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'Não vou renunciar a meu mandato, vou persistir', diz Cunha a jornal

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Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, descarta categoricamente a hipótese de renúncia: "Esquece. Vou persistir. (...) Eu estou sendo execrado por uma divulgação seletiva, vazada de forma criminosa, para tentar me constranger, como sempre", afirma. 

Cunha enfrenta acusações a respeito de supostas contas na Suíça, mas segue negando sua existência. "Eu divulguei uma nota oficial em que reiterei o meu depoimento à CPI da Petrobras. Ponto." [Cunha afirmou na comissão, em março, que não tem contas no exterior].

Na entrevista, peemedebista diz achar "engraçado" que parlamentares que "pedem o benefício da dúvida para eles" agora tentem afastá-lo da presidência da Câmara. "Isso é fascismo", diz, acrescentando que não vai cair na armadilha de alimentar esta discussão. "Eu não vou tratar de especulações. A cada dia aparece uma história diferente."

À Folha, Cunha destacou que seu mandato só pode ser alterado se ele renunciar. "E eu não vou renunciar. Não existe impeachment de presidente da Câmara. Aqui [um afastamento] é só sob meu juízo próprio", afirmou, complementando que já foi réu e, um ano depois, foi inocentado por unanimidade. "Eu tenho direito à presunção da inocência, ela tem que valer para todos. O meu direito está sendo atropelado. Há uma seletividade. A minha pergunta é a seguinte: depois de um ano e oito meses de investigação, 39 inquéritos abertos, quem com foro, do PT ou do governo, está denunciado como eu? Tem alguém? Por que esse açodamento comigo? Obviamente há uma escolha."

Cunha também nega que o PSDB defenderá o seu afastamento caso as denúncias se comprovem. "Eles têm direito de ter um posicionamento. Mas não há a menor possibilidade de alterarem o meu. Não vou admitir ser colocado em xeque em função de problemas políticos de quem quer que seja."

O presidente da Câmara também negou que a oposição tenha ido à sua casa discutir o impeachment. "Todas as noites eu recebo deputados, tanto os que são radicalmente a favor do impeachment quanto os que são radicalmente contra. Desminto isso categoricamente. Senão fica parecendo que estou fazendo algum tipo de conspiração", afirmou, negando que esteja trabalhando pelo impeachment. "Só tenho duas opções: aceitar ou rejeitar os pedidos de impeachment.(...) Qual foi o presidente da Casa que deixou na gaveta um pedido de impeachment? Tem um livro aqui com o registro de todos os pedidos de impeachment [contra outros presidentes]. Não tem um caso que ficou na gaveta. Então eu não tenho esse direito. Tenho obrigação funcional. E vou cumprir a minha obrigação. Ninguém pode me cobrar por não botar [os pedidos] na gaveta, por não usar um subterfúgio. Se eu fizesse isso, diriam que o governo me comprou."

Cunha negou que esteja combinando articulações com a oposição. "Apesar das minhas divergências com o governo, não tem uma declaração minha a favor do impeachment. Eu sempre digo que ele não pode ser um recurso eleitoral. E até agora não houve representação que juridicamente apontasse fato que poderia ser enquadrado como impedimento, um crime cometido no mandato", afirmou, acrescentando que pretende passar o fim de semana debruçado sobre o pedido de impeachment dos juristas Helio Bicudo e Miguel Reale Junior.

O presidente da Câmara comentou ainda as derrotas do governo mesmo após a reforma ministerial. "A reforma ministerial teve um ponto positivo, que foi a retomada, pelo núcleo majoritário do PT, da articulação política e do Palácio do Planalto. No resto, foi inócua. Dos dez ministros, sete só trocaram de pasta e apenas três são novos. Não teve reforma. Não alterou nada. Quem era contra, continua contra. Quem era a favor continua a favor. Partidos que não participaram do processo ficaram revoltados. No PMDB, a disputa interna foi acirrada desnecessariamente. Mas o problema é um pouco maior. O governo não entende que conquistar a maioria não significa só dar cargo. É necessário discutir as políticas públicas. E as decisões continuam centralizadas."

Cunha também criticou a postura do ministro da Fazenda, Joaquim Levy: "O Levy não veio aqui para nos escutar. Ele veio tentar nos doutrinar. Alguém [do governo] nos perguntou se seria conveniente relançar a CPMF? Nunca. Alguém discutiu previamente com a gente as propostas de ajuste fiscal, os cortes nas emendas impositivas? Que iam fazer e acontecer? É um desastre o que foi feito", disse, acrescentando: "Esse ajuste é uma brincadeira. O governo fala que está cortando R$ 26 bilhões mas na verdade só cortou R$ 2 bilhões. Destes, R$ 200 milhões vêm da redução de ministérios. Eu, só de despesa com hora extra, em uma canetada aqui, economizei R$ 80 milhões. Estão fingindo que cortam. E querem passar a conta para o aumento de impostos, sem discutir que a retração da economia está fazendo com que a arrecadação caia. Como já disse o Renan [Calheiros, presidente do Senado], é como o cachorro mordendo o próprio rabo.

O presidente da Câmara reforçou que tem profundas divergências na forma da condução da economia. "Essa história de que você só coloca o pessimismo, só coloca o pessimismo, gera uma tragédia. O país parou. A revolta é muito grande, com empresas fechando, empregos sendo perdidos. A palavra ajuste virou quase que um palavrão. A presidente sofre derrotas no Congresso, no TCU e no STF e será investigada pelo TSE. Imaginando que o impeachment não prospere, o que se pode esperar? Um governo que se arrasta por três anos, em recessão profunda? Se não mudar, é isso. Eu acho que não tem nada que não seja solucionável. E, ao mesmo tempo, tudo pode ser um problema. É aquela velha história do sujeito com um passarinho que fecha a mão e pergunta ao sábio se o passarinho está vivo ou morto. E o sábio diz: está nas suas mãos."

>> Confira na íntegra a entrevista