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Cientista político afirma que modelo atual de presidencialismo se esgotou

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Com mais de 40 anos acompanhando o cenário político em Brasília, o cientista político e professor da UnB David Fleischer disse, em entrevista ao jornal "Valor Econômico" desta terça-feira (20), que o presidencialismo de coalizão não se sustenta mais. Segundo ele, para que a presidente Dilma Rousseff conseguisse consenso com a base, o ideal seria que existisse aproximadamente 10 partidos, e não os 35 atuais.

"Estamos com 35 partidos aprovados para funcionar e temos 22 ou 23 partidos no Congresso. Eu faço parte de uma das correntes de opinião, na ciência política, de que a governabilidade é o mais importante, e isso quer dizer nove, dez, 11 partidos no máximo", afirma Fleischer, para quem "esse modelo já se esgotou".

Sua tese sobre o fim do presidencialismo de coalizão é explicada pelo fato de que é "extremamente difícil" para o chefe do Executivo "manter uma coalizão de 13, 14, 15 partidos a fim de poder ter maioria constitucional". O cientista político propõe uma saída:

"A maneira mais fácil de fazer é proibir coligação nas eleições proporcionais para deputados. E também, se for o caso, adotar uma cláusula de barreira. Talvez não dê 5% mas de 2% ou 3% dos votos válidos. Isso eliminaria todos os partidos nanicos e alguns dos partidos médios e pequenos. Esse seria o expediente para melhorar um pouco", observa ele.

Para Fleischer, a presidente Dilma é vítima das estratégias de seu governo, mas, sobretudo, do sistema atual de coalizão, que tem dificuldade em agradar tantos partidos que compõem sua base aliada. "Ela é vítima desse sistema sim. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também teve alguns problemas com esse sistema. Foi assim que ele perdeu a CPMF em 2007 no Senado. Não tinha maioria constitucional no Senado. Tanto que ele foi a campo, em 2010, e conseguiu derrotar cinco ou seis senadores do PSDB e do PFL. Mas a Dilma é vítima dos próprios erros dela, especialmente no primeiro mandato", argumenta o cientista político, acrescentando que Dilma "não quis ouvir ninguém, (foi) muito autônoma e independente, nem sugestões de Lula quis ouvir".

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