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Fernando Collor: "A história me reservou este momento"

"Chegamos ao ápice de todas as crises, às ruínas de um governo, de um pais"

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Por volta das 23 horas desta quarta-feira (11), coube ao senador e ex-presidente Fernando Collor fazer seu pronunciamento durante a sessão no Senado para aprovação da admissibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Suas palavras eram aguardadas com curiosidade justamente pelo fato de Collor ter sofrido impeachment em 1992. Ele falou em "governo em ruínas", disse que se colocou à disposição para dar conselhos, e que coube à história reservar a ele este momento. Contudo, terminou seu discurso sem deixar claro qual seria seu voto.

"Ruínas de um governo. Este é o título de uma obra clássica de Rui Barbosa, de 1931. Crises são sintomas de um estado mais profundo de uma crise moral. Em 1992, esse trecho foi utilizado por Barbosa Lima Sobrinho na denúncia que apresentou contra mim", iniciou seu discurso Collor.

"Chegamos ao ápice de todas as crises, às ruínas de um governo, de um pais. Não discutimos crimes comuns, a este a Constituição reserva o juízo do STF. Ao Senado cabem as denúncias de crime de responsabilidade", acrescentou, para depois comparar os dois processos: "O parecer atual possui 128 páginas. O mesmo, em 1992, elaborado a toque de caixa, continha meia página e dois parágrafos. (...) Me utilizei de advogados particulares, dois anos depois fui absolvido no STF, não houve crime. Mesmo assim, perdi mandato e não recebi qualquer tipo de reparação. Pelo contrário. Recorri para reaver os direitos políticos." 

Collor prosseguiu: "O maior crime de responsabilidade está na irresponsabilidade, no desleixo pela política. Déficits fiscais e orçamentários, aparelhamento desenfreado do Estado. (...) Não foi por falta de aviso. Fui a diversos interlocutores da presidente em problemas que eu antevia, dos erros na economia, na excessiva intervenção estatal, renúncias fiscais e do diálogo com o parlamento. Sugeri que fosse à TV pedir desculpas pelos erros, alertei sobre possibilidade de impeachment, mas não me escutaram. Coloquei-me à disposição, ouvidos de mercador..." 

Parlamentarismo

Collor criticou o atual sistema de governo: "Não há mais como sustentar um sistema anacrônico. Até 2011, com Lula, nenhum presidente da República transmitiu o cargo ao seu sucessor com as mesmas regras da sucessão anterior. Suicídios, renúncias, impedimentos. Não há como recuperar esse modelo de coalizão que envergonha a classe política, formar um número salvador simplesmente somando zeros, os partidos precisam formular políticas", disse, complementando: "A historia me reservou este momento. Regredimos no agir da política. Seja qual for o resultado de hoje, o atual processo de impeachment é aplainar o passado para decantar o futuro."