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Por 11 votos a 9, Conselho de Ética aprova parecer que pede a cassação de Cunha 

Tia Eron votou a favor do parecer, que agora vai a plenário da Câmara

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Após longos debates e muita expectativa na sessão do Conselho de Ética, nesta terça-feira (14), os deputados aprovaram, por 11 votos a nove, o parecer que pede a cassação do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por falta de decoro. A deputada Tia Eron (PRB-BA), cujo voto seria decisivo para que não houvesse empate, votou a favor do parecer.

Os deputados acataram o parecer do deputado Marcos Rogério (DEM-RO) que afirma que Cunha quebrou o decoro ao mentir sobre ter contas no exterior durante depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras.

Agora o processo contra Cunha precisa ser analisado em plenário. Para que Cunha tenha o mandato cassado, é preciso pelo menos 257 votos, a maioria absoluta dos 513 deputados.

“Em relação à minha consciência é nela que moram os valores e reside a verdade. O meu partido, quando foi colocado no imaginário balcão onde a chantagem seria a moeda de troca, o PRB, lá não se trocam cargos. Nossa política é diferente. Em função disso, eu votei pela admissibilidade do processo de impeachment. Fui hostilizada até pelas mulheres. De todo modo, meus pares, eu não posso aqui absolver o representado nessa tarde. Eu não posso. Eu voto sim”, disse a deputada Tia Eron ao declarar o voto, sendo aplaudida por deputados.

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O voto do deputado Waldimir Costa (SD-PA) surpreendeu. Ele também votou a favor da cassação, apesar de ter se manifestado abertamente contra a perda do mandato. O deputado do Solidariedade chegou a discursar em defesa de Cunha na sessão desta terça, chamando-o de homem “honrado”. Surpreendia o olhar desanimado, durante a votação, do deputado Julio Lopes (PP-RJ).

Segundo o relator, Cunha é o dono de pelo menos quatro contas na Suíça: Köpek; Triumph SP, Orion SP e Netherton. Ao pedir a cassação de Cunha, Rogério disse que as contas são verdadeiros “laranjas de luxo”. “Estamos diante do maior escândalo que este colegiado já julgou, não se trata apenas de omissão, de mentira, mas de uma trama para mascarar a evasão de divisas, a fraude fiscal", disse Rogério. “Estamos diante de uma fraude, de uma simulação de empresas de papel, de laranjas de luxo criadas para esconder a existência de contas no exterior”, acrescentou.

Cunha nega a propriedade das contas, mas admitiu ter o usufruto de ativos geridos por trustes estrangeiros.

O processo de Cunha no Conselho de Ética é considerado o mais longo no colegiado e foi marcado por inúmeras manobras que protelaram a decisão dessa terça-feira. A representação contra Cunha foi entregue pelo PSOL e Rede à Mesa Diretora da Câmara, no dia 13 de outubro de 2015. A Mesa, comandada por Cunha, levou o prazo máximo de 14 dias para realizar a tarefa de numerar a representação e enviá-la ao Conselho de Ética, o que retardou o início dos trabalhos do colegiado. O processo só foi instaurado quase um mês depois da representação, em 3 de novembro de 2015.

Voto em separado

O deputado Marcos Rogério (DEM-RO) afirmou, durante a sessão, que não havia como concordar com o voto em separado apresentado pelo deputado José Carlos Bacelar (PTN-BA), que pede a suspensão do mandato de Cunha por 90 dias.

Rogério afirmou que mantinha, na íntegra, seu relatório apresentado pela cassação do mandato do deputado Eduardo Cunha por quebra de decoro parlamentar.

“Em termos técnicos, os trustes criados são empresas de papel, de laranjas de luxo, que nada afasta o deputado de se utilizar de engenharia financeira e dissimular recebimento de propina. Creio que a única sanção aplicável é a perda do mandado”, reafirmou.

Para Marcos Rogério, a legislação é clara na obrigatoriedade de declaração de propriedade de bens e de qualquer direito sobre eles, inclusive no Imposto de Renda a ser entregue à Câmara dos Deputados.

O advogado de defesa de Cunha, Marcelo Nobre, afirmou que as 90 páginas do relatório de Marcos Rogério não apresentam provas. “Eu não preciso de 90 páginas, preciso de uma linha: cadê o número da conta, do nome do banco e em nome dele [de Cunha]. Cadê a conta?” enfatizou.

Nobre reafirmou o que dizia desde o início da representação: de que o processo é natimorto. A defesa destacou que os delatores que vieram ao Conselho de Ética não confirmaram a existência de conta no exterior em nome de Eduardo Cunha. “Delator não faz prova. O juiz Moro condenou o delator que falou e não provou. E esses delatores terão que provar. Vossas excelências já estão provando?”, questionou.

Veja como votou cada deputado:

>> A favor da cassação

Marcos Rogério (DEM-RO), relator do processo

Sandro Alex (PSD-PR)

Paulo Azi (DEM-BA)

Júlio Delgado (PSB-MG)

Nelson Marchezan (PSDB-RS)

Zé Geraldo (PT-PA)

Betinho Gomes (PSDB-PE)

Valmir Prascidelli (PT-SP)

Leo de Brito (PT-AC)

Tia Eron (PRB-BA)

Wladimir Costa (SD-PA)

>> Contra a cassação

Alberto Filho (PMDB-MA)

André Fufuca (PP-MA)

Mauro Lopes (PMDB-MG)

Nelson Meurer (PP-PR)

Sérgio Moraes (PTB-RS)

Washington Reis (PMDB-RJ)

João Carlos Bacelar (PR-BA)

Laerte Bessa (PR-DF)

Wellington Roberto (PR-PB)