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André Esteves: sua meteórica trajetória e suas ligações com o poder

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O banqueiro André Esteves, preso na última quarta-feira (25) no âmbito das investigações da Lava Jato, é dono de uma fortuna estimada em US$ 2,5 bilhões, e considerado pela revista Forbes o 62° homem mais rico do mundo e 13° do Brasil.

A meteórica trajetória de Esteves se iniciou em 1989, quando começou a trabalhar no então banco Pactual. Apenas quatro anos depois, André Esteves já havia se tornado sócio da empresa e em 2002 assumiu a presidência, cargo que ocupou até a última quarta-feira, quando foi preso pela Polícia Federal.

O banco Pactual foi construído por Luiz Cesar Fernandes. No seu apogeu, esta instituição financeira fez inúmeras fusões e aquisições, como quando a Lacta foi vendida para a maior empresa de comestíveis dos EUA. Comprou a companhia de energia do Espírito Santo, fez avançadas negociações com a Florida Power, entre outras. Luiz Cesar foi a cabeça do Pactual na década de 80. 

Homens que Luiz Cesar criou o apunhalaram pelas costas, fazendo com que negócios feitos por ele fossem vistos como individuais, e não do banco. Isso fez com que Luis Cesar fosse afastado do banco, sendo encarado quase como devedor. 

Muitos desses que o apunhalaram sofrem. Um está fugido, por sonegação fiscal no Brasil, e vive em Londres. Outros não devem olhar para Luis Cesar com os olhos abertos.

No ano de 2008, André Esteves deixou o então banco Pactual para fundar a BTG, uma empresa de investimentos. 

A grande sacada de André Esteves aconteceu em 2009, quando ele junto com um grupo de sócios efetuou a compra de um banco que ele próprio havia vendido três anos antes ao grupo suíço UBS. Na época, em 2006, Esteves vendeu o banco por US$ 3,1 bilhões e recomprou por quase US$ 2,5 bilhões. Poucos dias após o fechamento do negócio o banco reabriu com o nome de BTG Pactual.  

Apenas em 2011, o BTG Pactual obteve um rendimento líquido de R$ 1,9 bilhão, um valor 18,8% superior ao lucro de 2010.

Cutolo

Nos quadros do BTG Pactual, um dos personagens proeminentes é Sergio Cutolo, que foi presidente da Caixa Econômica Federal no governo Fernando Henrique Cardoso. Cutolo ganhou evidência quando Antônio Brito, então Ministro da Previdência (1992), lhe concedeu a Secretaria Executiva do ministério. Quando Antonio Brito se elegeu governador Rio Grande do Sul, assumiu o Ministério da Previdência Social (1993). Depois, assumiu a presidência da Caixa Econômica no primeiro Governo FHC, respondendo ao Ministério do Planejamento.

Em janeiro de 1999 deixou a Presidência da Caixa da Econômica Federal e assumiu a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano, respondendo à Presidência da República. A pasta cuidaria de habitação, saneamento e transporte de massa.

Na crise do mercado financeiro de 2002, Cutolo foi peça fundamental para que o Pactual não sofresse impactos e não desaparecesse do cenário econômico.

PanAmericano

Segundo matéria publicada pelo jornal Valor Econômico, em outubro de 2010 o TCU iniciou uma investigação sobre a compra do banco PanAmericano pelo BTG Pactual. O BTG Pactual concluiu a compra da instituição financeira em maio de 2011, após ter sido descoberto um rombo de R$ 4,3 bi no balanço do PanAmericano. Na época, foi anunciado que o BTG pagaria R$ 450 milhões pela parte que pertencia ao Grupo Silvio Santos no PanAmericano.

Antes disso, em dezembro de 2009, a Caixa Econômica Federal havia realizado a compra de 49% do capital do PanAmericano por R$ 739,2 milhões. O Banco Central aprovou a aquisição em julho de 2010. Apesar das denúncias de fraudes no PanAmericano, a Caixa continuou como um dos acionistas no comando da instituição.

Jatinho

O Estado de S. Paulo noticiou que, em 2012, André Esteves teve seu jatinho particular apreendido pela Polícia Federal durante as investigações da Operação Pouso Forçado. A apreensão foi feita após suposta irregularidade no uso da aeronave em território brasileiro. Na ocasião, o juiz citou "fortes indícios de negócio jurídico simulado com o objetivo de ocultar a real intenção de utilização no Brasil." De acordo com o Estadão, ao citar André Esteves e Marcelo Kalim, amparado nas informações da PF, o juiz escreveu: "A aeronave prefixo N450FK, que tem como operadora a Fenway Aviation LLC, seria na verdade de Marcelo Kalim e André Santos Esteves, já que o avião passou 70% do período analisado no Brasil, tendo os mesmos como passageiros frequentes."

África

Em janeiro deste ano, o jornal Valor Econômico publicou reportagem relatando os negócios do BTG Pactual na África. Segundo o Valor, em julho de 2014, o TCU abriu investigação sobre as supostas irregularidades na venda de 50% dos ativos da Petrobras na África para o BTG. O negócio foi fechado em US$ 1,5 bi. Segundo o Valor, há uma suspeita de que o valor efetivo dos ativos seja bem superior. Os ativos que foram investigados são referentes a participações acionárias em blocos de exploração na África, em países como Nigéria, Tanzânia, Angola, Benin, Gabão e Namíbia.

De acordo com o Valor, a transação foi finalizada apenas em julho de 2013, mas teve início bem antes, em fevereiro de 2012, antes mesmo da posse de Graça Foster na presidência da Petrobras. Os técnicos estimavam que esses ativos pudessem gerar um lucro de US$ 7 bilhões. O banco inglês Standard Chartered foi contratado para fazer um leilão desses ativos, que foram avaliados pela instituição britânica em US$ 4,5 bilhões, que depois foi reduzida para US$3,05 bilhões.

Devido ao grande lucro do BTG, o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA) comparou a aquisição desses ativos com a transação da compra da refinaria de Pasadena. A denúncia do deputado foi o que motivou o TCU a abrir investigação contra a operação.

Entre outras acusações, o jornal britânico Financial Times cita ainda que André Esteves teria supostamente tentado encobrir pagamento de propinas para o ex-presidente Fernando Collor.

Após o anúncio da prisão de André Esteves, as ações do banco BTG Pactual tiveram uma queda de 39%, o que fez a revista Forbes estimar que Esteves teve um prejuízo de quase R$ 2 bilhões. A Agência Moody’s anunciou que a classificação de crédito da empresa corre riscos de sofrer rebaixamentos.