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"Impeachment é forma de encobrir o golpe" diz José Eduardo Cardozo ao 'Página 12'

O ex-ministro da Justiça fala sobre sua defesa contra o impeachment da presidente Dilma

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Nesta segunda-feira (30) o jornal argentino Página 12 traz uma entrevista exclusiva com José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça Cardozo, responsável pela defesa da presidente do Brasil Dilma Rousseff, que está sofrendo um processo de impeachment. 

"Vamos defender a nossa tese de que o impeachment é um disfarce para o golpe porque ele é inválido, desde o início pelas ações do deputado afastado Eduardo Cunha, que o recebeu em dezembro, e com a agravante de fitas recentes de conversas onde Romero Juca comprova  a conspiração dizendo que deve tirar a presidente para conter as investigações de corrupção. Era evidente a razão para o golpe ", afirma Cardozo.

O jornal Página 12 conta que a conversa de quase uma hora com José Eduardo Cardozo em seu gabinete em Brasília foi entre livros de direito, papéis, uma lata de Coca Zero, e um computador onde escreve a defesa "do destino da democracia", como ele trata o assunto.

P.Como provar que a presidente foi afastada pela oposição por um golpe?

R. Não vai ser fácil, mas é possível porque nossos pontos de vista legais são indestrutíveis e estão ganhando cada vez mais suporte. Durante meses fomos julgados culpados, mas agora todo mundo percebe que essa tese está correta, é algo compartilhado pela imprensa internacional.

P. Mas esta unanimidade a favor da presidente Dilma não se repete no Brasil.

R. Eu diria que uma parte da sociedade brasileira não acredita que isso seja possível, mas o partido considera que houve um golpe de Estado. Um ditado brasileiro diz que "água mole sobre pedra dura tanto bate até que fura". Acho que as pessoas finalmente entenderam.

P. Os senadores vão votar pelo interesse público ou político?

R. Votam por razões políticas e precisamente por isso que eu acho que é possível reverter a situação, porque eles começaram a ver a incoerência deste governo com alta rejeição. Eles também ouviram as fitas de Romero Jucá, e Jucá é muito próximo a Temer. Mais uma vez, eu acho é possível reverter a posição de alguns senadores. Vamos continuar a lutar para que a presidente volte.

P. Qual é a sua crítica ao PT?

R. Eu acho que a minha crítica é a alguns membros que foram levados a cometer ações que não condizem com a ideologia do PT. Um partido de esquerda que defende a transformação, não pode ser complacente quando algum companheiro violar a ética. O partido deve ser difícil para aqueles que querem burlar o sistema político brasileiro. Temos de agir com rigor contra esses casos, sempre atrás deles. O PT precisa ter essa postura para qualquer ovelha negra que queira contaminar o restante com atitudes que coloquem em dúvida a idoneidade do partido. 

P. O PT continua sendo um partido de esquerda?

R. Eu diria que o PT é um partido de centro-esquerda. Um partido que age de forma madura, sem dogmas, mas precisamos revitalizar a alma do partido, que não pode ser limitada a uma burocracia partidária.

Lula

P. Há setores que querem proibir legalmente Lula?

R. Eu não tenho nenhuma dúvida de que Lula é um perigo para os setores da direita autoritária brasileira, da mesma forma que o PT é um perigo para esses setores. Se eles puderem eliminar os dois, fariam, gostariam mesmo de terminar o jogo. O PT tem um papel importante a desempenhar na realidade brasileira.