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"Profeta", andarilho que vivia na USP é encontrado morto 

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Um idoso que vivia há anos no campus da Universidade de São Paulo (USP) no Butantã, na zona oeste da capital, foi encontrado morto na manhã desta quarta-feira em uma área próxima ao Conjunto Residencial da USP (Crusp). Funcionários da USP disseram que o homem, identificado apenas como João, se formou em letras na universidade no final dos anos 70 e chegou a dar aulas na rede estadual de ensino durante o governo Mário Covas (PSDB).

O corpo foi encontrado por volta das 9h por mulheres de uma empresa terceirizada de limpeza e, de acordo com a Polícia Militar, não apresentava sinais de violência – a suspeita é de morte por causas naturais. Testemunhas disseram que João, também chamado de “profeta”, “Matusalém” e “Antônio Conselheiro”, participou de uma festa realizada na noite de ontem no campus e teria sido visto pela última vez por volta das 5:30 de hoje.

“Ele não usava drogas, mas bebia muito”, contou uma funcionária do departamento de Filosofia que não quis se identificar e, no início, mostrou resistência em passar informações. “Ele era tão avesso a essas coisas (exposição) que acho que não ia gostar que a gente falasse sobre ele.”Questionada sobre o que teria levado João a viver como andarilho, a funcionária disse acreditar em “opção”. “Coisa de quem não se adaptou”, disse. “Era uma pessoa maravilhosa, conhecia muito bem diversos assuntos, e não superficialmente, lia muito, tinha uma memória ótima.”

A polícia disse que João aparentava ter 65 anos de idade, mas os amigos dizem acreditar que ele tinha menos de 60. De acordo com um representante da Associação de Moradores do Crusp, que também não quis se identificar, João já não se alimentava direito e andava muito fraco. “Acredito que por falta de dinheiro. Mas às vezes ele cozinhava em cozinhas do Crusp, o pessoal emprestava panela para ele”, disse o morador, que afirmou que tentaria entrar em contato com a família de João.

Repercussão 

Estudantes da USP já comentam a morte do “profeta” nas redes sociais: “Um cabeludo magro que sempre andava pela FFLCH. Ora lendo, ora chapando. Acho uma bosta que o cara tenha atingido esse ponto e morrido assim... praticamente sozinho, mendigando”, disse um  estudante de letras em um grupo no Facebook.

“Foi logo de manhã, bem cedinho... estava passando umas 9h30/10h e estava o corpo, uma faixa de ‘segurança’ e um plástico laminado sobre o corpo. Não dava pra saber mais nada, não tinha mais ninguém e todos passavam como se nada tivesse acontecido”, disse outro aluno, no mesmo grupo.

A morte de João acontece durante a maior greve pela qual passa a USP, iniciada no dia 27 de maio. Professores, funcionários e estudantes resolveram parar após a oferta de reajuste zero apresentada pelo Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp).