérgio Cabral e do empresário Fernando Cavendish saiu do Aeroporto Internacional de Porto Seguro e tinha como destino um hotel de luxo em Trancoso, onde acontecia a festa de aniversário de Cavendish. O acidente tomou proporções para além da esfera criminal e revelou as estreitas ligações entre Cabral e Cavendish.

>> Queda de helicóptero na Bahia: Justiça deve arquivar processo 

Jornal do Brasil entrou em contato com a assessoria de Sérgio Cabral nesta quinta-feira (29) para que o ex-governador comentasse a nova denúncia envolvendo Fernando Cavendish e Carlinhos Cachoeira. A assessoria de comunicação informou, no entanto, que Cabral não vai se pronunciar.

Recentes depoimentos de ex-executivos da construtora Andrade Gutierrez investigados pela Operação Lava Jato também dão conta de suposto pagamento de propina Sérgio Cabral em obras envolvendo a Delta. Na reforma do Maracanã, segundo os empreiteiros, mesmo antes da licitação já se sabia que o vencedor seria o consórcio formado pelas empreiteiras Odebrecht e Delta.

>> Ex-executivos da Andrade Gutierrez dizem ter pago propina a Sérgio Cabral

Em 2012, Carlinhos Cachoeira foi preso pela Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo, que desarticulou a organização que explorava máquinas de caça-níquel no Estado de Goiás por 17 anos. Escutas acabaram atingindo o então senador Demóstenes Torres (DEM-GO), em conversas sobre dinheiro supostamente fruto de propina. Indiretamente, as investigações da PF atingiram também as administrações dos governos de Agnelo Queiroz (PT-DF) e Marconi Perillo (PSDB-GO). Desdobramentos da Monte Carlo acertaram também a Delta. A empreiteira havia recebido R$ 2,9 bilhões da União e R$ 1,4 bilhão do governo do estado do Rio de Janeiro desde 2007. De acordo com gravações da Polícia Federal, Cachoeira teria envolvimento direto com a Delta, agindo como lobista da empresa junto a agentes públicos.

>> Com blindagem da Alerj, Sérgio Cabral evitou investigação da Delta no Rio

Ainda em 2012, fotos de Sérgio Cabral e secretários do seu governo numa confraternização com o empresário Fernando Cavendish vazaram na internet. Nas imagens, todas em Paris, eles aparecem em momentos descontraídos, reforçando a proximidade do governador com o empreiteiro, então dono da Delta. 

>> Fotos de festa com Sérgio Cabral e Cavendish em Paris vazam na internet

Saqueador

Na Operação Saqueador, deflagrada nessa quinta-feira, investigadores apontam que além de estarem envolvidas empresas de fachada e serviços que não era executados, foram feitos repasses, por exemplo, de R$ 80 milhões para uma obra inexistente chamada Transposição do Rio Turvo, no Rio.

As empresas dos empresários Adir Assad e Marcelo Abbud - também alvos de pedidos de prisão - emitiam notas frias não só para a Delta, mas para muitas outras empresas. De acordo com as investigações, o esquema também serviu de suporte à corrupção na Petrobras.

CPI

A Polícia Federal destaca ainda que o trabalho teve origem  a partir do envio de documentação pela Comissão Mista Parlamentar de Inquérito instaurada no ano de 2012 para investigar organização criminosa que atuava no Estado de Goiás.

Nesta CPI, o voto de três de cinco membros do PSDB ajudaram a livraram Sérgio Cabral da convocação para falar sobre suas relações com a Delta, que teria Carlinhos Cachoeira como sócio oculto. No total, foram 17 votos contra a convocação de Cabral e 11 a favor.

Votaram pela não convocação de Cabral o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) e o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), próximo do governador mineiro Antonio Anastasia e do senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Também votaram contra a convocação do então governador os senadores José Pimentel (PT/CE), Humberto Costa (PT/PE), Lídice da Mata (PSB/BA), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Vital do Rêgo (PMDB/PB), Sérgio Souza (PMDB/PR), Ciro Nogueira (PP/PI), Vicentinho Alves (PR/TO); e os deputados Odair Cunha (PT/MG), Luiz Sérgio (PT/RJ), Íris Araújo (PMDB/GO), Luiz Pitiman (PMDB/DF), Gladson Cameli (PP/AC), Delegado Protógenes (PCdoB/SP).