Em artigo publicado pelo El País, o jornalista Fernando Mello, ganhador do premio de reportagem em profundidade da Sociedade Interamericana de Imprensa analisa a tendência no Brasil e na América Latina de organizações civis seriam uma solução para a mudança política e social tão falada nesses lugares.
O jornalista inicia o artigo comentando que, nas ultimas três décadas, a sociedade civil se converteu em sinônimo de salvação para os problemas econômicos . “Desde os protestos da praça Tahrir, as mães da praça de maio e a Marina Silva, a nova candidata a presidência do Brasil, que não crê nos partidos tradicionais e sim em sua rede que pretende unir as melhores pessoas de cada grupo político”.
Mello destaca que no centro desse debate está a ideia de que existe um vínculo direto entre vida em sociedade, democracia e um bom governo. A sociedade civil tem surgido como resposta para a cobrança de eficiência dos governos e o combate a corrupção na América Latina e no Brasil. Apoiado nessa crença que a XIII Marcha Contra a Corrupção e pela vida no Piauí, estado brasileiro que concentra 11 das 50 cidades mais pobres do país, segue prestando serviços importantes de conscientização e cobrança por serviços públicos melhores.
A ideia é simples: voluntários de Teresina, capital do estado, junto com os moradores de Teresina e de outros estados, avaliam a responsabilidades dos municípios do interior, enviados para os conselhos municipais. O grupo coleta informações sobre órgãos públicos locais, escolas, postos de saúde e obras públicas e comparam com a realidade do local. Além de ajudar as pessoas a se informarem sobre a lei de acesso a informação no Brasil, o grupo realiza auditorias sobre diversos serviços públicos e levam os dados coletados para o Ministério Público Federal. O movimento passou a ter o apoio da Transparência Internacional e deve se expandir para outros estados.
O evento final em cada uma das cidades é um encontro na praça central, com a apresentação de fotografias de lugares visitados e documentos recolhidos. Quando não há paredes de igrejas ou escolas disponíveis, é preciso improvisar. Nestes casos, uma folha pendurado de uma árvore para servir como uma tela. A reunião é chamada de "cidadania classe."
O artigo destaca essa iniciativa e a importância desses grupos de voluntários que surgem no interior do país e que estão dando um primeiro passo importante para a fiscalização do poder publico pela sociedade. No artigo, o jornalista afirma que essas iniciativas devem ser replicadas, mas que devem manter uma ligação com as instituições para monitorá-los de fato. No entanto, ressalta o artigo, essas iniciativas não devem ser “confundidas com uma solução mágica para substituir a política ou o próprio Estado”. É necessário que haja uma interação entre o Estado e essas organizações, e que essa construção de laços leva tempo.